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Como especificar e executar pisos industriais?

Projetistas devem conhecer o tipo do terreno, as características de uso da área, o nível de agressividade química e os equipamentos de transporte que vão atuar sobre o piso

Publicado em: 28/11/2017Atualizado em: 06/02/2018

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

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As características dos pisos industriais variam conforme as necessidades de cada área (Bluskystudio/Shutterstock.com)

O piso industrial é mais do que um componente da construção, exercendo a função de equipamento de logística ou fabril. O bom projeto resulta em um produto econômico e com desempenho compatível com a sua utilização.

“O ideal é que o projeto seja contratado pelo usuário final. Assim, ficará protegido de alterações e ‘otimizações’ conduzidas por profissionais que desconhecem a importância do piso industrial”, alerta o engenheiro Públio Penna Firme Rodrigues, diretor técnico da LPE Engenharia.

PROJETO

O projetista deve analisar os dados da geologia do terreno, o tipo da instalação e as características de utilização da área. Por exemplo, uma área de armazenamento de produtos alimentícios industrializados apresenta condições sanitárias diferentes daquela que vai ser empregada para estoque de produtos eletrônicos.

Deve, também, estudar os recursos existentes na região onde o piso será instalado, considerando as particularidades em projeto. Um piso projetado para Manaus, onde há pouca oferta de agregados, terá particularidades distintas de outro, que será construído em São Paulo. “Cabe ao projetista, ainda, compreender as necessidades do cliente final e transmitir essas informações para a construtora e o executor do piso”, diz o especialista.

O dimensionamento impacta não apenas a segurança dos equipamentos que o piso receberá, como também a sua durabilidade
Públio Penna Firme Rodrigues

“O dimensionamento impacta não apenas a segurança dos equipamentos que o piso receberá, como também a sua durabilidade”, informa Rodrigues. Esses fatores norteiam a análise que o projetista fará do terreno e sua capacidade de suporte. A partir daí, ele especifica o tipo de fundação.

“A fundação poderá ser direta ou profunda (piso estaqueado), sendo esta última opção para terrenos de baixa qualidade de suporte”, diz. O projeto estabelece, também, as características do reforço estrutural que será empregado, em função de adequabilidade, custo, recursos e disponibilidade no local da obra.

CARACTERÍSTICAS

Os tipos de uso do piso vão gerar informações e decisões projetuais diferentes. De acordo com Rodrigues, quando projetado para área de depósito, é essencial verificar os equipamentos de transporte que vão circular, como empilhadeira, transelevadores ou outros. No caso de o piso servir a uma área fabril, as informações são o tipo de atividade, grau de agressividade ao concreto e equipamentos que vão atuar sobre o piso, entre outros dados.

EXIGÊNCIAS

No caso de ataques químicos, deverá ser previsto o uso de revestimento de alto desempenho (RAD), com tipo definido pelo tipo de agressividade química presente
Públio Penna Firme Rodrigues

A resistência do piso deve responder não apenas às cargas atuantes, mas também às solicitações abrasivas, provendo a superfície do piso de recursos que permitam adequá-lo ao uso. “No caso de ataques químicos, deverá ser previsto o uso de revestimento de alto desempenho (RAD), com tipo definido pelo tipo de agressividade química presente”, lembra.

É preciso que o piso tenha juntas bem projetadas e no menor número possível, para assegurar baixo custo de manutenção. Elas devem ser providas de elementos de transferência de carga – como as barras de transferência – e serem adequadamente seladas, em função do tipo de equipamento a ser empregado.

“Por exemplo, empilhadeiras e rodas rígidas exigem juntas tratadas com material semirrígido. Juntas de construção para esses equipamentos devem ser tratadas com bordas poliméricas”, detalha. Outro ponto importante é a abertura das juntas que, se forem excessivas, tornam o tratamento difícil.

O piso deve apresentar planicidade e nivelamento compatíveis com o tipo de operação e com os equipamentos que serão empregados.

EXECUÇÃO

O engenheiro ressalta que a execução deve ser feita por empresas especializadas e adequadamente equipadas, principalmente quanto à concepção adotada para o piso. “Os materiais de reforço impactam a qualidade executiva”, diz, citando os principais: fibras metálicas, tela soldada, protensão, macrofibras poliméricas e concreto de retração compensada.

Para cada tipo de revestimento, tipo RAD, é exigido preparo específico do piso. “As pinturas são normalmente aplicadas depois de um lixamento leve, outros requerem fresagem. É importante que empresas qualificadas, como as que pactuam com os procedimentos da Associação Nacional de Pisos e Revestimentos de Alto Desempenho (Anapre), estejam à frente do trabalho”, sugere Rodrigues, que é conselheiro da entidade.

Normas técnicas

Como no Brasil ainda não há normas voltadas para projeto e execução de pisos, há que se lançar mão de documentos de outros países. “Entretanto, dispomos de norma para execução de RADs que é a ABNT NBR 14050:1998 - Sistemas de revestimentos de alto desempenho, à base de resinas epoxídicas e agregados minerais”, lembra Rodrigues.


Leia também: Piso de alto desempenho é solução de longo prazo

Colaboração técnica

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Públio Penna Firme Rodrigues – Graduado em Engenharia Civil pela Escola de Engenharia Mauá (1979), mestre em Engenharia pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo POLI-USP (1989), doutor em Ciências pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA) na área de Física e Química dos Materiais, com diversos cursos de aperfeiçoamento no exterior. Tem mais de 30 trabalhos publicados em congressos nacionais e internacionais, bem como em revistas técnicas, abrangendo, principalmente, os temas de piso industrial e tecnologia de concreto. Atua na área de projetos e especificações de pisos e pavimentos de concreto, com trabalhos técnicos na área de concreto, cimento, pré-fabricados, pisos e pavimentos de concreto. Nos últimos 20 anos, está à frente da Diretoria Técnica da LPE Engenharia. É conselheiro da Associação Nacional de Pisos e Revestimentos de Alto Desempenho (Anapre) e membro do Instituto Brasileiro do Concreto (Ibracon), do American Concrete Institute (ACI) e da Associação Brasileira de Pavimentação (ABPv).