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Como especificar os itens que compõem projetos de jardins?

Escolha das espécies adequadas de plantas é só uma das tarefas na lista de atividades que devem ser realizadas para criar uma área de lazer agradável para todos

Publicado em: 06/08/2021Atualizado em: 21/09/2021

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Projetos jardins
O gramado é a única vegetação que forra o chão e permite que as pessoas se deitem, caminhem ou realizem outras atividades sobre ele (Foto: Andrey tiyk/Shutterstock)

Os jardins são importantes áreas de lazer e convivência social que agregam valor ao empreendimento. Além de harmonizar os componentes desse espaço, o projeto deve criar um ambiente aconchegante aos mais variados públicos. Isso inclui planejar desde as espécies de plantas utilizadas até as soluções de iluminação e piso.

Entre os principais elementos estão muro verde, gramado, areia, pedrisco, piso, plantas, mobiliário, iluminação, fontes e esculturas. O arquiteto paisagista Benedito Abbud, titular do escritório Benedito Abbud – Arquitetura Paisagística, explica quais são os cuidados no momento de especificar cada um desses itens.

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Muros verdes

Nos muros verdes, as plantas são submetidas a situações anormais, com pouquíssima terra ou somente água. “Acaba ficando relativamente estressante para elas”, afirma Abbud, destacando a necessidade de atenção frequente para garantir a sobrevivência da vegetação. “A irrigação deve ser muito bem planejada, controlada e, de preferência, automática”, completa.

Em estruturas altas, a incidência do vento tende a ser menor nas áreas próximas do piso e maior conforme vai subindo, diferença que influencia no planejamento do muro verde. A posição da construção também deve ser levada em consideração, pois se estiver com a face voltada para o oeste são usadas plantas que precisam de muito sol. Já se for para o sul, o ideal é optar por espécie que depende menos da luz natural.

“Com tantas variáveis, é recomendado buscar o auxílio de profissional habilitado em projetar e executar esse sistema. Ele estará apto para lidar com a complexidade da instalação, trabalhando de maneira adequada e conquistando resultado positivo”, diz Abbud.

Gramado, areia e pedrisco

O gramado é a única vegetação que forra o chão e permite que as pessoas se deitem, caminhem ou realizem outras atividades sobre ele. Com poucas exceções, esse tipo de planta pede a incidência constante de luz solar. “Para as áreas sombreadas, existem forrações mais apropriadas”, comenta Abbud.

Um dos exemplos é a areia, bastante empregada nas regiões litorâneas ou nos espaços lúdicos voltados para crianças. “Antigamente, todos os playgrounds a utilizavam. Porém, o material começou a ser evitado devido o risco de doenças provenientes de fezes ou urina de animais. Hoje, a areia voltou a ganhar espaço graças às vassouras de fogo — espécie de bico de gás que varre e desinfeta”, detalha o arquiteto.

Em espaços abertos, a areia corre o risco de ser levada pelo vento. Nessas situações, o pedrisco surge como possível substituto. “É uma solução que está disponível em várias cores e tonalidades, mas seu uso demanda parcimônia”, comenta o paisagista, mencionando como bom exemplo o jardim de Ryoanji, que fica no Japão. “Lá, há um contraste entre o verde do corredor que leva até o jardim, que é um dos mais belos do mundo, e a secura do local onde estão os pedriscos penteados”, diz.

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Pisos

O deck de madeira ainda é utilizado, mas nos projetos em que os responsáveis se comprometam a arcar com o trabalho necessário para manter sua qualidade
Benedito Abbud

Os porcelanatos para áreas externas revolucionaram o mercado nos últimos anos. Eles permitem, por exemplo, manter a beleza dos pisos de madeira sem ter a mesma exigência de manutenção. “O deck de madeira ainda é utilizado, mas nos projetos em que os responsáveis se comprometam a arcar com o trabalho necessário para manter sua qualidade”, fala Abbud.

Assim como peças que simulam o acabamento de outros materiais, existem produtos com cores diversas. “Porém, normalmente, prefiro as tonalidades ligadas à natureza, como aquelas próximas da areia”, conta o especialista. Isso porque as cores fortes, mesmo bonitas, podem cansar a visão.

“A regra, no entanto, tem exceção. Em hotéis, por exemplo, é interessante ter tons carregados para que a imagem fique marcada na cabeça do hóspede que passa somente dois ou três dias naquele local”, afirma o arquiteto, mencionando a importância de especificar piso que promova a acessibilidade. “Uma superfície trepidante exclui cadeirantes ou mães com carrinhos de bebê de aproveitar o espaço de lazer”, complementa.

Plantas

Para escolher as espécies adequadas de plantas é necessário analisar variáveis distintas, como a incidência de sol e sombra, chuva, ventos, entre outros. “A região também entra na equação. Uma planta ideal para o clima de São Paulo não é a mesma indicada para Manaus”, compara, comentando que sempre dá preferência para a flora nativa brasileira.

A especificação tem que levar em consideração as cores. “Lembrando que até mesmo o verde é variado e existem diversos tons na natureza, sem esquecer as flores para complementar o colorido”, destaca Abbud. De vez em quando, a espécie escolhida pode estar indisponível no mercado. Quando isso acontece, o paisagista deve adotar o mesmo critério da escolha para determinar a substituta.

Abbud escolhe as plantas com base na cultura do local, ou seja, avaliando a maneira como o jardim será usado. “O espaço em uma casa é diferente daquele existente nos condomínios, o mesmo acontece em relação ao público que irá frequentá-lo. Cada situação tem demanda específica”, conta.

Se o jardim não for sensorial, está sendo jogado fora um presente da natureza
Benedito Abbud

A tarefa não deve levar em consideração somente o visual. “O paisagismo é uma das únicas expressões artísticas que permite utilizar os cinco sentidos. O jardim tem que ter visão agradável em todas as épocas do ano; oferecer fruta para ser apreciada pelo paladar; a presença de pássaros cantando estimula a audição; o aroma das plantas é sentido pelo olfato; e a relação entre sombra e sol é distinguida pelo tato. Se o jardim não for sensorial, está sendo jogado fora um presente da natureza”, destaca Abbud.

Mobiliário

A escolha do mobiliário depende bastante do orçamento disponível para o projeto. Nos empreendimentos de alto padrão, existe a possibilidade de especificar móveis com design único e, muitas vezes, fabricados sob medida. Por outro lado, nos jardins simples, é comum dar preferência aos produtos padronizados.

“Há cerca de cinco anos, o mobiliário para áreas externas era bastante restrito, sendo praticamente tudo de madeira. No entanto, isso está mudando, não só no Brasil, mas no mundo inteiro. Já temos acesso a peças confortáveis, com estofados e bastante resistentes — podendo até aguentar a exposição às intempéries”, afirma o arquiteto.

Iluminação

Mercado que também está em evolução é o de iluminação. Com a chegada do LED, há disponibilidade de cores variadas, spots de tamanho reduzido, entre outros. “Nos jardins, não se deve focar no ponto de luz, mas sim na iluminação que será emitida para o ambiente. Assim, damos preferência a spots cada vez menores e que não aparecem”, conta o paisagista.

Tão relevante quanto decidir quais objetos iluminar, é saber lidar com a escuridão. “Ela pode ser aproveitada para ressaltar elemento que esteja focado pelas lâmpadas. Outra solução é a criação de uma paisagem oposta, ou seja, se o sol ilumina uma árvore de cima para baixo, quando a noite chega, podem ser usados spots para iluminá-la de baixo para cima, resultando em uma espécie de sombra invertida”, ensina Abbud.

Fontes e aquários

Há diversos tipos de fontes, cada uma indicada para determinada situação. Há as lâminas calmas e tranquilas, espelhos d’água com peixes e plantas, lagos artificiais, entre outras. Além de atrair a atenção pela beleza visual, as fontes podem ser usadas para que o murmúrio da água encubra o barulho do trânsito e outros ruídos típicos das cidades.

“Gosto de especificá-las para jardins de hospitais. Ficar observando a dança dos peixes reconforta quem está passando por momento delicado. Nessas situações, a água pode estar ainda em bebedouros que atraiam pássaros e aumentem o contato dessas pessoas com a natureza”, observa Abbud. Por outro lado, em ambientes fechados não é recomendada a presença de fontes. “Nessa situação, o melhor momento será quando ela for desligada e o silêncio tomar conta do espaço”, comenta.

Esculturas

As esculturas são expressões artísticas que combinam bastante com jardins. “É bem-vindo ter esse contraste entre algo produzido pela natureza e o material criado pelo homem. Mesmo que seja uma obra feita simplesmente com um galho retorcido, continua sendo antrópico. Por isso, costumo usar em meus projetos”, opina o profissional.

As esculturas podem ser aproveitadas como pontos focais, que atraem a atenção das pessoas, convidando para que se aproximem. “Por exemplo, uma peça vista de longe e que está no final de certo caminho. Conforme chegamos perto dela, conseguiremos encontrar detalhes que antes eram imperceptíveis”, finaliza Abbud.

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Colaboração técnica

Benedito Abbud
Benedito Abbud — É graduado, pós-graduado e mestre pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP), instituição onde atuou como professor. Do seu escritório, já saíram mais de 6 mil projetos de arquitetura paisagística em escalas que vão de residências, condomínios e bairros até cidades inteiras por todo o Brasil e outros três países. Vencedor do Prêmio Greening 2013, participou de 49 empreendimentos ganhadores do Prêmio Master Imobiliário. Algumas de suas produções recentes são a Praça Victor Civita (SP), o Parque Jefferson Peres (AM), a nova cidade de Parauapebas (PA) e a Vila Olímpica (RJ) que foi utilizada para alojamento dos atletas em 2016. Desenvolveu projeto paisagístico para a copa do mundo em 2014 e Olimpíadas de 2016.