Pórticos rolantes agregam racionalidade à movimentação de cargas
Projetados e construídos de acordo com a necessidade de uso, esses equipamentos são indicados quando a instalação de pontes rolantes não é possível
Os pórticos rolantes têm como principal característica a movimentação da carga nos eixos longitudinal, lateral e vertical (Foto: Nick_Nick / shutterstock)
Indicados para a movimentação de cargas pesadas na indústria e em canteiros de obras para o manuseio de pré-moldados, os pórticos rolantes são equipamentos versáteis que podem ser utilizados a céu aberto ou dentro de um galpão. Eles diferem das pontes rolantes por terem estrutura autônoma. Como são apoiados em trilhos fixos a uma viga presa no solo, não dependem da estrutura do edifício para se sustentar. Exigem apenas que haja alguma alimentação elétrica e piso regular e compactado.
Os pórticos rolantes têm como principal característica a movimentação da carga nos eixos longitudinal, lateral e vertical. Esses equipamentos têm a seu favor o baixo custo de manutenção e de operação, e a maior segurança em comparação aos guindastes. Também apresentam velocidades de elevação e translação ajustáveis às necessidades operacionais de cada atividade. Sua capacidade de carga pode atingir 80 toneladas e seu vão chega a 40 metros, dependendo do projeto.
Em contrapartida, os pórticos interferem no tráfego no piso e apresentam algumas limitações para a movimentação das cargas pois são menos flexíveis que os guindastes. Como as pontes rolantes, necessitam de um estudo prévio de viabilidade que considere o local da instalação e a natureza da carga a ser movimentada. “Por todos esses fatores, esses equipamentos são economicamente viáveis em instalações de longo prazo e com operações repetidas em ciclos similares”, afirma o engenheiro-mecânico Paulo Oscar Auler Neto, vice-presidente da Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema).
TIPOLOGIAS
Há vários tipos de pórticos rolantes. Os mais comuns são os modelos sobre trilhos, aplicados em pátios industriais, canteiros de obras, pátios de pré-moldados e de armazenamento. Alimentados por energia elétrica, eles se movimentam somente no sentido da via de rolamento (trilhos). Mas há também os pórticos rolantes sobre pneus, com aplicação em operações portuárias, pátios de containers, estaleiros e marinas. Alimentados por motores diesel, são operados por cabine e trabalham em ambiente aberto em pátios que exigem deslocamentos de carga em vários sentidos.
O tipo de alimentação elétrica é outro fator de diferenciação dos pórticos e deve ser definido em função da distância a ser percorrida, do tipo de aplicação e das interferências existentes. Há, basicamente, quatro tecnologias usuais: cabo elétrico e enrolador; alimentação aérea, com postes e cabos flexíveis; barramento elétrico com escovas de contato e, finalmente, gerador montado na estrutura do pórtico. “Cada sistema tem sua característica e uma grande variação de custos”, comenta Auler Neto, lembrando que este é um fator crítico no estudo de viabilidade na utilização dos pórticos.
PÓRTICO ROLANTE UNIVIGA E SEMIPÓRTICO
Os pórticos rolantes podem apresentar diferentes formatos para se adequarem às exigências de cada uso. Os principais são o monobloco, também chamado de univiga, e o dupla-viga. Como o nome faz supor, o pórtico univiga é fabricado com uma viga única principal, geralmente viga-caixão. Já o dupla-viga é composto por duas vigas principais, aumentando a capacidade de elevação de carga. Por isso eles são indicados para situações que exigem cargas acima de 15 toneladas.
Há, ainda, o semipórtico, uma espécie de misto entre pórtico e ponte rolante. Esse equipamento possui somente um lado com colunas. Na sua outra extremidade, o apoio ocorre por uma viga apoiada na parte superior de um edifício, assim como acontece nas pontes rolantes.
PÓRTICO ROLANTE: PROJETO
Para especificação e seleção de um pórtico é fundamental que sejam observados os seguintes fatores:
- Carga a ser levantada
- Fator de utilização (frequência de utilização na capacidade máxima e a quantidade de ciclos em um intervalo de tempo)
- Aplicação interna ou externa
- Altura livre do gancho sobre o piso
- Bitola entre os trilhos
- Tipo de alimentação elétrica
- Velocidade para os três movimentos
- Tipo de controle de velocidade: variador de frequência ou banco de resistência
- Tipo de controle de operação
- Local de instalação, origem e destino da carga
- Interferências com fatores externos (vegetação, muros etc.)
- Emissão de ruído no caso de utilização noturna em áreas urbanas
- Necessidade de proteção catódica e pintura especial em aplicações em ambientes agressivos (químicos ou marítimo)
- Itens de segurança
- Posição e quantidade de refletores para o caso de utilização noturna
Como os pórticos possuem uma estrutura que atua no nível do piso e, consequentemente, interage com o ambiente de trabalho de pessoas, a operação deve seguir rigorosos procedimentos de segurança, que envolvem desde o treinamento dos operadores até a utilização de sistemas de sinalização visual e sonora. “Para evitar acidentes é recomendável o uso de sistema de sensor de presença monitorado por rele de segurança próximo à região da cabeceira inferior”, afirma o engenheiro-mecânico Leandro Silva, gerente de vendas da Stahl Talhas.
MOVIMENTAÇÃO CRÍTICADurante a construção da linha 4 do metrô no Rio de Janeiro, pórticos rolantes foram utilizados em vários trechos para agilizar a subida e descida de material até os túneis. No trecho de Ipanema, por exemplo, foram instalados pórticos dupla-viga para atender a montagem do TBM (tatuzão) e a fábrica de aduelas pré-moldadas. Os equipamentos tinham capacidade para suportar 45 toneladas e foram fornecidos ao consórcio Rio Barra (construtoras Odebrecht, Queiroz Galvão e Carioca Engenharia) pela CSM.
Já em Camaçari (BA), um semipórtico rolante está em funcionamento na unidade de produção da Ford desde 2011. O equipamento, com capacidade de 50 t, movimenta os moldes do setor de estamparia. Leandro Silva, gerente de vendas da Stahl, empresa que forneceu o equipamento, conta que a opção por esse modelo se deu em função do local da instalação não permitir a montagem de estrutura auxiliar permanente. “Isso poderia prejudicar o fluxo de materiais no ambiente, além de aumentar o risco de acidentes de colisão das peças, já que acima do semipórtico há uma ponte rolante que faz a movimentação de outros materiais”, diz Silva.
COLABORAÇÃO TÉCNICA
- Paulo Oscar Auler Neto – Engenheiro-mecânico, é vice-presidente da Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração (Sobratema) e superintendente de Aquisição de Equipamentos da Odebrecht.
- Leandro Silva – Engenheiro-mecânico, gerente de vendas da Stahl Talhas.