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Pastilhas em fachadas: é melhor restaurar ou substituir?

A decisão depende do estudo do percentual das áreas comprometidas. As soluções vão desde a reutilização das peças retiradas até a completa remoção e aplicação de novo revestimento

Publicado em: 17/04/2023

Texto: Redação AECweb/e-Construmarket

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima
(Foto: Airton Magno de Almeida/Shutterstock)

O uso de pastilhas revestindo fachadas marcou boa parte dos edifícios residenciais e comerciais antigos. O recurso foi e continua sendo obrigatório em obras litorâneas, como elemento de proteção contra os efeitos danosos da maresia. “Eram pastilhas cerâmicas quadradas e pequenas, que iam de 2 x 2 cm até, no máximo, 5 x 5 cm”, recorda a engenheira Luciana Maciel, diretora da consultoria The.Eng.

Ao longo das décadas, a solução continua presente na arquitetura, agora em peças maiores, em formato retangular com 5 x 15 cm ou 5 x 10, entre outras, dependendo do fabricante. “A mais usual tem aparência de tijolinho e surgiu como forte tendência em projetos executados nos últimos anos”, comenta.

Quando pastilhas aplicadas há décadas começam a descolar e cair, o condomínio, auxiliado por profissionais especializados em fachadas, se vê diante da decisão de restaurar ou substituir todo o revestimento por outra solução, como novo material cerâmico ou textura. Mas qual decisão é a mais correta? Confira a seguir!

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Restaurar ou substituir

“Restaurar as áreas com novas pastilhas pode ter um resultado esteticamente ruim, pois é difícil, senão impossível, conseguir chegar na mesma tonalidade. O aspecto é de fachada remendada”, observa Luciana Maciel.

Independentemente do percentual da área a ser recomposta, muitas vezes a opção é descartada, pois a falta de uniformidade visual acaba desvalorizando o empreendimento. “Exceto se for uma recomposição pontual em uma ou outra fachada”, diz.

Maciel relata a solução desenvolvida para um edifício comercial paulistano, com cerca de 35 anos. As pastilhas do pavimento térreo foram retiradas cuidadosamente, lavadas e empapeladas. “Em seguida, foram aplicadas nos locais onde havia ocorrido o descolamento. A diferença de tonalidade foi mínima”, destaca. Já o trecho de onde foram retiradas, que é separado do restante da fachada por uma marquise, ganhou pastilhas novas, com ótimo resultado estético.

No entanto, não foi possível encontrar as pastilhas na tonalidade quase preta que cobriam a frente das vigas, com grandes áreas de descolamento. A decisão aprovada pelo condomínio foi pela retirada completa das peças, substituídas por textura na mesma cor. “Defendo sempre soluções que preservam as características originais das fachadas, como fizemos nesse prédio”, observa.

Passo a passo

O primeiro passo da recuperação das fachadas é identificar as áreas de descolamento das placas, através de sondagem por percussão. “Onde for percebido som cavo, as pastilhas devem ser retiradas e propostas as opções”, diz a engenheira. A mais conservadora é o envio das peças para restauração em empresa especializada e o reaproveitamento nos mesmos locais. Caso o material não esteja viável, ainda é possível encontrar similares no comércio especializado em cerâmicas antigas.

Faz parte do procedimento avaliar previamente a condição do emboço nesses pontos. Se for constatado que a massa está desagregada, é feita a recomposição da base para posterior assentamento das pastilhas.

Substituição completa das pastilhas

Quando a área comprometida é percentualmente grande o suficiente para justificar a remoção de todo o revestimento antigo, há cuidados complementares a se tomar. A aplicação de novas pastilhas cerâmicas exige uma avaliação mais aprofundada do emboço, inclusive com ensaios de aderência. “Porque a solicitação dessas peças pode ser maior e a massa antiga não ter a resistência necessária. A preocupação é que essa intervenção pode causar um esforço superior e resultar no descolamento completo da massa e da nova pastilha”, alerta Maciel.

Nesse cenário, o emboço deve ser completamente retirado até chegar na alvenaria. Depois de refeito, é colocada a nova cerâmica. “Deve ser realizada, também, uma análise de custo que, certamente, será maior. Por isso, sempre levamos ao condomínio várias alternativas”, comenta.

A textura como substituta das pastilhas removidas é uma ótima solução, de acordo com a consultora. “Mas, atenção, há no mercado produtos de qualidades variadas”, comenta, informando que as melhores são as que atendem aos parâmetros da norma de tintas e texturas. Os requisitos abrangem estanqueidade da fachada e proteção do emboço, entre outros.

“Nos últimos anos, houve importante desenvolvimento desses produtos, chegando às texturas elastoméricas que conferem boa proteção às fachadas”, explica a engenheira.

Equipamentos e duração da obra

Essa é uma obra que envolve instalação de equipamentos, desde cadeirinhas a balancins ou andaimes fachadeiros, dependendo das dimensões do prédio e da intervenção.
A retirada depende da integridade do revestimento, se estiver bem solto são usados martelinho e ponteira. Mas há situações que exigem cortes com serra mármore, delimitando a área. “É um trabalho que deve ser feito com muito cuidado, para não danificar o revestimento que está íntegro”, aconselha.

A duração da execução é variável. Maciel já acompanhou obra nas quatro fachadas de um edifício, que demorou cerca de oito meses. Em outras, maiores, o trabalho de recuperação chegou a quase dois anos.

“Na etapa de planejamento, decide-se se as equipes vão tratar simultaneamente as quatro fachadas ou uma por vez. Em geral, o processo é gradativo para não causar grande impacto no condomínio.”

Fissuras e eflorescências

A retirada completa das pastilhas geralmente é complementada por fina camada de argamassa, com a função de regularizar a área. “Para tanto, é fundamental garantir que a camada antiga está aderida à base estrutural – suporte necessário à nova camada. Essa deve ter resistência e aderência adequadas para evitar descolamento no futuro”, explica.

Durante o procedimento, é possível que sejam identificadas patologias na fachada, como fissuras e eflorescências, que devem ser tratadas antes da aplicação da nova argamassa. Dependendo do grau das fissuras, podem ser inseridas telas para dissipar as tensões, de maneira que não retornem no futuro.

“Outra solução é a execução de juntas de movimentação (frisos) a cada pavimento, geralmente na altura superior das janelas – região que concentra mais as tensões, ocasionando as fissuras”, recomenda, lembrando que as soluções técnicas dependem do mapeamento prévio da patologia.

Colaboração técnica

Luciana Maciel – É Engenheira Civil pela Universidade Federal da Bahia – UFBA (1994), mestre em Engenharia Civil (1997) e doutoranda pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo – USP. Projetista de revestimentos de fachada em argamassa e cerâmica desde 1998; consultora em sistemas de gestão integrada – Qualidade, Segurança e Meio Ambiente desde 1998; consultora e auditora da qualidade, meio ambiente e segurança (ISO 9001, ISO 14001 e ISO 45001). Autora dos livros “Projeto e Execução de Revestimento de Argamassa” e “Projeto e Execução de Revestimento Cerâmico” da editora O Nome da Rosa. É diretora da THE.ENG, empresa de consultoria em engenharia, desde 2015.