Caminhões sobrecarregados colocam rodovias em risco
Além de estarem mais expostos a acidentes, caminhões com excesso de carga têm 50% da vida útil reduzida
O excesso de peso no transporte de cargas é um dos maiores responsáveis pelo desgaste dos caminhões, dos pneus, maior consumo de combustível, além de causar prejuízos à conservação ao asfalto rodoviário. Segundo o DNIT (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), um caminhão com 50% de excesso de carga causa 10 vezes mais danos ao pavimento do que se estivesse com o peso normal.
“O excesso de carga, além de provocar sérios acidentes, chega a reduzir em até 50% a vida útil dos caminhões e seus componentes”, confirma o diretor da Mult Rental, Arthur Vieira. “Mesmo assim, caminhões continuam transportando peso acima do permitido, principalmente no carregamento de granito, areia, madeira e grãos. A fiscalização ainda é muito precária”, alerta.
Ele notou que as balanças instaladas nas rodovias do estado da Bahia estão fora de operação, mas elas aferem o peso legal e não o técnico de um veículo. “O peso técnico informado pelo fabricante dá uma pequena margem adicional de capacidade de carga apenas para informar que o veículo tem estrutura para suportar um pequeno excesso em algumas situações, porém essa margem não é tolerada nas balanças”, explica.
Na prática funciona assim: quando você compra um caminhão “truckado” ou traçado (6x4) de 6 mil quilos no eixo dianteiro e 17 mil quilos nos dois traseiros, ao passar na balança esse veículo deve pesar carregado até 23 mil quilos, ou seja, o peso do caminhão com o basculante ou outro implemento.
Riscos dobrados de acidentes
Um veículo com sobrecarga não consegue frear com eficiência, porque o sistema de frenagem é dimensionado para conter o peso técnico estipulado pelo fabricante. Todo caminhão tem freio de serviço e motor, com três a quatro estágios. Motoristas devem utilizá-los conforme é recomendado pelo manual de fábrica.
Estudos feitos pelo Instituto Militar de Engenharia em parceria com o Ministério dos Transportes apontam que o Brasil perde anualmente R$ 1,5 bilhão devido ao sobrepeso das cargas de muitos caminhões. “Na Bahia, a maior parte do material transportado que segue as normas e especificações são de combustível e produtos químicos, cargas líquidas e perigosas normalmente lacradas no local onde são carregadas”, explica Waldemir Rodrigues, diretor da Laimaq.
Ainda de acordo com o DNIT, o prejuízo do asfalto é exponencial em relação ao peso excedente, isto é, o asfalto sente mais com a sobrecarga que o caminhão – 10% de excesso de peso não é igual a 10% a mais de desgaste do pavimento, as consequências são menores. Dependendo do tipo de asfalto, o prejuízo deve ser elevado da 3ª à 6ª potência. Uma sobrecarga de 7,5% aumenta em 34% o desgaste do pavimento, reduzindo em ¼ sua vida útil. O pavimento das rodovias brasileiras é projetado para durar entre oito e dez anos. Se muitos caminhões trafegarem com 7,5% de excesso de peso, a duração se reduz para, no máximo, de seis a sete anos.
Peso correto, produtividade a longo prazo
O motorista é o único responsável pela maneira adequada e econômica de dirigir um caminhão. Cabe a ele extrair todas as possibilidades que o veículo oferece, sempre atento às condições de rentabilidade que influenciam na durabilidade do equipamento.
Dirigir economicamente, de forma segura e protegendo o meio ambiente faz parte de uma nova filosofia de trabalho a qual o motorista deve colocar em prática, antes mesmo de sentar-se ao volante. Veículos evoluem, motores tornam-se mais potentes, econômicos e menos poluentes, a eletrônica facilita desde a transmissão até os freios. O profissional do volante deve ser enxergado pelos proprietários como um agente que pode ajudar o empresário ou então de contribuir pelo prejuízo mensal de sua operação.
“A falta de preenchimento diário de um checklist de uso de veículo, não fazer em dia as revisões periódicas recomendadas pelo fabricante e deixar de drenar o filtro separador de água fazem um veículo parar na motorização”, informa o gerente de serviços da Divepe Caminhões, Ivan Luis da Silveira. “Muitas pessoas não observam as mangueiras gerais e intercooler, o sistema de arrefecimento, desconhecem as leituras e simbologias do painel de instrumento, além de estarem desprovidos de conhecimento sobre o sistema elétrico (motor de partida/ alternador/ bateria).”
As operações irregulares, além da sobrecarga, também podem fazer um caminhão ter problemas no sistema de câmbio, como não saber utilizar adequadamente o sistema de modulação (engates e marchas), as reduções de 1ª a 4ª e a chamada “5ª louca”, ou até mesmo sair com o veículo em caixa alta. “Já o sistema diferencial pode parar se não for feito um acompanhamento constante dos desgastes dos pneus se forem utilizados pneus diferentes em tamanhos e desenhos no conjunto de eixos traseiros e se não for empregado o bloqueio em piso irregular que ocasiona patinação”, alerta Siveira.
Waldemir Rodrigues, da Laimaq, dá algumas recomendações para que os veículos se mantenham sempre em boa performance. Ele realiza lubrificação constante dos eixos e utiliza óleo diesel de boa preferência. “O peso da carga deve ser sempre o regulamentado pelos fabricantes e implementadores e o motorista deve observar sempre o piso do local de trabalho ou de trânsito que o veículo vai operar e saber das retorções que poderão ocorrer durante o serviço”, observa.
Outros pontos negativos que devem ser evitados, de acordo com Waldemir, são os trancos no veículo nas operações de descarregamento, o sobregiro do motor quando se utiliza as curvas e limites para troca das marchas, as paradas bruscas em lombadas e quebra-molas. “O motorista não pode apoiar os pés no pedal de embreagem para não comprometer vida útil do disco, nem ficar com a mão apoiada na alavanca de câmbio. Embora muitas dessas recomendações pareçam chatices dos proprietários das frotas, elas são essenciais para a conservação dos equipamentos no trabalho diário”, diz Waldemir.
Colaboraram para esta matéria
Waldemir Rodrigues - Diretor da Laimaq
Arthur Vieira - Diretor da Mult Rental
Ivan Luis da Silveira - Gerente da Divepe Caminhões