Conceitos sustentáveis já fazem parte do programa Minha Casa Minha Vida
Em geral as soluções verdes tornam o processo mais oneroso, mas há exemplos como o Residencial Bonelli, em Joinville, ecologicamente corretos e com baixo custo
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
“A produção habitacional de interesse social promove impactos sociais, econômicos e ambientais positivos ao promover emprego formal para os trabalhadores da construção civil, ao prover moradia digna para a população de baixa renda, reduzindo o déficit habitacional, e ao possibilitar a retirada de famílias de áreas de risco ou de grande fragilidade ambiental”. A afirmação é de Jean Benevides, gerente Nacional de Sustentabilidade e Responsabilidade Socioambiental da CAIXA. Segundo ele, alguns requisitos relacionados aos diversos aspectos da sustentabilidade já foram incluídos no programa Minha Casa Minha Vida, como a medição individualizada de água e aquecedor solar de água – obrigatório nas casas térreas. Além disso, o MCMV prevê trabalho social com as famílias beneficiadas, incluindo ações educativas para gestão condominial, educação ambiental e financeira, avaliação pós-ocupação, entre outras.
O tipo de material das paredes e coberturas, além da cor do edifício, por exemplo, são itens que contribuem para o desempenho térmico e conforto do usuário. E, com custo pouco elevado, o paisagismo ajuda na redução da temperatura do entorno, para a absorção das águas pluviais pelo solo e para a redução dos níveis de CO2 no ambiente
Para Benevides, uma habitação mais sustentável pode ser obtida a partir de um bom planejamento do projeto, adequando-o às condições climáticas da região, com equipamentos para a redução do consumo, paisagismo e inserção urbana. Ou seja, localizado em área dotada de serviços, equipamentos, transporte público e infraestrutura básica. “O tipo de material das paredes e coberturas, além da cor do edifício, por exemplo, são itens que contribuem para o desempenho térmico e conforto do usuário. E, com custo pouco elevado, o paisagismo ajuda na redução da temperatura do entorno, para a absorção das águas pluviais pelo solo e para a redução dos níveis de CO2 no ambiente”.
Em geral as soluções sustentáveis tornam o processo mais oneroso, não só devido aos equipamentos adicionais previstos na habitação, como também à diferenciação do projeto, que vai desde a concepção até a entrega da obra. “Passando pela escolha correta dos materiais, gestão dos resíduos de construção, economia de água e energia durante a obra, maior controle e capacitação de empregados. Com isso, empresas que já adotam alguns princípios de sustentabilidade em seu processo conseguem construir uma moradia mais sustentável a um baixo custo, como foi o caso de algumas experiências com o Selo Casa Azul. Por exemplo, o Residencial Bonelli, em Joinville teve um acréscimo no custo de 2% e os condomínios ‘E’ e ‘G’ do Complexo de Paraisópolis, em São Paulo, teve um aumento de custo de 0,98%”, diz o gerente.
A zona bioclimática em que será construída a habitação interfere nas soluções sustentáveis a serem empregadas. “Conforme a norma ABNT NBR 15.220 - Desempenho térmico de edificações, o Brasil está dividido em oito zonas bioclimáticas com diferentes características de temperatura, umidade e insolação, o que interfere diretamente no posicionamento da habitação em relação ao sol, na escolha dos materiais para fachadas e cobertura e no tamanho das janelas, por exemplo, para melhor iluminação e ventilação. Nas regiões mais frias, é necessário prever a insolação de cômodos de longa permanência para aquecer o ambiente. Já nas regiões mais quentes – maior parte do país – deve-se evitar a incidência de sol à tarde nos cômodos de longa permanência e isso é possível evitando a fachada oeste, por exemplo”, explica o gerente.
Benevides afirma ainda que é essencial instruir as famílias quanto ao uso e manutenção dos itens de sustentabilidade. “É necessário conhecer sua importância e uso correto para garantir, por exemplo, a economia de água com uso adequado de uma bacia de duplo acionamento; orientar os moradores sobre a necessidade de limpeza das placas solares para melhorar a eficiência do sistema de aquecimento solar; explicar como proceder ao implantar a coleta seletiva no condomínio ou, até mesmo, instruir sobre a importância em manter as espécies vegetais previstas no projeto de paisagismo, considerando os benefícios como o sombreamento de fachadas, redução da temperatura no local, entre outros”.
É necessário que os moradores conheçam a importância das soluções, para usá-las de forma adequada, (...) orientar os moradores sobre a necessidade de limpeza das placas solares para melhorar a eficiência do sistema de aquecimento solar; explicar como proceder ao implantar a coleta seletiva no condomínio ou, até mesmo, instruir sobre a importância em manter as espécies vegetais previstas no projeto de paisagismo, considerando os benefícios como o sombreamento de fachadas, redução da temperatura no local, entre outros
COMUNIDADES RURAIS
De acordo com o gerente, cabe ressaltar que a habitação de interesse social não atende somente a população urbana, mas também a rural por meio do Programa Nacional de Habitação Rural – PNHR, parte integrante do MCMV. “O projeto foi criado pela necessidade de uma política habitacional que atendesse às especificidades da moradia no campo, onde as diferenças em relação ao meio urbano, como cultura, forma de remuneração, gleba de terra e logística para construção passaram a ser consideradas nos programas de moradia para a população do meio rural. Enquadram-se no PNHR os agricultores familiares e trabalhadores rurais, além de pescadores artesanais, extrativistas, aquiculturas, maricultores, piscicultores, ribeirinhos, comunidades quilombolas, povos indígenas e demais comunidades tradicionais. As famílias beneficiadas pelo PNHR recebem, ainda, capacitação técnica e orientação sobre gestão da propriedade rural, melhoria das moradias, cooperativismo, participação da mulher na gestão da propriedade e ações que visem à permanência do jovem no campo”, afirma.
LÁ FORA
No mundo, diversos países adotam soluções diferenciadas dependendo da condição climática e econômica do local. “Para fazer uma comparação com o Brasil, é preciso verificar as similaridades com as condições do nosso país, tanto climáticas quanto econômicas e culturais. Nesse sentido, podemos citar a experiência no México, da INFONAVIT - Instituto del Fondo Nacional de la Vivienda para los Trabajadores -, com a Hipoteca Verde, que agrega diversos itens de sustentabilidade à habitação. No Chile, vale ressaltar as experiências de projetos modulares e flexíveis que podem ser ampliados conforme a necessidade e o aumento de renda das famílias beneficiadas. E na Colômbia o destaque são as políticas de urbanização de favelas e mobilidade urbana. Este último com projetos que se tornaram referência mundial e que foram inspirados no modelo de Curitiba”, ressalta o Benevides.
SELO CASA AZULCriado pela CAIXA, o Selo Casa Azul é uma classificação socioambiental dos projetos habitacionais financiados pela empresa para reconhecer empreendimentos que adotam soluções eficientes na construção – uso, ocupação e manutenção dos edifícios –, incentivando o uso racional de recursos naturais e a melhoria da qualidade da habitação e de seu entorno. “O selo possui 53 critérios de avaliação, divididos em seis categorias: qualidade urbana, projeto e conforto, eficiência energética, conservação de recursos materiais, gestão da água e práticas sociais”, explica Benevides.
Colaborou para esta matéria
- Jean Rodrigues Benevides – Gerente Nacional de Sustentabilidade e Responsabilidade Socioambiental da CAIXA, da qual é empregado há 24 anos, 17 deles dedicados à área socioambiental do banco. É pós-graduado em educação ambiental, pela Universidade Católica de Salvador, especialista em Gestão Social pela UFBA, em Desenvolvimento Local, pela OIT, e em Gestão Estratégica para Sustentabilidade, pelo UniETHOS. É conselheiro do Projeto Planeta Sustentável, membro do Conselho Empresarial para o Desenvolvimento Sustentável e da Comissão de Responsabilidade Social da FEBRABAN.