Estruturas metálicas conferem agilidade à construção de edifícios-garagem
Composto por vigas e pilares de aço, sistema está associado a outras vantagens como leveza estrutural, possibilidade de trabalhar vãos amplos e de se fazer ampliações futuras
Edifício-garagem construído com estrutura metálica (Crédito: nancy dressel / shutterstock)
Alternativa para minimizar o déficit de vagas de estacionamento nos grandes centros urbanos, os edifícios-garagem são um tipo muito peculiar de construção. Primeiro, porque são compostos, basicamente, por estrutura e por pouco ou quase nenhum acabamento e sistemas complementares. Além disso, ocupam – na maior parte das vezes –, terrenos valorizados e bem localizados, exigindo da arquitetura soluções que aproveitem ao máximo o espaço disponível. Outra particularidade que acompanha esses empreendimentos é a demanda por obras rápidas e que gerem o menor impacto possível no entorno. Isso vale, principalmente, para estacionamentos de shopping centers, centros comerciais, hospitais e aeroportos.
Para essas aplicações, uma solução que vem sendo explorada é a estrutura metálica, composta por vigas e pilares de aço. A tecnologia não é nova. Nos anos 1950, o arquiteto Rino Levi lançou mão do aço estrutural para projetar o primeiro estacionamento vertical de São Paulo, chamado ‘América’.
Mais recentemente, outros empreendimentos também tiraram proveito desse sistema estrutural, caso do estacionamento do shopping Frei Caneca e do edifício-garagem Berrini (antiga sede da Nestlé), ambos em São Paulo (SP), e dos centros comerciais Via Barreiro e BH Shopping, em Belo Horizonte (MG).
Outra obra emblemática é a do Aeroporto de Congonhas, também em São Paulo, com 2.550 vagas e cinco pavimentos. Ali optou-se por uma tecnologia mista com pilares e vigas de aço apoiando lajes alveolares de concreto protendido. “Essa solução foi escolhida porque permitiu vencer os prazos de construção, atendeu à necessidade de limpeza dos canteiros e apresentou custos globais mais baixos do que uma estrutura convencional de concreto naquele momento”, revela o arquiteto Sérgio Roberto Parada, responsável pelo projeto de arquitetura. Ele conta que, de modo geral, edifícios-garagem exigem vãos generosos para que os veículos possam manobrar facilmente. No caso do aeroporto paulistano, adotou-se a modulação de 7,5 m x 15 m.
Essa solução mista foi escolhida porque permitiu vencer os prazos de construção, atendeu à necessidade de limpeza dos canteiros e apresentou custos globais mais baixos do que uma estrutura convencional de concreto naquele momentoSérgio Roberto Parada
menos peso, mais agilidade
De acordo com a consultora em estruturas metálicas Rosane Bevilaqua, a maior velocidade de execução é um dos fatores que garante competitividade para a estrutura de aço em edifícios-garagem. “Em comparação com os sistemas convencionais em concreto armado, a estrutura de aço pode reduzir o cronograma de obra, tanto pela rapidez de montagem, quanto pela possibilidade de realizar mais de um pavimento em paralelo. A abreviação no cronograma pode chegar a até 50%”, diz a engenheira.
Outros pontos que contam a favor do aço são a simplicidade e o alívio de cargas na fundação, além da possibilidade de reaproveitamento da estrutura, que quase sempre é modular e adaptável aos mais diversos terrenos.
Há, ainda, o fato de a estrutura de aço permitir ao projetista trabalhar amplos vãos com peças de geometria reduzida. “Este aspecto é especialmente importante em edifícios-garagem onde diminuir a quantidade de colunas proporciona melhor aproveitamento da área interna e maior conforto ao usuário, com menos obstáculos para estacionar e manobrar os veículos”, diz a consultora.
Como exemplo, é possível citar o caso do estacionamento criado para a expansão do Shopping Center Flamboyant, em Goiânia (GO). Segundo cálculos dos engenheiros da Arquitrave Engenharia, responsável pela obra, se o estacionamento tivesse sido construído em concreto, a perda em número de vagas seria da ordem de 10 a 15%.
Em comparação com os sistemas convencionais em concreto armado, a estrutura de aço pode reduzir o cronograma de obra, tanto pela rapidez de montagem, quanto pela possibilidade de realizar mais de um pavimento em paraleloRosane Bevilaqua
quando e como usar?
Para que a estrutura de aço proporcione ganhos, é fundamental que o projeto contemple vãos que sejam otimizados para o sistema. Para projetos com vãos muito pequenos e/ou número de pavimentos reduzido, em geral, o aço não se mostra um sistema vantajoso.
Há casos em que a solução mais interessante é a híbrida, com colunas em concreto pré-fabricado e vigamentos em aço. “Este sistema é particularmente interessante quando os vãos são amplos e há um número de pavimentos maior, uma vez que o aço responde muito bem aos esforços de flexão (predominantes em vigas) e o concreto tem excelente performance à compressão (solicitação típica de pilares)”, diz Bevilaqua, lembrando que também é possível trabalhar com lajes em steel deck ou mesmo no sistema de vigas mistas com lajes alveolares.
requisitos de projeto
No projeto de edifícios-garagem, alguns fatores devem ser considerados para garantir o melhor desempenho da estrutura e o maior aproveitamento de área para estacionamento. O correto posicionamento de vigas e pilares, por exemplo, é determinante para que o empreendimento alcance a máxima performance com o mínimo custo.
Outro aspecto que não pode ser relegado a segundo plano são as orientações em relação ao sistema de proteção contra incêndio. O fato de a estrutura ser composta por elementos de aço não necessariamente significa custos mais elevados com proteção passiva. “Inclusive, um projeto que proporcione um nível adequado de aberturas nas fachadas pode isentar a edificação da necessidade de proteção passiva, acarretando em custos mais competitivos da solução”, pontua Rosane Bevilaqua.
Colaboração Técnica
Rosane Bevilaqua – Engenheira-civil com mestrado em estruturas metálicas e MBA em Gestão de Projetos, é consultora em estruturas metálicas
Sérgio Roberto Parada – Arquiteto e urbanista desde 1973, coordena escritório com seu nome em Brasília. É autor de uma série de projetos institucionais, residenciais e comerciais, com destaque para o edifício-garagem do Aeroporto de Congonhas, em São Paulo