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ISO 50.001, instrumento para a eficiência energética

A norma internacional de gestão energética para empreendimentos industriais e comerciais visa a melhoria do desempenho no uso e consumo da energia

Publicado em: 20/01/2012Atualizado em: 15/03/2012

Texto: Redação AECweb

Redação AECweb

Publicada em junho de 2011 pela International Organization for Standardization, a ISO 50.001 traz na sua concepção para a certificação de empresas, corporações e indústrias a incorporação de sistemas de gestão energética em seus procedimentos padrão. O engenheiro Marco Saidel, professor do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas (PEA), da Escola Politécnica da USP, explica que a nova norma está focada na indústria, que já não é a mesma de 40 anos atrás. “Ou seja, muitos produtos são montados em determinado galpão de uma empresa, mas foram integralmente produzidos por outras indústrias. Se uma corporação industrial desejar o reconhecimento da ISO 50.001, ela vai precisar que seu edifício atenda os princípios de gestão energética, envolvendo inclusive o processo produtivo”, afirma.

Segundo ele, a ISO 50.001 não estipula parâmetros de eficiência, mas a necessidade de que a indústria esteja permanentemente preocupada em se tornar cada vez mais eficiente. “Isto significa que a indústria tem que ter estabelecido na sua metodologia um princípio de gestão de energia que vai avaliar o processo e gerar indicadores. Ao acompanhar historicamente esses indicadores, se eles degradarem é porque a empresa está sendo menos eficiente. Esse é o princípio da ISO 50.001”, ensina.

O professor exemplifica com duas plantas distintas de produção de pneus: uma extremamente moderna e outra mais antiga. “Provavelmente, a planta mais nova será muito mais eficiente, o que não implica a desativação da fábrica antiga, mas busca formas de torná-la mais eficiente. A comparação entre elas ajudará a decidir que, ao construir uma nova ou reformar aquela, vou adotar tecnologia semelhante à da planta mais atual. O grande valor da ISO 50.001, portanto, é permitir avaliar padrões de eficiência interna e incentivar a necessidade da gestão”, ressalta. Além das indústrias, a norma pode ser adotada em hospitais, escolas, supermercados, shopping centers, ou qualquer outro tipo de empreendimento.

ISO X PROCEL EDIFICA

Ao comparar a nova certificação com o Procel Edifica, Marco Saidel lembra que o selo brasileiro procura identificar o grau de eficiência que o edifício tem no uso da energia. “No mundo todo, verificamos a existência de regulação energética. Não se pode construir qualquer edifício, mas prédios dotados de certo grau de eficiência energética. Em vários países a regulação é mandatória, isto significa que o edifício deve obter, no mínimo, a classificação ‘B’”, diz. O selo Procel Edifica, que segue o mesmo conceito, é ainda voluntário, apesar da meta de se tornar mandatório. O professor entende que “o governo federal tem que se convencer disso. Todos sabem o que é necessário, o problema é decidir fazer”. Para ele, essa postura está amparada na cultura brasileira de trabalhar com a oferta de energia, dando pouco valor à eficiência energética. “Temos que trabalhar para mudar isso”, acredita.

EFICIÊNCIA NA USP

Marco Saidel coordena o Programa Permanente para Uso Eficiente de Energia na Universidade de São Paulo, criado em 1997 para gerenciar a energia consumida pela USP. “A universidade ganhou muito no uso da energia, que é basicamente elétrica. Nos últimos nove anos, enquanto a USP ampliou muito suas atividades, o consumo praticamente se estabilizou. É difícil estabelecer metas de redução de uso, pois ao contrário de uma indústria, onde é possível medir consumo x produção, na universidade o número de cursos diurnos e noturnos, e de alunos, é muito variável. Estimamos que 60 mil pessoas transitam no campus do Butantã diariamente, o que equivale a uma pequena cidade. Por outro lado, conhecemos bem o consumo, que está bem abaixo de indicadores como o crescimento da área construída, do número de cursos e de alunos. Não significa que atingimos o ideal, pois sempre haverá mais a fazer", explica Saidel.

O programa constatou que os sistemas de Iluminação e de ar condicionado respondem pela maior parte do consumo de energia no campus – o que vem depois é muito pouco. As providências foram substituir as lâmpadas convencionais pelas econômicas, orientar o uso correto dos condicionadores de ar, além de somente adquirir esses equipamentos com o selo Procel. “Entre as fontes renováveis de energia, investimos em geração solar. Temos duas pequenas centrais fotovoltaicas na universidade, reconhecidas pela ANEEL como geradoras de energia: uma com 12 kW e outra com 3 kW. Como a rede interna pertence à USP, geramos energia e jogamos na rede, mas sua produção é rapidamente absorvida pelo edifício onde a central está instalada e pelos prédios vizinhos”, conta.

Por enquanto, essa fonte alternativa responde por, no máximo, 1% do total consumido. Funciona mais como elemento de demonstração e divulgação. Saidel antecipa que será instalado, agora, um conjunto de centrais que perfazem 600 kW. “Mas, se comparamos com os 120 GW/hora/ano consumidos pela universidade – o equivalente ao consumo de uma cidade de 35 mil habitantes –, a geração das centrais solares é mínima. O custo anual de energia de todas as instalações da USP chega a R$ 38 milhões por ano”, informa.

Num ranking de prioridades para que o edifício alcance maior eficiência energética, Saidel elege o projeto arquitetônico e de instalações como fundamental. “Se o projeto não for bem concebido, mesmo utilizando as melhores tecnologias, a eficiência do prédio será baixa. Em igualdade de importância, é preciso empregar tecnologias adequadas e criar uma cultura de bom uso da energia entre os ocupantes do edifício e os responsáveis pela manutenção dos equipamentos. Se eu tenho um bom projeto arquitetônico e recursos ideais, mas não faço manutenção do que foi instalado, com o tempo essa tecnologia se degrada”, diz.

Redação AECweb


COLABOROU PARA ESTA MATÉRIA

ISO 50.001, instrumento para a eficiência energética Marco Antonio Saidel, professor livre-docente do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Atua na área de gestão e uso eficiente de energia e de regulação energética, ministrando disciplinas de graduação, pós-graduação e cursos de especialização. Tem coordenado e participado de projetos de pesquisa junto à ANEEL, ANP, Petrobras, Caixa Econômica Federal, Banco Mundial, CESP, Eletropaulo, Finep, Infraero, BNDES, PROCEL, Eletrobras, Sabesp e diversas prefeituras municipais do Estado de São Paulo. Responde pela Coordenação do PURE USP – Programa para o Uso Eficiente da Energia Elétrica na USP e Coordenação do GEPEA/EPUSP – Grupo de Energia do Departamento de Engenharia de Energia e Automação Elétricas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.