Produtos desenhados por arquitetos complementam projeto arquitetônico
Personalização de peças expande campo de atuação dos profissionais projetistas, supre ausências do mercado e rende premiações
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Considerado uma extensão ou complemento da atividade dos arquitetos, o design de produtos vem ganhando cada vez mais espaço nos escritórios de arquitetura. Dos mais experientes aos mais jovens, profissionais projetistas vêm fazendo mobiliário e outros tipos de peças. Alguns de forma mais artesanal, outros de forma mais estruturada, por meio de parcerias com a indústria.
"É uma atividade a que a gente se propõe para o enriquecimento do cotidiano; para enriquecimento das atividades humanas", relata o arquiteto Rodrigo Simão, que vê o design de interiores como um aprofundamento da arquitetura. Para ele, ambos se beneficiam da arte, de forma funcional, para interferir na vida das pessoas. "A principal diferença é que o design tem um custo mais acessível do que o da arquitetura, podendo, assim, complementar uma construção de uma forma mais econômica, mas com a mesma proposta", assinala.
Cadeira Feijão disposta sobre assoalho de madeira (Acervo/ Rodrigo SImão)
MOTIVAÇÕES
Finalista três vezes do Prêmio Salão Designer, Simão conta que atua com design personalizado por questões institucionais. "Isso valoriza meu papel como arquiteto, proporcionando premiações", pontua.
É uma atividade a que a gente se propõe para o enriquecimento do cotidiano; para enriquecimento das atividades humanasRodrigo Simão
Investindo no design de produtos desde 2002, sua primeira peça criada foi a cadeira de balanço Feijão, que foi vendida em leilão na Piasa, galeria de arte em Paris. Segundo o arquiteto, o investimento no design tem um custo-benefício bastante interessante. "Nunca imaginei que minha cadeira seria leiloada em Paris, além de peças que tenho lá em Miami", enaltece.
Outro motivo que serve de combustível para os arquitetos desenvolverem produtos é a ausência de peças específicas no mercado. "Muitas vezes, não encontramos aquilo de que precisamos e desenhamos para suprir uma demanda do projeto", diz Mila Strauss, arquiteta titular do escritório MM18 Arquitetura.
Apesar de as peças surgirem conforme necessidade do projeto, a arquiteta conta que o escritório toca um projeto de longo prazo para criar uma marca e colocar os produtos em linha. "Como fazemos bastante projeto comercial, temos mais facilidade em desenvolver", explica Strauss.
Muitas vezes, não encontramos aquilo de que precisamos e desenhamos para suprir uma demanda do projetoMila Strauss
PROTÓTIPOS
Para os arquitetos, um dos principais desafios na concepção das peças é alinhar questões estéticas e funcionais. "Uma cadeira é feita para sentar. Uma poltrona é feita para descansar. Uma mesa; para comer ou apoiar. Essa essência não pode ser perdida em virtude da estética", pondera o arquiteto João Paulo Daolio, titular do escritório Obra Arquitetos.
Apesar de a literatura técnica proporcionar segurança quanto ao dimensionamento e funcionalidade dos produtos, é necessário testá-los ao longo do desenvolvimento através de protótipos. "Os protótipos permitem o aprimoramento da obra, oferecendo uma previsão sobre se vale a pena ou não projetar", completa o arquiteto.
PROCESSO PRODUTIVO
Em geral, o design de produtos segue uma linguagem semelhante ao conceito arquitetônico. Uma das principais características que Daolio destaca é a mistura de materiais. "Quando predominam no projeto arquitetônico materiais como concreto e aço, procuro desenhar móveis em estrutura mista, de madeira e aço, por exemplo."
Cadeira Concha em frente ao sol (Acervo/ Rodrigo SImão)
Segundo ele, a madeira é um elemento pesado que dá uma carga para a construção. Já o aço confere uma estruturada mais arrojada, sendo colocado na parte que a estrutura é mais solicitada, enquanto a madeira é utilizada para preencher.
A otimização de recursos, o uso responsável da matéria-prima, a exploração da potencialidade dos materiais e a utilização de processos artesanais são elementos comuns à prática do design e da arquitetura. "Desenvolvo a maioria das peças de design a partir de materiais que encontro no meu cotidiano e que estão disponíveis para reaproveitamento, como resíduos de obra, chapas de aço, peças de assoalho e pedaços de madeira de variados formatos que ganham novas formas", explica Simão.
Já o processo de fabricação envolve deslocamentos mínimos e mão de obra local, buscando minimizar os impactos no meio ambiente. "Ao utilizar resíduos de madeiras nobres, cujo destino seria o lixo, se investe mais em mão de obra do que em extrativismo, poupando custos de transporte e descarte, e principalmente os custos ambientais envolvidos", destaca Simão.
RECONHECIMENTO INTERNACIONALDe acordo com Simão, assim como a arquitetura, o design brasileiro é reconhecido internacionalmente por diversos aspectos, entre eles a matéria-prima utilizada e a criatividade do brasileiro. “Fora do Brasil não tem madeira de lei; de ciclo longe. Portanto, é a irreverência aliada à qualidade. Além disso, a mão de obra de pedreiros, marceneiros, serralheiros e artesãos expande o campo de possibilidade criativo, que é difícil conseguir em outros lugares", constata.
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Colaboração técnica
- João Paulo Daolio – Formado pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), é titular do escritório Obra Arquitetos.
- Mila Strauss – Arquiteta titular do escritório MM18 Arquitetura.
- Rodrigo Simão – Formado em arquitetura e urbanismo pela FAU/UFRJ, atua projetando e construindo obras de todos os portes.