Conceito aberto: benefícios e desvantagens dos ambientes integrados
A solução promove amplitude e facilita o “estar junto”. Contudo, a integração dos ambientes pode trazer inconvenientes, como a disseminação de cheiros e barulho da cozinha. Por isso, antes de construir, é sempre bom refletir sobre as opções disponíveis
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Conceito aberto promove a amplitude e facilita o convívio entre os moradores (foto: Neil Podoll/Shutterstock)
Reconhecida na cultura brasileira como o ‘coração’ da casa, a cozinha vem se misturando com as salas de estar e de jantar, sem paredes. O conceito aberto caiu no gosto do público, especialmente por promover amplitude e facilitar o convívio entre moradores ou entre estes e seus convidados.
Segundo a arquiteta Marina Carvalho, titular do escritório que leva seu nome, projetos com maior integração devem levar em consideração o perfil, o estilo de vida e a dinâmica diária do morador. “Influenciados pelos programas de TV que vêm de fora, os jovens são os que mais pedem o conceito aberto. O modismo inclui ilha ou península na cozinha”, diz.
Influenciados pelos programas de TV que vêm de fora, os jovens são os que mais pedem o conceito aberto. O modismo inclui ilha ou península na cozinhaMarina Carvalho
Para a arquiteta Clara Reynaldo, sócia-fundadora do escritório CR2 Arquitetura, integrar ou não os ambientes é uma opção que depende do uso que será feito pelo morador, independentemente de sua idade. “Se ele gosta de cozinhar, receber amigos e quer estar junto, faz todo sentido. Tanto para um único morador como para uma família”, diz.
Ambas concordam que nos apartamentos compactos a integração é a melhor solução, justamente passar a sensação de ambiente maior. “Nos estúdios, por exemplo, nem há espaço para fechar. Quando a pessoa compra, ela já sabe do conceito, já se comprometeu”, observa Reynaldo. Porém, em imóveis mais amplos, Carvalho não vê razão para a integração: “Só recomendo se o morador for solteiro e quer um estilo loft industrial, todo aberto”, afirma.
Problemas vão do odor ao ruído
Independentemente do tamanho do imóvel, a integração pode trazer alguns inconvenientes na hora do preparo das refeições. Um deles é o barulho que a tarefa inevitavelmente acaba gerando. “Além disso, dependendo da quantidade de fritura, a coifa não dá conta de eliminar a gordura e o odor nos ambientes, inclusive comprometendo o tecido dos estofados”, pontua Carvalho.
Embora as coifas industriais ajudem muito a eliminar o odor, de acordo com Reynaldo nenhuma deixará o ambiente sem cheiro algum vindo da cozinha. “É impossível”, comenta.
Entre os clientes de Marina Carvalho, moradores de apartamentos amplos, nunca houve pedido para abrir a cozinha. “Não seria lógico, afinal, não é uma ‘casa cor’. O apartamento tem que ser funcional”, comenta, dizendo que, em seus projetos, a cozinha tem sempre uma mesa de apoio para as refeições rápidas. “Em torno dela, os amigos ou a família se reúnem enquanto preparam os alimentos, preservando a privacidade de quem está no living.
Ora abertos ora fechados
Temos projetos de ambientes integrados, mas com a versatilidade de se fecharem para o living. Em um deles, criamos portas de correr em muxarabi, portanto vazadasClara Reynaldo
Quando clientes de imóveis de alto padrão mostram interesse na integração dos ambientes, Clara Reynaldo sempre oferece a opção desses espaços poderem se fechar quando necessário, através de portas de correr, por exemplo. Em tempos de quarentena e home office, essa opção é ideal, pois garante aos moradores atividades não compartilhadas.
“Temos projetos de ambientes integrados, mas com a versatilidade de se fecharem para o living. Em um deles, criamos portas de correr em muxarabi, portanto vazadas. Como os dois ambientes têm janelas, a solução iluminou e criou ventilação cruzada, mesmo quando as portas estão fechadas. Outro cliente pediu uma marcenaria totalmente fechada, que consegue barrar som e cheiro, assegurando privacidade para os dois ambientes, quando desejado”, conta a arquiteta.
Porta de correr em muxarabi favoreceu a iluminação e a ventilação cruzada (foto: Divulgação/CR2 Arquitetura)
Sem paredes, poucos armários
Uma das consequências de derrubar a parede para a integração dos ambientes é a perda de área para armazenagem. Uma opção, de acordo com Marina Carvalho, é a instalação de armários flutuantes fixados em estrutura metálica. Reynaldo acrescenta que é possível otimizar as paredes que sobraram, projetando bons armários.
Revestimento de piso único
De acordo com Carvalho, para ser completa, a integração dos ambientes pede revestimento de piso contínuo, que aposta nos porcelanatos, cimento queimado ou ladrilho hidráulico. “Piso de madeira na cozinha não faz parte da nossa cultura de higiene. No Brasil, as pessoas têm o hábito de lavar, jogar água”, destaca a arquiteta, que sugere o piso vinílico, inclusive no padrão madeira que, dependendo do sistema de fixação, pode ser lavado.
Para Reynaldo, não é necessário que o piso seja único. Mas ela tem optado por uniformizar, para imprimir menos informação visual, além de colaborar com a sensação de ambiente maior.
Menos privacidade na quarentena
Na pandemia, muitos que adotaram o conceito aberto querem a parede da cozinha de volta. Clara Reynaldo entende que faz sentido, pois nem toda casa tem um escritório segregado ou espaço no dormitório para home office. “A pessoa acaba trabalhando na sala, condição de difícil convivência com as atividades da cozinha, em geral, muito barulhentas”, diz.
Marina Carvalho ressalta que aqueles que optaram pela integração não tinham como prever a situação atípica que o mundo vive agora. “O conceito aberto funcionava bem para os moradores trabalhando e fazendo boa parte das refeições fora de casa. Agora, as pessoas estão dentro e se estressam por pouco. Portanto, é compreensível o desejo de isolar os espaços”, afirma.
Leia também:
Revestimentos garantem resistência e beleza a cubos e bancadas
Muxarabi garante estética e conforto ambiental às edificações
Colaboração técnica
- Clara Reynaldo – Arquiteta e Urbanista pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE (2006) e Mestre em História da Arquitetura e do Urbanismo pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – USP (2013). Sócia-fundadora do escritório paulistano CR2 Arquitetura, em 2006, dedicado ao desenvolvimento de projetos residenciais, comerciais e institucionais.
- Marina Carvalho – Graduada pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, com MBA em Gestão Estratégica e Econômica de Projetos na Fundação Getúlio Vargas. Acumula cursos complementares como o de técnico de Design de Interiores do Senac. Iniciou sua carreira no Estúdio Penha, e, posteriormente, trabalhou com Arthur Casas, onde ocupou por muitos anos um cargo de coordenadora em uma das maiores incorporadoras da América Latina. Atualmente, a arquiteta trabalha no escritório que leva o seu nome, Marina Carvalho Arquitetura.