Projeto de coberturas metálicas deve dar atenção extra à ação dos ventos
Leveza de telhas e de estruturas de suporte torna o contraventamento fundamental para garantir a estabilidade em muitas situações. Saiba mais
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Segundo a norma ABNT NBR 6123, o cálculo da força do vento sobre uma cobertura deve considerar diversos fatores, como as características da edificação e a velocidade básica do vento na região (foto: M2020/shutterstock)
Um fator que induz o uso de coberturas metálicas é o baixo peso das telhas e a possibilidade de usar perfis esbeltos. Essas características, embora favoráveis, fazem com que o vento seja uma força importante a ser considerada no dimensionamento de telhados de aço e de alumínio.
Quando solicitadas pela ação dos ventos, as coberturas metálicas podem apresentar deslocamentos horizontais e verticais que geram sensação de insegurança aos usuários e, em casos mais extremos, podem levar ao colapso. O vento é uma ação variável que atua na direção perpendicular à superfície de obstrução. Sua influência é ainda mais crítica em construções como pavilhões e pátios industriais, que geralmente possuem vãos generosos, pé-direito elevado, estrutura e fechamentos leves.
Estruturas metálicas para telhados
Coberturas metálicas arquitetônicas
COMO CALCULAR O EFEITO DO VENTO?
A principal referência para o cálculo das pressões provocadas pelo vento em coberturas é a ABNT NBR 6123 - Forças devidas ao vento em edificações, atualmente em fase de revisão.
"Essa norma contém tabelas e ábacos que permitem uma boa avaliação dos coeficientes aerodinâmicos das construções regulares mais usuais, permitindo se chegar aos carregamentos estáticos equivalentes de forma rápida e segura", diz o engenheiro Flávio D' Alambert, projetista estrutural especializado em estruturas metálicas.
De acordo com a norma, o cálculo da força do vento sobre uma cobertura deve levar em conta as características da edificação, a velocidade básica do vento na região, além dos fatores topográfico e de rugosidade do terreno, ou seja, tipo e altura dos obstáculos à passagem do vento.
O dimensionamento é impactado, ainda, pelo coeficiente de pressão externa e interna, este último, relacionado às dimensões e localizações das aberturas no edifício. Também entra na conta o fator estatístico, variável em função do uso destinado à edificação.
O pesquisador do IPT, Ciro José Ribeiro Villela Araújo, explica que o tipo de telha utilizado não altera o efeito do vento na estrutura. O mais importante, nesse caso, é o dimensionamento da estrutura de suporte das telhas, como o tipo de terça utilizada, distanciamentos de terças, tesouras etc.
CONTRAVENTAMENTO DE COBERTURAS METÁLICAS
Cabe ao contraventamento promover a estabilidade global do sistema bem como a distribuição das ações entre os componentes estruturaisMaximiliano Malite
Os contraventamentos são elementos estruturais que, como o próprio nome indica, ajudam a manter a estrutura segura durante as incidências de vento. "Cabe ao contraventamento promover a estabilidade global do sistema bem como a distribuição das ações entre os componentes estruturais", comenta o professor Maximiliano Malite, da Universidade de São Paulo. Segundo ele, muitas falhas estruturais em coberturas metálicas decorrem de contraventamentos ineficientes ou até mesmo inexistentes.
“Como as telhas de aço e de alumínio estão entre as mais leves, o efeito da sucção é mais significativo em comparação às coberturas com telhas mais pesadas. Daí a importância de se dar atenção ao posicionamento e à distribuição dos contraventamentos de modo que eles sejam capazes de distribuir cargas e esforços horizontais para pontos rígidos da estrutura, como os pilares”, acrescenta Araújo.
Como as telhas de aço e de alumínio estão entre as mais leves, o efeito da sucção é mais significativo em comparação às coberturas com telhas mais pesadasCiro José Ribeiro Villela Araújo
ENSAIOS LABORATORIAIS
Para edificações com formas, dimensões e localização fora do comum, ou seja, não abordadas pela ABNT NBR 6123, o dimensionamento do contraventamento pode exigir ensaios laboratoriais, como os de túneis de vento. É o caso, por exemplo, de coberturas de arenas esportivas e de ginásios.
Tais ensaios devem ser realizados sempre que uma construção apresentar geometria única. Eles também devem ser aplicados quando a estrutura apresenta dimensões muito superiores às construções do entorno, ou ainda, quando ela pode influenciar e mesmo alterar o modo de circulação do ar no local.
No túnel de vento são retratadas, em escala reduzida, as condições da topografia, vizinhança, geometria da edificação e todos os fatores que possam interferir na determinação dos carregamentos equivalentesFlávio D' Alambert
"No túnel de vento são retratadas, em escala reduzida, as condições da topografia, vizinhança, geometria da edificação e todos os fatores que possam interferir na determinação dos carregamentos equivalentes", explica Flávio D' Alambert. Ele conta que há, basicamente dois tipos de ensaios realizados: o modelo rígido (estático) e o aeroelástico (dinâmico). "O primeiro, mais utilizado, fornece as ações equivalentes estáticas do vento em determinada edificação. O segundo leva em conta outros parâmetros e é recomendado para estruturas com particularidades de flexibilidade, nas quais o fator dinâmico passa a ter importância muito grande", conclui.
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Colaboração técnica
- Ciro José Ribeiro Villela Araújo – Engenheiro civil formado pelo Centro Universitário da FEI. É mestre e doutorando em Engenharia Civil na área de Estruturas pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Especialista em perícias de engenharia e avaliações, é responsável pela Seção de Engenharia de Estruturas do IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo).
- Maximiliano Malite – Engenheiro civil com mestrado e doutorado em Engenharia de Estruturas pela Universidade de São Paulo. É professor associado da Universidade de São Paulo.
- Flávio D' Alambert – Engenheiro civil formado pela Universidade Mackenzie, é projetista estrutural especializado em estruturas metálicas e diretor do escritório Projeto Alpha.