Produção de alumínio primário sem perspectiva de investimento
Presidente da ABAL diz que fabricantes de esquadrias poderão enfrentar problemas a médio e longo prazo. No futuro, esquadrias prontas importadas devem prevalecer
Entrevista: Adjarma Azevedo
Redação AECweb
Foi acionado o sinal de alerta pela indústria do alumínio instalada no país: por falta de investimento na ampliação do parque fabril de lingotes, o país poderá passar de exportador a importador até 2013. Adjarma Azevedo, presidente da ABAL – Associação Brasileira do Alumínio -, explica que o alto custo da energia elétrica no país e a falta de um plano nacional de desenvolvimento industrial desestimulam o crescimento do setor. Paralelamente, a expansão da construção civil e de outras áreas da economia, será responsável, este ano, pelo crescimento de 21% do consumo interno, de acordo com as perspectivas da entidade. Consequência dessa pressão, o fornecimento de perfis para as indústrias de esquadrias de alumínio têm, hoje, prazos dilatados.
AECweb - Qual a perspectiva de crescimento da produção de alumínio em 2010?
Adjarma Azevedo - O mercado interno de alumínio transformado vem crescendo nos últimos dez anos, com um único período de 10% de queda, em 2009, em função da crise internacional. A perspectiva para este ano é de 21% de crescimento, o equivalente à produção de cerca de um milhão de toneladas. O consumo interno deverá estar próximo de 1,25 milhão de toneladas. Diante da velocidade com que o Brasil está se desenvolvendo, do volume de encomendas à indústria, Copa de 2014, Olimpíadas, tudo está favorável ao consumo interno de alumínio transformado em insumos como lâminas, perfis, folhas, fundição, pó, cabos de transmissão de energia.
AECweb - Então, o material já está sendo importado?
Adjarma Azevedo - Sim, mas de alumínio em chapas para aviões, por exemplo, produto que não é fabricado no Brasil. Está ocorrendo muita importação da China de folhas para embalagens flexíveis para blister de medicamentos e tetra pak, para uso doméstico e revestimento térmico. Essa importação é preocupante.
AECweb - Quais as razões dessa tendência?
Adjarma Azevedo - O Brasil não tem nenhum investimento previsto de produção de alumínio primário. A última fábrica instalada no país foi em 1985. Essa falta de investimento no setor – a principal razão é o preço da energia elétrica - está acarretando um déficit entre a oferta e a demanda. Segundo previsões da ABAL, a partir de 2012 o Brasil passará a importar alumínio transformado, saída mais fácil e mais econômica do que comprar o metal primário - a capacidade de produção atual de lingotes é de 1,6 milhão de toneladas. E é isso que preocupa, pois, se as empresas começarem a importar alumínio transformado, haverá uma desestruturação total da cadeia produtiva do alumínio como a conhecemos hoje.
Adjarma Azevedo - A importação, na quantidade que vem ocorrendo hoje, ainda não é preocupante. Estamos atentos e já levamos ao conhecimento do governo. Dependendo da forma que essa importação vier, vamos desindustrializar o país, pois passaremos a exportar bauxita e alumina, que serão transformadas lá fora e passaremos a importar o produto acabado. É uma regressão total.
AECweb - E qual é a solução que a ABAL vê para o problema?
Adjarma Azevedo - Nos anos 80, o governo tinha o II Plano Nacional de Desenvolvimento que identificava os segmentos fundamentais para economia do país, como a indústria do alumínio, e punha em prática políticas industriais que ajudavam essas empresas a se desenvolver. Esse problema só será resolvido se o governo criar, novamente, políticas industriais que possibilitem e estimulem o desenvolvimento dessas indústrias de base.
AECweb - A indústria do alumínio tem iniciativas para geração própria de energia?
Adjarma Azevedo - A indústria do alumínio consome anualmente 26 mil GW/hora, sendo que 33% desse total, ou seja, 8 mil GW é autoproduzido pela indústria. Para se ter uma idéia de grandeza, uma fábrica que produz 500 mil toneladas, deve consumir 600 MW/hora – talvez, mais do que o estado do Piauí. Até 2014, o percentual de autoprodução subirá em 50%, resultado do investimento de consórcios na construção de hidrelétricas envolvendo indústrias do setor, como as de Serra do Facão e Estreito. Porém, essa energia dificilmente será usada para novos projetos, pois será destinada a manter as fábricas atuais.
AECweb - Os fabricantes de esquadrias de alumínio serão afetados por esse aumento no volume de importação?
Adjarma Azevedo - Talvez o setor fabricante de esquadrias seja um dos elos que mais terá problemas a médio e longo prazo, pois, a falta de alumínio primário significa falta de suprimento para os extrusores, limitando a produção de esquadrias. Os extrusores no Brasil estão no limite do suprimento, a menos que comecem a importar lingote, de forma organizada – aí, poderão manter o suprimento. O problema é a importação de esquadrias prontas. Não duvido que isto venha a acontecer no futuro. Tudo é possível, temos que atuar para cercear esse tipo de importação e para resolver o problema de fornecimento dos extrusores. A ABAL está trabalhando nesse sentido e já estamos conversando com a AFEAL para unir forças.
AECweb - Quais outros produtos de alumínio que poderão ser importados?
Adjarma Azevedo - Hoje, a importação de peças para automóveis é avassaladora. Rodas de alumínio, por exemplo, estão sendo importadas da China, por serem muito mais baratas que as produzidas aqui. O governo já anunciou que acabará com os atuais 40% de redução nas tarifas de importação das autopeças nos próximos seis meses. Essa é uma luta ganha pela ABAL e nós continuamos trabalhando para que a importação do alumínio não prejudique a indústria nacional.
AECweb - O Brasil continua exportando alumínio?
Adjarma Azevedo - Por força de compromissos internacionais, o Brasil continua exportando alumínio primário. Este ano, a previsão é exportar 600 mil toneladas. Mas, até 2012, 2013, a oferta deverá ser menor que a demanda, obrigando a indústria a importar o metal.
AECweb - O fornecimento de perfis de alumínio já está com prazos dilatados?
Adjarma Azevedo - A construção civil fugiu dos patamares normais de crescimento. Várias empresas estão comprando prensas de extrusão para aumentar a capacidade produtiva. Eu acredito que esse backlog de entrega será superado até o final do ano. Outro exemplo é a indústria de lata. Empresas como a Ambev estão importando 1,5 bilhão de latas, porque os fabricantes não estão dando conta da demanda, que está crescendo substancialmente. Essa indústria também está investindo, devendo chegar até o final do ano a uma capacidade adicional de 3 bilhões de latas, que se somarão aos atuais 16,8 bilhões. A preocupação da ABAL é com o que pode acontecer lá na frente, caso nós tenhamos que enfrentar uma avalanche de importações a preços muito inferiores aos nossos. Nós já levamos isso ao conhecimento do ministro Miguel Jorge e estamos preparando um documento, juntamente com a Fundação Getúlio Vargas, com propostas do setor que será entregue aos candidatos a presidência.
Redação AECweb