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Equipamento solar desafia o projeto

Edifícios novos precisam se adaptar à legislação que obriga o uso de sistema solar para aquecimento de água nas coberturas.

Publicado em: 04/08/2010

Texto: Redação AECweb



Redação AECweb

Equipamento solar desafia o projeto

Palmo a palmo, a cobertura dos edifícios novos vai sendo ocupada com diferentes funções. Essa área restrita e disputada, tradicionalmente recebia, no mínimo, um apartamento, além de equipamentos variados como a casa de máquinas dos elevadores, caixa d’água e escada de incêndio. Com o advento da legislação que se estende a um número cada vez maior de cidades brasileiras, obrigando o uso de sistema solar para aquecimento de água, o problema de espaço na cobertura se agrava. Enquanto isso, a resistência inicial das construtoras à lei promulgada na capital paulista, em 2008, foi substituída pela tentativa de adequar os projetos e encontrar o melhor local para os coletores solares.

“Quando novas leis são criadas, como a da obrigatoriedade da cadeirinha para crianças ou o cinto de segurança nos veículos, o que se tem é o estabelecimento de um novo desafio para a sociedade por questões de segurança ou melhores práticas ambientais. No caso dos equipamentos solares nas coberturas, fica evidenciada a valorização da competência e criatividade dos profissionais que vão buscar soluções inovadoras para atender os requisitos legais”, afirma o engenheiro Marcelo Mesquita, gestor do Dasol – Departamento Nacional de Aquecimento Solar da Abrava, ressaltando que “não estamos falando que 100% do aquecimento da água deva ser feito pelo sistema, mas apenas 40% do consumo total do prédio”.

Segundo Mesquita, a cobertura é o melhor local do edifício para receber o sistema, pois não tem concorrência por sombreamento. “Só se tiver prédios mais altos nas proximidades”, lembra. A posição elevada colabora na distribuição de água quente para todos os apartamentos. Porém, há sempre a opção de instalar coletores em outros locais com insolação, como no térreo ou na cobertura da garagem.

“O importante é lembrar que não adianta ‘encher’ a cobertura de coletores solares porque, no futuro, haverá necessidade de manutenção. Para tanto, é preciso prever os acessos e espaço para a substituição de placas. A questão, portanto, não se restringe ao uso de coletores para atender a legislação, mas adotar projetos com orientação técnica”, diz o gestor. A Abrava, em parceria com a Abrasip – Associação Brasileira de Engenharia de Sistemas Prediais -e a Abrinstal - Associação Brasileira pela Conformidade e Eficiência das Instalações -, elaborou um documento de modelos construtivos para essas situações, que será publicado em breve.

MERCADO X BOAS PRÁTICAS

Equipamento solar desafia o projeto

Em algumas regiões do país, a decisão do empreendedor pela adoção de aquecimento solar de água responde, em primeiro lugar, às exigências do mercado comprador. “Em cidades, como Belo Horizonte, as famílias buscam prédios que tenham aquecimento solar, ou seja, o sistema valoriza o empreendimento que é vendido rapidamente. Isso é fruto de uma cultura de economia diária e permanente, e não de uma região”, revela Marcelo Mesquita. Assim, a escolha do empreendedor de destinar ou não a área para oferecer apartamento de cobertura envolve, a seu ver, a questão do individual versus coletivo. “Ou seja, como fazer um apartamento que vai ocupar toda a cobertura nos dias atuais, com a presente restrição de energia e preservação do meio ambiente, sobrepondo o individual ao coletivo? Essa é a principal reflexão a ser feita pelos arquitetos, engenheiros e construtores. Afinal, a sustentabilidade é um pensamento coletivo”, sugere.

Parcela dos projetos de novos edifícios apresenta restrições devido ao sombreamento. “Algumas empresas buscam laudos para isentar os edifícios dessa aplicação. Em geral, o argumento é de que a nova obra está numa área muito sombreada por edificações do entorno. Esse procedimento está a exigir uma fiscalização mais efetiva dos órgãos municipais, até para avaliar a veracidade dessa justificativa”, alerta Mesquita.

PROJETO TÉCNICO

O sistema de aquecimento solar deve ser alvo de projeto prévio, envolvendo dimensionamento dos coletores, reservatórios, circuitos hidráulicos, sistemas auxiliares de aquecimento e bombeamento. Os equipamentos especificados devem ter o selo do PROCEL de eficiência energética emitido pelo INMETRO – a relação pode ser encontrada no site www.inmetro.gov.br. A busca por profissionais capacitados para o desenvolvimento do projeto e a execução da instalação pode ser feita no site www.qualisol.org.br. O Qualisol Brasil - Programa de Qualificação de Fornecedores de Sistemas de Aquecimento Solar – é uma rede resultante da parceria entre a Abrava, o Inmetro e o Procel.


O Guia de Parametrização da Cidade de São Paulo, disponível no site www.dasolabrava.org.br, ajuda o projetista a dimensionar o sistema, utilizando-se de parâmetros como a metragem e perfil de famílias, com o número de pontos de água quente presentes em cada habitação. Com isso, ele consegue chegar à área de coletores necessária. “O guia tem que ser utilizado por um profissional qualificado, pois somente ele tem formação para estimar o consumo água quente do conjunto dos apartamentos. A variação entre os tipos de prédios é grande: há, por exemplo, os que se destinam a famílias maiores e, também, os de moradias de solteiros. A água quente num edifício pode envolver apenas chuveiros, porém há casos em que se estende ao lavabo, hidromassagem, pia de cozinha e máquina de lavar. Se o dimensionamento for incorreto, não haverá pleno atendimento solar”, afirma.

Marcelo Mesquita informa que pesquisa feita pelo Dasol mostra que a maioria dos problemas advém da instalação. “O equipamento é o que menos apresenta defeito”, afirma e continua: “É bom lembrar que estamos falando de uma instalação no topo de um prédio e as fixações, por exemplo, têm que ser bem feitas para resistir a situações de sol, chuva e ventos fortes”. Outro cuidado importante diz respeito à impermeabilização da cobertura, até porque esses elementos são fixados na laje de forma invasiva - por chumbamento. “Há impermeabilização adequada no mercado, para que não ocorram infiltrações”, comenta o gestor. Segundo ele, apoiar-se nas recomendações dos fabricantes pode ser um bom começo. “Porque vão ajudar o comprador a escolher melhor seu prestador de serviço, entender um pouco sobre as exigências e ter critérios para avaliar a conduta técnica do profissional”, enfatiza.

Ele conclui lembrando que “o Brasil produz equipamentos solares com uma das melhores tecnologias mundiais, que geram cerca de 80 kWh/mês por metro quadrado. Há uma relação importante a se fazer que é a do custo-benefício e, no caso brasileiro, estamos falando de um país privilegiado em insolação. O que leva a concluir que, aqui, não é necessário empregar equipamento de eficiência ampliada, como ocorre na Europa, onde o sol não é tão intenso”.

Redação AECweb




COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA:

Equipamento solar desafia o projeto Marcelo Mesquita é graduado em engenharia elétrica com especializações em Planejamento do Setor Elétrico pela Unicamp; Gestão de Energia pelo Mackenzie; e Gestão Empresarial pela Fundação Getúlio Vargas. Atuou por 26 anos na Eletropaulo, nas áreas comercial e de eficiência energética. Em 2007, iniciou carreira como professor universitário nos cursos de graduação da Unisant’Anna. Desde agosto de 2009 ocupa o cargo de Gestor do Departamento Nacional de Aquecimento Solar da ABRAVA.