Rec Berrini, o próximo greenbuilding
Engenheiro Pedro Keleti fala sobre as tecnologias sustentáveis utilizadas na obra do Rec Berrini, o novo prédio verde do país.
Entrevista: Pedro Keleti
Nasce no número 1400 da concorrida avenida Luis Carlos Berrini o próximo ‘prédio verde’ do país, o Rec Berrini, com 140 m de altura, pré-certificado pelo USGBC com o LEED Gold, mas que buscará a modalidade máxima – Platinum. Quem fala ao AECweb sobre a obra é o engenheiro Pedro Keleti, gerente de Contratos do Rec Berrini, construído pela Hochtief. “Trata-se de um empreendimento comercial de cerca de 100 mil m², com 35 pavimentos e cinco subsolos, garagem para 1,6 mil carros, laje de 1805 m² cada e área locável de 52,5 mil m²”, explica. Ele detalha as soluções de projeto e tecnologias sustentáveis embarcadas nessa obra, que utiliza, pela primeira vez no país, o placing boom – mastro distribuidor de concreto.
Redação AECweb
AECweb – Quem é o incorporador do Rec Berrini?
Keleti - É um fundo de investimentos constituído por professores da Universidade Harvard, dos Estados Unidos. A administração é da Prosperitas, uma das maiores gestoras de Private Equity Imobiliário do país. A arquitetura é assinada pelo escritório Aflalo & Gasperini e o projeto de concreto armado é da JKMF. Contamos com a consultoria do CTE para a obtenção da certificação LEED. A obra teve início em março de 2009, com término previsto para abril de 2011.
AECweb – Quais são as principais tecnologia e práticas sustentáveis dessa obra?
Keleti - Obtivemos 28 pontos pelo projeto e 12 pontos na obra para a pré-certificação LEED Gold. A atenção principal foi dada à eficiência energética do edifício, que começa com a fachada, que teve a consultoria de Paulo Duarte. Ela adota vidros Low-e de alta performance, da Guardian, laminados no Brasil pela Glassec, com espessuras que vão de 12 mm a 16 mm, em tom cinza e, nas frentes de laje, branco leitoso. A solução vai gerar uma redução no consumo de energia entre 30% e 40%. O projeto da fachada cortina unitizada é da alemã Schüco e a execução da Artalum, testada no túnel de vento da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
AECweb – Haverá soluções de automação?
Keleti - Não adotaremos nenhuma solução de automação de iluminação ou de fachadas. O sombreamento das fachadas ficará por conta dos ocupantes, com a especificação de instalação de cortina rolô. Já os 23 elevadores são de alta performance, com velocidade de 5 m/s, da Atlas Shindler, importados da Suíça.
AECweb – Como foi equacionada a economia de água?
Keleti - Será implantado sistema de tratamento de água de chuva e de outras fontes, para reuso na irrigação dos jardins, lavagem das garagens e áreas externas e nas descargas de sanitários. Adotamos, também, caixas acopladas com descarga de 9 litros, que é menos da metade do sistema convencional.
AECweb – Quais as práticas sustentáveis adotadas no canteiro?
Keleti - Temos algumas ações mitigatórias, como o lava-rodas para os caminhões, implantado desde a terraplanagem e, agora, menos usado porque já estamos trabalhando no seco, em cima de lajes concluídas. Nesta fase, entrou em cena o lava-bicas para os caminhões betoneiras. Toda essa água utilizada é encaminhada para uma caixa de decantação. Ali ficam depositados os restos de areia e cimento, enquanto a água livre de resíduos sólidos é enviada para a rede pública. Fazemos a varrição diária das calçadas e, quando necessário, da rua, inclusive com a colocação de rede metálica nos bueiros para evitar a passagem de resíduos maiores. Outro recurso é o lava-botas e, ainda, área para fumantes. A obra conta com controle da qualidade do ar e, quando o nível de poeira está alto instalamos ventiladores com pulverizadores de água.
Keleti - Apesar de não previsto no projeto original, optamos por banheiros prontos – uma inovação com ganho de qualidade e produtividade, e que traz o benefício de evitar desperdício – um dos critérios do LEED para o qual temos metas a serem cumpridas. No heliponto, adotamos a solução de estrutura metálica, que também está gerando ganho de produtividade.
AECweb – Como a Hotchief chegou à tecnologia de bombeamento de concreto?
Keleti - Tínhamos um problema, que conseguimos detectar no começo da obra, de um volume muito grande de concreto a ser lançado por laje. No planejamento feito, a previsão inicial era de executar essas lajes em seis dias cada uma. Isto representaria um volume de 620 m³. Optamos por fazer em duas etapas: na primeira, 320 m³ e na segunda, 300 m³. Com o uso de equipamentos convencionais como grua e bomba, constatamos que não teríamos condições de cumprir os prazos. Foi quando desenvolvemos, junto com a Kaiobá, o placing boom – mastro distribuidor de concreto. Foi uma longa e árdua discussão, pois esse custo não estava previsto no orçamento e nem havia qualquer estudo interno anterior sobre essa tecnologia. Mas, a decisão foi pela contratação da empresa, que instalou o mastro no começo de janeiro deste ano e já estamos finalizando a estrutura. Com o placing boom reduzimos de nove para seis dias a execução da estrutura, o equivalente a dois meses.
AECweb – Mas houve redução também de custos indiretos?
Keleti - Sim. Não tenho ainda o balanço fechado, mas houve uma redução do pessoal de distribuição do concreto na laje que, inicialmente, era uma equipe de dez funcionários e que acabou ficando com duas pessoas, além de outras atividades de concretagem de pilares. A tecnologia implementada pela brasileira Kaiobá em parceria com a norte-americana C&C Concrete Pumping foi utilizada no Brasil pela primeira vez em nosso canteiro e vem criando grande interesse no mercado.
Redação AECweb
Pedro Keleti é graduado em Engenharia Civil pela Universidade Mackenzie - São Paulo em 1970, e pós graduado em Administração de Empresas – FGV – São Paulo em 1979. Certificado em PMI - Project Management Institute, preparando-me para o PMP, além curso de Gestão de Contratos e muitos outros.