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Ladrilho hidráulico oferece alta resistência a zonas de tráfego intenso

Com produção artesanal, o ladrilho hidráulico ainda chama a atenção de arquitetos, atraídos também pela estética e alta durabilidade

Publicado em: 04/05/2016Atualizado em: 30/10/2023

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

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Uma tendência da arquitetura é usar o ladrilho hidráulico como detalhe (acervo Ornatos Nossa Senhora da Penha).

De origem secular, o ladrilho hidráulico enfrenta hoje a concorrência de linhas de revestimentos cerâmicos que apresentam padronagens características do material, o que vem confundindo o consumidor. A principal diferença, contudo, está no processo produtivo artesanal do ladrilho hidráulico, o mesmo desde sua criação no final do século IX, que resulta em um produto que não é nem cerâmica nem porcelanato, mas pré-moldado de concreto.

A resistência ao impacto, desgaste e abrasão das peças de cimento é obtida através da sua imersão em água – daí o termo hidráulico. “Como qualquer pré-moldado de concreto, a peça reage quimicamente quando mergulhada em água. Sua produção, portanto, não tem qualquer relação com a queima em fornos como ocorre com os materiais cerâmicos”, diz Zilton Michiles, sócio-gerente da Ornatos Nossa Senhora da Penha, especializada no material desde a década de 1930.

Além de ser antiderrapante, o ladrilho hidráulico oferece alta resistência a zonas de tráfego intenso, o que o torna indicado para calçadas, praças, garagens, estacionamentos, rampas para automóveis, ambientes internos, bordas de piscinas, entre outros, oferecendo segurança para as pessoas mesmo quando molhados.

Michiles lembra que, por ser pré-moldada e não queimada, a peça é abrasiva e exige proteção de cera ao longo de sua vida útil – que é de cerca de 30 anos para uso de alto trânsito e de até 80 anos para ambiente residencial.

FABRICAÇÃO DO ELEMENTO

Entre os pré-moldados de concreto, o ladrilho hidráulico é o único fabricado a partir de três elementos, em camadas. “O processo se inicia pela aplicação de desmoldante na fôrma metálica, onde será moldado o ladrilho”, diz o engenheiro Rubens Curti, da área de tecnologia da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP). A primeira camada é constituída de corante e cimento, com consistência pastosa. No caso dos ladrilhos brancos, esta camada é feita de ‘pó de mármore’ (sulfato de alumínio) diluído. A camada intermediária emprega uma mistura de cimento Portland e areia, ou pedrisco. “A preparação seca, intermediária, puxa toda a umidade da camada superficial, evitando a mistura dos materiais inseridos no molde, quando a peça é prensada”, comenta Michiles. A última camada é úmida, envolvendo cimento e areia. A fôrma é fechada e levada para a prensa manual.

“Diferente do processo dos painéis pré-moldados de concreto, curados dentro das fôrmas, os ladrilhos hidráulicos são desmoldados imediatamente, porém com o máximo de cuidado para evitar seu esfacelamento”, acrescenta Michiles. Numa prateleira, a peça ficará apoiada em outra antiga, já curada, por no mínimo 12 horas, até que possa ser manipulada. Então, segue para imersão em água, num tanque, por um período de 8 a 10 horas para a hidratação da camada central, que não recebeu umidade suficiente para a reação química do concreto. O processo é finalizado ao longo de, no máximo, 20 dias, quando ocorre a cura natural da peça.

Qualquer tipo de cimento Portland pode ser utilizado, porém o branco é o mais recomendado quando se deseja fazer ladrilhos coloridos, pois realça melhor as cores
Rubens Curti

“Qualquer tipo de cimento Portland pode ser utilizado, porém o branco é o mais recomendado quando se deseja fazer ladrilhos coloridos, pois realça melhor as cores”, observa Curti. A camada de cimento branco, facial e resistente à abrasão, tem 6 mm de espessura e recebe pigmentação com óxidos de ferro. Michiles conta que os corantes orgânicos são pouco utilizados e indicados somente para atingir determinadas tonalidades, pois não têm comportamento adequado em concreto. “Hoje, o cimento branco é importado, pois não há fabricação nacional, o que pesa no custo do produto adquirido em dólar”, comenta o empresário.

MANUTENÇÃO

De acordo com Michilis, é comum que arquitetos e construtores tenham dúvidas sobre a manutenção do piso em seu período mais crítico, que vai de 1 a 5 anos, dependendo do uso. A recomendação técnica é fazer a limpeza esporádica com detergente de ação profunda ou produtos clorados diluídos em água com sabão abrasivo (granulados ou em pó). Depois de 5 ou 10 anos, principalmente em ambientes comerciais, é preciso executar o lixamento.

Há, também, a possibilidade de limpeza com equipamentos – politrizes planetárias –, o que pode ser feito várias vezes em décadas, sem qualquer prejuízo estético. “Diferente do revestimento cerâmico, o ladrilho hidráulico pede mais manutenção, assim como todo piso de material poroso. Quanto mais lixado, menos poroso e mais bonito fica – exatamente o oposto das cerâmicas”, diz.

Diferente do revestimento cerâmico, o ladrilho hidráulico pede mais manutenção, assim como todo piso de material poroso. Quanto mais lixado, menos poroso e mais bonito fica – exatamente o oposto das cerâmicas
Zilton Michiles

Segundo Michiles, no litoral o hidráulico é imbatível. Por ser abrasivo, quanto mais se pisa com areia, mais bonito fica. Não à toa, é comumente empregado em residências praianas, na pavimentação de varandas e demais ambientes.

Nas construções urbanas, uma tendência da arquitetura é usar o ladrilho hidráulico como detalhe, na forma de tapetes ou peças incrustadas em meio a revestimento cerâmico, madeira ou cimento queimado. A padronagem vai desde a mais tradicional, reproduzindo a arte de determinadas culturas ou períodos históricos (como o colonial), até os atuais desenhos assinados por artistas plásticos e designers, além de projetos personalizados.

PREÇO

Uma pesquisa realizada pela Ornatos em pontos de venda mostrou que os ladrilhos hidráulicos podem ter valores equivalentes aos dos revestimentos cerâmicos que seguem sua padronagem. Peças menores de ladrilho hidráulico, contudo, custam mais que as cerâmicas, em função do seu processo produtivo. O mesmo ocorre com peças fora de padrão utilizadas em restauro, por seu custo de produção mais elevado. Para Michiles, é um erro comparar o preço do hidráulico com os revestimentos fabricados em escala.

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Ladrilhos oferecem segurança mesmo quando molhados
(acervo Ornatos Nossa Senhora da Penha).

RESTAURO

Apesar de o restauro de pisos hidráulicos de edifícios históricos ser a grande paixão de Michiles, ele próprio reconhece que a atividade é comercialmente pouco interessante, pois a remuneração não condiz com o elevado custo de produção e, dependendo dos detalhes, a produtividade pode se limitar a dez peças/dia. Entre outras obras, ele assina a recuperação dos ladrilhos do Teatro Municipal de São Paulo, Mosteiro de São Bento e Palacete Conde de Sarzedas (SP); da Igreja da Candelária (RJ); e do Museu de Olinda (PE).

NORMAS TÉCNICAS

É importante que arquitetos que especificam o ladrilho hidráulico em seus projetos orientem o cliente sobre o produto, seu processo de fabricação e necessidades de manutenção, além de prever a proteção da superfície com resina, após a instalação, principalmente em cozinhas e banheiros. Também é interessante consultar a NBR 9457:1986 – Ladrilho Hidráulico – Especificação. A instalação das peças, que vão de 18 a 20 mm de espessura de acordo com a NBR 9459:1986 – Ladrilho Hidráulico – Formatos e Dimensões, pede mão de obra especializada. Segundo Rubens Curti, a ABCP dispõe de manual com o passo a passo, que envolve base, sub-base e subleito (solo compactado) – etapa prevista na ABNT NBR 9458:1986 – Assentamento de Ladrilho Hidráulico.

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Colaboração técnica

Rubens Curti – Engenheiro civil da área de tecnologia da Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), com atuação em tecnologia de concreto e argamassa. Ministra cursos de formação, atualização e gerenciamento na área de tecnologia de materiais.
Zilton Michiles – Tem formação técnica na área de informática e cursou Comunicação Social no Instituto Unificado Paulista. Participou de treinamentos e seminários voltados ao segmento da construção civil. Atualmente, é sócio-gerente da Ornatos Nossa Senhora da Penha.