Fachadas pré-fabricadas com painéis de concreto agilizam a obra
Sistema industrializado feito com painéis de concreto pré-fabricados também se destaca pela fácil montagem e por permitir ser trabalhado esteticamente em fachadas
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
A fachada pré-fabricada se destaca pela rápida instalação (foto: Konektus Photo/shutterstock)
Opção para o fechamento da envoltória de edifícios, a fachada pré-fabricada é uma solução de rápida montagem que auxilia na diminuição do tempo necessário para execução da obra. Fabricados a partir do concreto convencional ou especial, com cimento branco e agregados coloridos, os componentes do sistema podem ser incorporados com armaduras simples ou duplas, dependendo das exigências do projeto. “Quando incrementados com qualidades compositivas e estéticas, desde a produção em série, estes elementos são denominados painéis arquitetônicos e podem receber revestimento de pedra ou cerâmico durante o processo de fabricação”, explica Fernando Barth, professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
Outra possibilidade mencionada pelo docente é a utilização de argamassa reforçada de fibra de vidro resistente aos álcalis. “Com apenas 5% de fibras no peso da mistura, é possível produzir peças com grandes dimensões. Denominados GRC (Glass Reinforced Concrete), esses painéis são menos pesados, já que não utilizam armaduras metálicas, e recomendados para estruturas leves e com elevado grau de exposição às intempéries”, comenta. Os elementos do sistema podem também ser portantes, ou seja, têm a capacidade de receber as cargas de peso próprio e as acidentais da construção. “Quando há apenas a função de fechamento da envoltória do edifício, tornam-se necessários dispositivos para fixação na estrutura principal do prédio ou, como ocorre em muitos casos, é preciso uma estrutura reticular secundária que serve de suporte para os componentes da fachada”, afirma.
SOLUÇÃO RÁPIDA
As fachadas pré-fabricadas são, na maioria das vezes, utilizadas quando existe a necessidade de finalização da envoltória do edifício em um curto período de tempo. Enquanto a construção está na fase de montagem da estrutura, já é possível iniciar a fabricação do sistema. “Após a fachada ficar pronta, diversas logísticas operacionais podem reduzir o período de montagem, liberando rapidamente a obra para a colocação de esquadrias e finalização dos ambientes internos”, conta Barth. Outro aspecto que pode justificar a escolha desta solução é a qualidade da configuração interna dos painéis e a durabilidade dos materiais de revestimento.
“O controle industrial nos processos de fabricação e o rigor nas inspeções de qualidade e de tolerâncias possibilitam que os produtos cheguem à obra em condições de serem montados, seguindo os detalhes estabelecidos no projeto – fator que garante elevada confiabilidade do sistema também com relação aos prazos de entrega final da obra”, explica o professor. “Apesar do custo ligeiramente superior às vedações verticais convencionais, este tipo de solução construtiva proporciona uma economia em escala de produtos e operações repetitivas, que podem conduzir a uma relação custo-benefício favorável”, complementa. Os componentes do sistema podem ser fabricados tanto no canteiro, quanto em fábricas, utilizando diversas técnicas de cura, texturas e tipos de revestimentos.
ESPECIFICAÇÃO
A especificação de fachadas com painéis pré-fabricados exige a racionalização na composição arquitetônica, por meio da padronização de aberturas, da uniformidade no tratamento dos volumes e nos acabamentos superficiais, que podem ser obtidos através de ranhuras, texturas, cores e tonalidades. “A partir das elevações do projeto da edificação, faz-se o estudo da modulação e tipificação para possibilitar a industrialização das fachadas”, diz Barth.
Uma etapa importante no projeto é a paginação, fase em que se busca a componentização das fachadas, de modo a permitir a produção em série e a coordenação dimensional para a montagem dos painéis. “A paginação pode explicitar esta componentização, destacando as junções entre painéis, ou minimizando seu impacto com o uso de ranhuras, baixos relevos e selamento das juntas na mesma tonalidade das placas. Há a possibilidade de a fachada ser composta em tipos de painéis ou famílias, que representam peças com formas geométricas idênticas e que podem ser fabricadas com o mesmo molde, mediante pequenas modificações, constituindo assim, os diferentes tipos de painéis”, fala o docente. Segundo ele, nesta etapa devem ser consideradas as dimensões máximas de fabricação das peças, as características dos veículos de transporte e dos equipamentos disponíveis para a montagem das fachadas na obra.
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APLICAÇÃO
A técnica de execução da fachada pré-fabricada parte de modelos pré-definidos que possibilitam uma aplicação repetitiva a partir de um determinado número de moldes. As modalidades de estruturação do sistema são determinadas em função da classificação dos painéis de concreto, de acordo com a geometria da seção transversal, sendo maciço, sanduíche, alveolar e nervurado. “Já as peças de GRC podem, de maneira análoga, serem categorizadas em: painel casca, com camada de isolamento incorporado em uma face; sanduíche, com nervuras de reforço e com bastidor metálico do tipo Stud frame – bastante utilizado nos EUA por ser leve, de grande dimensão e flexível. Cada um destes tipos apresenta sua própria modalidade de instalação e de fixação na estrutura principal”, exemplifica o professor.
A instalação deve seguir uma logística de montagem de acordo com o número de equipamentos, gruas, guindastes e equipes profissionais disponíveis. “Painéis especiais podem ser fabricados de modo a realizar o fechamento das superfícies de fachadas e proteger o maior número de áreas internas o quanto antes possível. A instalação deve seguir a coordenação dimensional, respeitando as tolerâncias de fabricação dos painéis e de sua montagem. As juntas entre as peças devem respeitar os valores mínimos admissíveis, de acordo com as variações dimensionais previstas, e as máximas aceitas, estabelecidas pelas características mecânicas dos selantes”, explana o profissional.
QUALIDADE
A ABNT NBR 9062 - Projeto e execução de estrutura de concreto pré-moldado -, em vigor desde 1985, estabelece as condições específicas para o projeto, produção e controle de qualidade dos elementos pré-moldados e pré-fabricados de concreto armado. Segundo ele, outras normas específicas têm de ser utilizadas para a produção deste tipo de fachadas, tais como a ACI 533R da American Concrete Institute - Guide for precast wall panels (1993) e a BS 7543 do British Standard Institution - Guide of durability of buildings and building elements, products and components (1992).
Os painéis de GRC precisam atender à ABNT NBR 15306:2005 - Produtos pré-fabricados de materiais cimentícios reforçados com fibra de vidro -, que estabelece os requisitos e critérios para a produção das argamassas e dos métodos de ensaios de verificação da qualidade dos insumos e produtos finais.
MANUTENÇÃO
Todos os elementos construtivos passam por processos de envelhecimento e perda das características iniciais do seu desempenho técnico. Os componentes de fachadas, por estarem expostos às ações das intempéries, necessitam de inspeções periódicas, de modo a sistematizar manutenções preventivas. ”Tais verificações devem atentar à qualidade do revestimento superficial, as condições dos elementos de fixação dos painéis e, principalmente, aos processos de envelhecimento, fissuração e perda de aderência dos materiais selantes que se localizam nas juntas dos painéis e nas junções entre peças e esquadrias ou outros elementos adicionais”, alerta o professor.
A periodicidade de inspeção e manutenção deve ser compatível com a durabilidade prevista para os materiais e produtos utilizados. Podendo variar de cinco a dez anos, de acordo com as especificações dos fabricantes e garantias contratuais
É BOM SABER
Barth comenta que uma das principais dúvidas em relação às fachadas pré-fabricadas são as limitações de tamanho. “Até os anos 90, o peso era um dos fatores limitantes, pois, dependia-se da capacidade restrita de gruas e guindastes móveis. Atualmente, o maior problema são as restrições do transporte rodoviário. A largura standard dos caminhões é de 2,5m, porém, com uma licença especial, é possível transportar elementos com largura de até 3,5m. Não é usual ultrapassar esta medida, já que serão exigidos autorizações específicas, batedores e cuidados especiais para trafegar em pistas estreitas, com rótulas e obstruções como postes, viadutos e outros equipamentos urbanos”, finaliza.
Colaboração técnica
- Fernando Barth – É coordenador do Grupo de Tecnologia do Ambiente Construído (Diretório de Grupos de Pesquisa do CNPq), engenheiro civil e M.Sc. em estruturas pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Possui doutorado em fachadas pré-fabricadas pela Escola Superior de Arquitetura de Barcelona (UPC) com pós-doutorado em tecnologia da arquitetura no departamento de tecnologia de arquitetura e design da Università degli Studi di Firenze (UNIFI). Atualmente, é professor do Departamento de Arquitetura e Urbanismo e do Programa de Pós-graduação em Projeto e Tecnologia do Ambiente Construído (PosArq) na Universidade Federal de Santa Catarina. Também é supervisor do Laboratório de Sistemas Construtivos da UFSC - www.labsisco.ufsc.br. Coautor do livro “Tecnologia de fachadas pré-fabricadas”.