Belo Horizonte é eleita a capital nacional da Hora do Planeta
Cidade mineira explora diferentes soluções sustentáveis, como usina solar fotovoltaica instalada na cobertura do Mineirão e mais de três mil edificações equipadas com painéis de energia solar térmica
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Anualmente organizada pela rede WWF – Fundo Mundial para a Natureza –, a ‘Hora do Planeta’ é uma ação simbólica, em que pessoas de todo o mundo apagam as luzes elétricas durante uma hora para demonstrar a preocupação em relação ao aquecimento global. Nos últimos dois anos, a iniciativa foi ampliada com a criação da ‘Hora do Planeta: O Desafio das Cidades’, premiação concedida aos centros urbanos que adotam medidas visando o desenvolvimento sustentável. A edição de 2014, primeira com a participação de metrópoles brasileiras, contou com a inscrição de 163 cidades de 13 países – destas, apenas 33 foram selecionadas para a fase final. Representando o Brasil, participaram Belo Horizonte (MG), Betim (MG), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo (SP), Sorocaba (SP), Porto Alegre (RS), Manaus (AM) e Fortaleza (CE). Das concorrentes nacionais, as capitais mineira, paulista e carioca foram as finalistas.
Um júri internacional analisou os dados enviados por cada participante, além das ações e compromissos relatados pelas cidades. Após essas avaliações, Belo Horizonte foi indicada como líder em ações de sustentabilidade no Brasil e eleita a ‘Capital Nacional da Hora do Planeta’.
A cidade tem o título de capital nacional da energia solar porque há cerca de três mil edificações que utilizam equipamentos para aquecimento da água através da energia solar. São 923 mil m² em placas instaladas. Essa é uma iniciativa que se desenvolveu de forma inédita, já que a cidade não conta com nenhuma legislação nesse sentido
De acordo com o parecer técnico do júri, Belo Horizonte "apresenta uma estratégia de baixo carbono integrada, guiada por uma visão forte e construída através de ações concretas". Entre os exemplos citados para a vitória da capital mineira está a usina solar fotovoltaica instalada na cobertura do estádio Mineirão, e o fato de a energia solar térmica ter se desenvolvido de forma adequada na cidade.
Além do reconhecimento nacional, Belo Horizonte também foi classificada para concorrer à premiação de ‘Capital Global’, título que ficou com a Cidade do Cabo, na África do Sul. “A escolha por Belo Horizonte aconteceu muito em função das ações desenvolvidas no quesito de eficiência energética”, explica a arquiteta Anna Maria Louzada, secretária Executiva do Comitê Municipal sobre Mudanças Climáticas e Ecoeficiência – CMMCE, que coordenou a candidatura da cidade.
POR QUE BELO HORIZONTE?
Segundo Anna Maria, entre os diferenciais sustentáveis da metrópole, é possível destacar o fato de Belo Horizonte ser considerada referência na aplicação do coletor solar para aquecimento de água. “A cidade tem o título de capital nacional da energia solar porque há cerca de três mil edificações que utilizam equipamentos para aquecimento da água através da energia solar. São 923 mil m² em placas instaladas. Essa é uma iniciativa que se desenvolveu de forma inédita, já que a cidade não conta com nenhuma legislação nesse sentido”, afirma a arquiteta, lembrando que a medida foi impulsionada quando há alguns anos a Cemig - Companhia Energética de Minas Gerais - desenvolveu um projeto piloto, instalando essa tecnologia em 100 prédios na cidade. “A partir disso, muitas construtoras se interessaram por essa solução e diferentes indústrias fabricantes do coletor solar se instalaram na região metropolitana de Belo Horizonte”, ressalta.
A sinalização semafórica de Belo Horizonte também é pensada para ser energeticamente eficiente. 100% dos sinais de trânsito usam a tecnologia LED, que reduz em até 84% o gasto de energia. Temos agora um estudo em desenvolvido que apontará se é possível substituir as lâmpadas de vapor de mercúrio utilizadas na iluminação pública pelas de LED
Outro exemplo é a usina solar fotovoltaica localizada na cobertura do estádio Mineirão, que gera a energia utilizada na arena esportiva e o excedente é transportado para a rede de distribuição da Cemig. “A sinalização semafórica de Belo Horizonte também é pensada para ser energeticamente eficiente. 100% dos sinais de trânsito usam a tecnologia LED, que reduz em até 84% o gasto de energia. Temos agora um estudo em desenvolvido que apontará se é possível substituir as lâmpadas de vapor de mercúrio utilizadas na iluminação pública pelas de LED”, destaca Anna Maria. A capital mineira conta ainda com uma central de aproveitamento energético do biogás, instalada no antigo aterro sanitário da BR-040. “Essa usina termoelétrica transforma o gás metano em energia suficiente para abastecer uma cidade do tamanho de Ouro Preto, com 100 mil habitantes”, complementa.
BH SUSTENTÁVEL
Iniciativa que também merece destaque é a criação do selo ‘BH Sustentável’, certificação ambiental concedida aos empreendimentos que adotam medidas para reduzir o consumo de água e energia, reciclagem de resíduos sólidos e diminuição na emissão de gases de efeito estufa. “Essa certificação é concedida pela prefeitura com base em auditoria de empresa especializada, que foi selecionada através de licitação. Não há custo nenhum para quem pretende conseguir a certificação, pois todas as despesas são arcadas pelo poder municipal. Atualmente, já são 23 empreendimentos certificados e na internet é possível realizar simulações antes de enviar o projeto para ser auditado”, detalha a profissional.
A preocupação com o meio ambiente não é uma novidade em Belo Horizonte, já que desde 1993 a cidade é associada ao Iclei - Local Governments for Sustainability -, órgão internacional que reúne governos de todo o mundo que buscam o desenvolvimento sustentável. “Atualmente, Belo Horizonte é uma cidade satélite do Iclei, ou seja, uma capital de boas práticas. Além disso, dentro do Plano de Redução de Emissões de Gases de Efeito Estufa – PREGEE municipal, a cidade propõe um conjunto de iniciativas para adaptação do ambiente às mudanças climáticas, apoiando o investimento em energias renováveis. Nossas ações, entretanto, são muito maiores. O PREGEE foi concluído em maio de 2013 e tem como meta reduzir as emissões de gases de efeito estufa em 20% até o ano de 2030. Para isso, um conjunto de iniciativas colabora para a adaptação do ambiente às mudanças climáticas. Ações que abrangem transporte, energia, construções sustentáveis, uso do solo, saúde e educação ambiental”, finaliza Anna Maria.
Colaborou para esta matéria
- Anna Maria Louzada Drummond Nogueira – Arquiteta, formada pela Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais – EA-UFMG. Funcionária da Prefeitura de Belo Horizonte desde 1984, já desempenhou várias funções técnicas e de direção, nas áreas de planejamento, projeto, licenciamento e obras. Atualmente é Secretária Executiva do Comitê Municipal sobre Mudanças Climáticas e Ecoeficiência-CMMCE.