Argamassa projetada aumenta produtividade e qualidade do revestimento
A aplicação fica mais uniforme, o que aumenta a eficácia da aderência
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
A utilização de argamassa projetada aumenta a produtividade e a qualidade final de uma obra. De acordo com informações da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), enquanto um profissional leva um dia para aplicar manualmente o revestimento em uma superfície de 14 m², com o sistema racionalizado ele cobre, no mesmo período, uma área de 29 m². “Com a mecanização dos processos, especialmente no transporte da argamassa dentro do canteiro, é possível obter ganhos expressivos no tempo gasto para a conclusão dos serviços e atender com folga o cronograma”, afirma a engenheira Glécia Vieira, gerente de Edificações da ABCP.
A qualidade do revestimento é, contudo, a principal vantagem do sistema de argamassa projetada, pois a aplicação fica mais uniforme, o que aumenta a eficácia da aderência. Além disso, o uso de produtos industrializados permite controle muito mais eficiente de materiais, contribuindo com a sustentabilidade. A mecanização possibilita canteiros mais limpos, com menos interferência, o que facilita as operações de controle, tanto no recebimento dos materiais quanto na execução da obra.
Para a gerente da ABCP, outros fatores que contam a favor da argamassa projetada são: menor número de profissionais envolvidos e redução do retrabalho. A saúde dos trabalhadores também é beneficiada com o sistema mecanizado, já que o processo contribui para a queda do absenteísmo decorrente do esforço despendido pelos operários no trabalho.
PRODUTO INDUSTRIALIZADO E ESPECÍFICO
Com a mecanização dos processos, especialmente no transporte da argamassa dentro do canteiro, é possível obter ganhos expressivos no tempo gasto para a conclusão dos serviços e atender com folga o cronogramaGlécia Vieira
O emprego da técnica requer, contudo, argamassas com propriedades diferentes. “Independentemente do tipo de sistema de projeção e do equipamento utilizado, a argamassa deve ser, obrigatoriamente, industrializada e específica para projeção”, adverte a engenheira Elza Nakakura, consultora da ABCP.
O fornecimento da argamassa industrializada é feito em sacos, preferencialmente em pallets, ou a granel, com armazenamento em silos instalados em locais estratégicos dentro do canteiro. “As argamassas aplicadas por projeção mecânica têm ajuste nas propriedades reológicas (maneira como os materiais se deformam quando submetidos à ação de uma tensão), aos equipamentos empregados e às condições de operação e exposição do produto ao longo dos anos”, explica Nakakura.
EQUIPAMENTOS PARA BOMBEAR ARGAMASSA
Existem diferentes sistemas de argamassa projetada. Basicamente, a tecnologia é constituída por equipamentos misturadores para o preparo da argamassa e bombas para o transporte e a aplicação. Segundo Vieira, a tipologia dos equipamentos de projeção fundamenta-se em dois princípios: pistão e rotor/extrator. O pistão é um equipamento mais robusto, com alcance vertical e horizontal. Seu manuseio necessita de dois operadores qualificados e, além disso, sua manutenção é mais específica. Já o rotor/extrator é um equipamento leve, compacto e fácil de ser transportado na obra. São necessários dois profissionais para sua operação e ele possibilita a projeção na horizontal e na vertical.
Independentemente do tipo de sistema de projeção e do equipamento utilizado, a argamassa deve ser obrigatoriamente industrializada e específica para projeçãoElza Nakakura
Há empresas especializadas na aplicação da argamassa projetada, porém muitas construtoras optam pelo uso de mão de obra própria. “Essa equipe pode ser treinada na aplicação e operação do equipamento”, diz Vieira.
SISTEMAS DISPONÍVEIS
Atualmente, há três sistemas de projeção disponíveis no mercado nacional. O primeiro deles é a central misturadora fixa, na qual a argamassa é fornecida a granel ou em saco, e a central misturadora (silo, misturador e bomba) é posicionada no andar térreo. O transporte vertical e horizontal é realizado por mangotes rígidos e flexíveis, podendo alcançar até 90 m na horizontal e 60 m na vertical.
A segunda opção é a central misturadora portátil com material ensacado, em que a argamassa é fornecida em sacos, e a central misturadora – misturador e bomba – é posicionada no andar em que será utilizada. Há necessidade de transporte vertical do material ensacado até o pavimento da central de mistura. "O bombeamento pode alcançar de 30 a 40 m na vertical e 60 m na horizontal, conforme o equipamento e a própria argamassa”, explica Vieira.
A terceira alternativa é a central misturadora portátil com abastecimento por bombeamento via seca, equipamento em que a argamassa é fornecida a granel. O transporte vertical e horizontal da argamassa anidra/seca é realizado por mangotes flexíveis com bomba de ar comprimido até o misturador; seu alcance, por sua vez, é de até 60 m na horizontal e 30 m na vertical. A central misturadora é posicionada no andar em que será utilizada, e o bombeamento também pode alcançar de 30 a 40 m na vertical e 60 m na horizontal, dependendo do equipamento e da própria argamassa.
É bom saberAs construtoras brasileiras atravessaram nos últimos anos um momento singular com aumento na carteira de empreendimentos, cronogramas apertados, qualificação de mão de obra, maior exigência de qualidade e complexidade de gestão. “Essas condições geraram, em todas as etapas da obra, necessidade de racionalização e otimização dos serviços, e a argamassa projetada veio ao encontro dessas necessidades", comenta Vieira. A engenheira menciona, ainda, que uma pesquisa realizada em 2014 pela E8 Inteligência com 436 construtoras no Brasil apontou que 12,4% delas aplicam argamassa projetada no revestimento externo e 14,2% aplicam no revestimento interno.
Visando disseminar essa técnica pelo Brasil, em 2011, a Comunidade da Construção, composta por entidades e empresas do setor, criou o projeto Argamassa Projetada, que reúne fornecedores de argamassa e equipamentos com o objetivo de fomentar a utilização do sistema. Um dos resultados do trabalho desse grupo é o Manual de Argamassa Projetada, que está disponível no site www.comunidadedaconstrucao.com.br.
Colaboraram para esta matéria
- Glécia Vieira – engenheira civil pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com pós-graduação em Inteligência de Mercado pela Fundação Instituto de Pesquisa (FIA) e especialização em Marketing pela ESPM. Tem sólida experiência em planejamento estratégico e desenvolvimento de mercado para produtos da construção civil. Atualmente, ocupa o cargo de gerente de edificações na Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).
- Elza Nakakura – graduada em Tecnologia em Construção Civil – Modalidade Edifício pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp). Tem graduação em Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), graduação em Engenharia Química pela Faculdade Oswaldo Cruz – Escola Superior de Química Oswaldo Cruz e mestrado em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo (USP). É especialista em argamassas e consultora da ABCP.