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Conheça os desafios das obras da Arena MRV, em Belo Horizonte

Foi preciso movimentar toneladas de solo mole e canalizar córrego sob o campo de jogo antes da execução do sistema construtivo misto aço-concreto. A cobertura complexa tem a função de reduzir o impacto acústico no entorno

Publicado em: 10/05/2023Atualizado em: 19/02/2024

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

Arena MRV
(Foto: Max Rudolf)

A preparação do terreno para a construção da recém-inaugurada Arena MRV, em Belo Horizonte (MG), foi a primeira grande exigência do projeto executado pela Racional Engenharia. Agora concluído e inaugurado, o empreendimento multiuso desponta como o 10º maior do país, com 46 mil assentos que guardam 8,5 m de distância até o campo.

Outros números dão uma ideia das dimensões dessa obra: 177 mil m² de área construída; 100 mil m² de vedações/alvenaria; 21 mil peças pré-moldadas de concreto; 4.029 ton de estrutura metálica e outras 1.446 ton da estrutura metálica da cobertura.

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Infográfico Arena MRV

(Foto: Max Rudolf)

Córrego e solo mole

Sob o local onde seria executado o gramado do campo e as áreas técnicas do seu entorno, havia um vale profundo, cortado pelo córrego do Tejuco que precisou ser canalizado. Foram movimentados cerca de 24 mil m³ de solo mole, 450 mil m³ de corte e 435 mil m³ de aterro controlado. A obra doou à Fundação Zoobotânica da capital mineira 3.720 m³ de topsoil, um dos compostos do solo, rico em nutrientes e muito utilizado para o plantio de mudas.



“Essa fase da construção coincidiu com a época de chuvas, que foi muito acima da média, exigindo a revisão minuciosa do planejamento da obra. Gerou, inclusive, um desafio adicional de logística, com a execução de outras frentes, simultaneamente, como as fundações e início da estrutura”, conta o engenheiro Luiz Bruzza, gerente de Obras da Racional.

Estrutura mista aço-concreto

O prazo desafiador levou a engenharia a priorizar o princípio da industrialização da construção. Assim, a concepção estrutural da arena desenvolvida na etapa de pré-construção, é formada por 64 pórticos em treliças com espaçamento médio de 11 m e um balanço de aproximadamente 40,50 m. O sistema é caracterizado pelas estruturas metálicas e sua conexão com pilares e lajes em concreto pré-moldado.

“A concepção estrutural foi cuidadosamente estudada e otimizada, considerando aspectos críticos do projeto como vibrações e acústica”, diz o engenheiro, lembrando que durante a pré-construção, foram realizados workshops em comitês técnicos compostos por engenheiros envolvidos nos projetos, calculistas e CQPs para verificação dos resultados estruturais de solução pretendida. A estabilidade global da estrutura foi garantida pelos contraventos estruturais horizontais e verticais integrados com os pórticos em concreto da edificação. “Estudo de túnel de vento realizado na Inglaterra ratificou os resultados. Ensaio específico avaliou o comportamento das estruturas pelas características do entorno do estádio, garantindo seu desempenho, estabilidade, qualidade e segurança”, relata.

A opção pela solução estrutural mista trouxe benefícios como redução de custo da obra, pela velocidade na execução e resultou em um canteiro mais limpo, com menor geração de resíduos. “O desenvolvimento e interface entre os sistemas foi integrado pela metodologia BIM, que foi importante também para acompanhamento das diversas etapas da obra, minimizando problemas de interação entre eles e execução do projeto, além de possibilitar o monitoramento do cronograma”, comenta.

Proteção da estrutura

Condição própria de arenas multiuso, o movimento coordenado das torcidas ou da plateia durante um show pode excitar a estrutura a ponto de que possa ruir. “A estrutura da Arena e da Esplanada foi dimensionada também sob o ponto de vista dinâmico, adicionando diversos elementos estruturais”, diz Bruzza.

Ele se refere, por exemplo, à solução desenvolvida para as vedações, com mais de 100 mil m² de alvenaria, com o objetivo de reduzir os carregamentos sobre a estrutura. Consiste em uma solução não convencional de paredes leves, composta por blocos de concreto celular autoclavado reforçado com telas e cantoneiras.

“A aplicação desse sistema na escala de um estádio, com paredes de grandes dimensões e um edifício que suporta vibrações significativas é inédita e foi um importante desafio técnico-construtivo”. A inovação foi viabilizada com o envolvimento de empresas e profissionais especializados, validada e ajustada no projeto.

Cobertura com três funções

O sistema construtivo da cobertura/fachada, com arquitetura que traduz a identidade do clube, foi pensado para garantir estanqueidade ao edifício, ser o principal elemento estético e reduzir o impacto acústico no entorno, durante os eventos. Os três objetivos foram alcançados pelo sistema constituído por camadas de telhas metálicas, conformadas uma a uma, e materiais isolantes e absorventes acústicos para mitigar o impacto sonoro.

“Tomamos como base de entrada para o desenvolvimento dos projetos, os resultados das medições sonoras realizadas no início da etapa de pré-construção. O objetivo foi determinar os níveis de pressão sonora contínuos equivalentes ao ruído ambiente do entorno em relação às futuras instalações do empreendimento, com base na legislação vigente. Como a arena tem geometria curva, diversos trechos da cobertura possuem um formato complexo, com dupla curvatura”, explica o engenheiro.

Diversos trechos da cobertura/fachada possuem curvatura em dois sentidos, sendo que cada telha tem um formato diferente. “Para perfilar e calandrar as telhas de alumínio zipadas desta maneira, o fabricante do sistema de cobertura disponibilizou um equipamento alemão e um profissional estrangeiro especializado que comparecia ao canteiro de obras nos momentos estratégicos de produção dessas telhas”.

A adoção de sistema sifônico antivortice para a captação de águas pluviais da cobertura é relativamente pequena, dada a grande dimensão do estádio. “Ele conduz a água sob pressão de forma rápida com a mesma eficiência de um sistema convencional por gravidade oito vezes maior”, expõe. O sistema permitiu que a geometria e estrutura das calhas fossem concebidas de forma mais simples, devido à não necessidade de caimentos e as pequenas dimensões. “Além disso, o número de prumadas verticais que conduzem a água desde a cobertura até as caixas enterradas foi drasticamente diminuído se comparado ao sistema convencional”.

Gramado de padrão internacional

Elemento sensível da obra, o projeto do gramado da Arena MRV foi desenvolvido por empresa especializada. As soluções abrangem drenagem, irrigação, tipo de solo, espécie de grama, forma de plantio, nivelamento e manutenção. O resultado é um gramado de padrão internacional, com o plantio no campo de jogo de 8.945 m² da espécie Bermuda Celebration, a mais indicada para atividades esportivas em locais de clima quente.

Gramado da Arena MRV
(Foto: Max Rudolf)

“O plantio foi feito manualmente, em um único dia, por meio de mudas. Cerca de 120 dias após o início, o gramado estava estabelecido, permitindo sua utilização para jogos”, diz. O gramado da Arena MRV tem 105 m x 68 m, tamanho padrão exigido nas principais competições oficiais de futebol profissional. Foram instalados, ainda, 2 mil m² de grama sintética decorativa na área de cerca de 2 m após as quatro linhas.

A execução do gramado foi uma das últimas etapas e paralelamente às obras da cobertura. “O que exigiu cuidados, evitando o uso do espaço para a movimentação de quaisquer equipamentos pesados, já que o campo estava localizado em uma área de logística estratégica para a continuidade das obras”.

Tecnologia e automação

Disponibilidade de internet aos frequentadores é um dos itens que tornam a Arena MRV o estádio mais tecnológico da América Latina. Foram incorporados, também, o que há de mais moderno em sonorização, iluminação, telões gigantes de LED, sistema de câmeras de última geração, entre outras tecnologias. “Tudo isso comandado a partir de um sistema de automação e controle digital, o cérebro dos diversos sistemas que compõem a estrutura ‘nervosa’ do empreendimento”, expõe Bruzza.

Sustentabilidade ampliada

Entre as medidas e boas práticas sustentáveis, foi implantado sistema de aproveitamento de água pluvial com reservatório de um milhão de litros. Depois de filtrada, a água volta a ser utilizada em funções não potáveis, devendo responder por 40% do consumo do empreendimento. Na Arena MRV, foram instalados dispositivos economizadores de água, que vão dos registros restritores de vazão e pressão e vasos sanitários com bacia acoplada de duplo acionamento, passando por lavatórios dotados de torneiras com acionamento-fechamento automático e aeradores.

A economia de energia da iluminação esportiva do campo de jogo foi assegurada pelos equipamentos com tecnologia LED. O empreendimento adota dispositivos economizadores de energia elétrica, como lâmpadas de LED, relés fotoelétricos ou sensores de presença, temporizadores para dispositivos de iluminação, aparelhos eficientes, priorizando aqueles com selo Procel categoria A.

“A Arena MRV cumpre diversas contrapartidas ambientais com os órgãos públicos”, conta o engenheiro, que elenca:

  • Preservação permanente da Reserva Particular Ecológica (RPE), área verde de 26 mil m² dentro do terreno do estádio;
  • Regularização fundiária no Parque Nacional da Serra do Gandarela, área de conservação correspondente a mais que o dobro da vegetação nativa suprimida no terreno da obra;
  • Plantio de 46 mil árvores em parques da cidade, pelos próximos 10 anos. Esse número representa uma árvore para cada assento da Arena MRV. Já foram plantadas cerca de 9.200 em dois anos;
  • Destinação às forças de segurança de Minas Gerais de equipamentos que, somados, superam o valor de R$ 4 milhões, para auxiliar no combate a crimes ambientais.

Colaboração técnica

Luiz Bruzza – Engenheiro Civil com especialização em Economia e Gestão Empresarial, é gerente de Obras na Racional Engenharia.