Construção em Recife contempla retrofit de silos industriais históricos
Estruturas usadas para armazenagem de grãos estão sendo convertidas em apartamentos residenciais. Saiba mais sobre os desafios construtivos envolvidos
(Foto: Moura Dubeux/Divulgação)
Recife é uma cidade repleta de história e que vem passando por transformações importantes nos últimos anos. A região portuária, por exemplo, passa por revitalização desde o início dos anos 2000, quando foi criado o Porto Digital, parque tecnológico com foco em negócios baseados em tecnologia da informação, além de instalações culturais e turísticas, como o Museu do Cais do Sertão.
É nessa região, perto do marco zero da cidade, que se insere o projeto Moinho Recife Business & Life, resultado de uma parceria entre a Revitalis Incorporações e a construtora Moura Dubeux. A proposta envolve a recuperação de uma área de 53 mil m², contemplando a modernização de edifícios antigos e a construção de novas edificações que serão transformados em lojas, escritórios, coworkings, restaurantes, além de um edifício garagem e de um terraço com praça elevada, mirante e telhado verde.
Atendendo a uma demanda crescente por moradia na região, o complexo multiúso conta, ainda, com dois edifícios residenciais, batizados Silo 215 e Silo 240, com apartamentos de metragem compacta e possibilidade de locação por demanda através da startup Housi. Os nomes dos residenciais não são à toa, uma vez que esses prédios estão sendo erguidos aproveitando a estrutura existente de silos de armazenamento de grãos, alguns deles datados de 1920.
(Foto: Moura Dubeux/Divulgação)
Com conclusão prevista para o primeiro semestre de 2025, os edifícios terão, respectivamente, 11 e 8 pavimentos. Ambos serão interligados por uma passarela na cobertura, onde serão alocadas as instalações de lazer e serviços. Além disso, o Silo 215 terá, no térreo, duas lojas comerciais.
Arqueologia construtiva
O conjunto arquitetônico do Moinho Recife possui mais de 100 anos de história. Ele começou a ser construído em 1914. Em 1994 houve uma ampliação, com a construção de mais alguns silos. Com a transferência da moagem de trigo para o Porto de Suape em 2009, as instalações originais foram desativadas, até irem a leilão em 2016.
O engenheiro Tarceu Corte Real, gerente de obras na Moura Dubeux, conta que a proposta é inédita, envolvendo a recuperação de 20 cilindros ocos com 43 m de altura. O projeto de arquitetura, desenvolvido por Bruno Ferraz e Roberto Montezuma, prevê o aproveitamento dessas estruturas como paredes de vedação externa e a execução de aberturas para janelas. No interior serão construídas lajes, compondo os pavimentos, além de toda a infraestrutura necessária para habitação, incluindo banheiros e cozinhas. “Estamos transformando locais de estocar grãos em ambientes que vão estocar sonhos”, resume Corte Real.
(Foto: Moura Dubeux/Divulgação)
Ao longo dessa jornada que combina preservação e novas construções, um dos desafios é mapear os aspectos técnicos da estrutura existente, especialmente porque não havia nenhum projeto que pudesse ser consultado referente ao trecho edificado entre 1914 e 1920. “Foi preciso um esforço de investigação para saber com o que estávamos trabalhando. Isso demandou uma grande quantidade de ensaios”, conta o engenheiro, citando como exemplos, o levantamento de geometria e a extração de corpos de prova e ensaios de tração, assim como inspeções de armaduras e testes de carbonatação e cloretos.
Somente quando os projetistas tiveram conhecimentos sólidos sobre o que tinham em mãos, foi possível iniciar, de fato, a elaboração dos projetos de arquitetura, de estruturas e das demais disciplinas
Desafios construtivos
A construção do Moinho Recife envolve uma série de particularidades e complexidades que tornam essa empreitada pouco convencional. Por isso, um fator de sucesso é a maior proximidade entre construtora e os projetistas.
Tarceu Corte Real lembra que a sequência executiva da obra é inédita. Ela começa com o reforço estrutural e a execução do tampo que faz a união entre os silos. Para isso, foi executada uma grande laje com 22 cm de espessura, com concreto de alta resistência e elevada taxa de armaduras. A ideia é fazer com que o terraço dos dois prédios seja unificado, possibilitando convívio entre os empreendimentos.
(Foto: Moura Dubeux/Divulgação)
Depois disso, serão realizados rasgos internos na estrutura, para criar os apartamentos, os corredores de ligação entre as unidades e a caixa central de elevadores e escada, e construídas as lajes de concreto armado de cada pavimento. Por fim, serão realizadas as aberturas externas nas fachadas e executadas as vedações internas com drywall.
Além de ter que lidar com um plano de ataque muito peculiar, a obra na capital pernambucana precisa superar desafios logísticos. Inserido em uma área densamente ocupada, o canteiro tem limites definidos pelas vias que o circundam. A limitação de espaço exigiu, inclusive, que uma parcela da rua fosse utilizada como área de apoio, após liberação da prefeitura.
Para agilizar as atividades e reduzir transtornos à vizinhança, a construção do Moinho Recife conta com uma grua de 18 m de lança, elevador externo e um guincho de 500 quilos instalado na parte interna dos silos. “Além da preservação da história do lugar, o Moinho Recife tem um apelo sustentável”, conta o engenheiro da Moura Dubeux. Isso porque o retrofit reaproveita uma estrutura existente, minimizando o consumo e o desperdício de materiais e produtos.
Colaboração técnica
- Tarceu Corte Real – Engenheiro civil, é gerente de obras na Moura Dubeux.