Dólar alto estimula exportação de equipamentos
Com o mercado interno retraído, fabricantes se empenham nas vendas para América Latina e países emergentes
A desvalorização do real frente ao dólar tem motivado fabricantes de equipamentos instalados no Brasil a centrar esforços na exportação. De acordo com Carlos Pastoriza, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), no ano de 2014 o setor de máquinas como um todo exportou cerca de 11 bilhões de dólares, o equivalente a 30% da produção interna. “Com o dólar valorizado, a perspectiva é que esse número aumente”, aposta Pastoriza.
Para o gerente de marketing e produto da Atlas Copco – Dynapac, Flávio Luiz Strabelli, a alta do dólar tem propiciado melhores condições de competitividade no mercado internacional. “O momento no Brasil não está favorável para as vendas e a válvula de escape da indústria tem sido a exportação”, informa.
“Hoje estamos trabalhando com uma taxa cambial atraente, o que tende a melhorar o volume de exportações e ajudar no desempenho da empresa. A alta do dólar começou a se acentuar a partir do mês de maio o que impulsionou um aumento de 20% das vendas para os países da América do Sul”, informa Strabelli.
Dólar alto não é o suficiente para incentivar exportações
Alguns fabricantes observam que a alta do dólar favorece as exportações, mas não é fator decisivo a curto prazo. Roque Reis, vice-presidente da Case Construction Equipment para a América Latina, informa que o câmbio tem incentivado os negócios com o mercado externo, mas as negociações levam algum tempo para acontecer.
“A empresa precisa estar estruturada, com uma rede de distribuidores empenhada em ajudar a conquistar confiança nos mercados compradores, principalmente no que se refere à estabilidade de preços”, explica Roque. “Embora o dólar esteja favorável, os custos também aumentam”, completa.
De acordo com ele, tanto a Case como a New Holland, ambas do Grupo CNH, exportaram 320 equipamentos de janeiro a setembro de 2015, o que representa um crescimento de 60% sobre as 200 máquinas exportadas nesse mesmo período do ano passado para a América Latina. “Recentemente, fizemos uma venda de 40 motoniveladoras para a Índia e outros países”, explica Roque. A fábrica brasileira da Case é a única do grupo a produzir motoniveladoras da marca.
O CEO de autopeças das empresas Randon, Pedro Ferro, concorda que o dólar alto ajuda a curto prazo, mas existem outros fatores que inibem a competitividade do Brasil, como a cadeia de suprimentos, logística ineficaz, tributação elevada, energia, entre outros. “A moeda é apenas mais um componente dessa equação”, esclarece Pedro, que também é presidente de uma das empresas do grupo, a Fras-le.
“O cenário está favorável para a Fras-le exportar para países de moeda forte como Estados Unidos mas desfavorável para os de moeda fraca”, explica. Ele acrescenta que a empresa fornece produtos para mais de 100 países, muitos em desenvolvimento e que tiveram suas moedas desvalorizadas perante o dólar, como a Colômbia por exemplo. “A falta de competitividade reduziu os volumes, mas no final das contas o saldo está sendo positivo”, conclui.
Foco no mercado internacional
A Fras-Le atende principalmente países de América do Norte, América do Sul, Europa, África, Oriente Médio, China e Sudeste Asiático. Os Estados Unidos são o principal mercado. “O volume de exportações baixou em 15%, em comparação ao ano de 2014, mas a receita em reais aumentou em 10%, devido à alta do dólar”, compara Pedro.
“Esperamos que o mercado norte-americano continue estável em 2016, mesmo que o real não desvalorize mais. Estamos prevendo um quadro parecido com volumes semelhantes a 2015 e faturamento um pouco maior”, explica Pedro. A Fras-le está ampliando presença nos Estados Unidos, China e outros países asiáticos.
Strabelli, da Atlas Copco – Dynapac, informa que enquanto as vendas no Brasil estiverem retraídas, o foco da empresa será exportações, especialmente para países como Argentina, Colômbia, Paraguai e Peru. “É a única saída para manter os negócios saudáveis”, diz.
Roque, da Case, acrescenta que as vendas da marca no Brasil despencaram de 50% a 60% e a ideia é que de 20% a 30% da produção da empresa seja destinada às exportações, principalmente para mercados emergentes e países latino-americanos como Chile, Argentina, Uruguai, Paraguai e Colômbia.
Colaboraram para esta matéria
- Carlos Pastoriza – Presidente da Abimaq
Flávio Luiz Strabelli – Gerente de marketing e produto da Atlas Copco – Dynapac
Pedro Ferro – CEO de autopeças das empresas Randon e presidente da Fras-le
Roque Reis – Vice-presidente da Case Construction Equipment para a América Latina