Reciclagem do PVC contribui para construção sustentável
Miguel Bahiense, diretor-executivo do Instituto do PVC, fala sobre a reciclagem do material
O PVC, um dos plásticos mais produzidos no mundo, é de ampla utilização como componente na fabricação de diversos materiais de construção devido à longa vida útil – de, no mínimo, 50 anos. Além dessa característica, o produto de PVC é reciclável, como explica Miguel Bahiense, diretor-executivo do Instituto do PVC, em entrevista ao AEC web.
AEC web – Qual o teor de reciclagem do PVC?
O PVC é um material que pode ser reciclado diversas vezes devido à sua composição química. Eventualmente, podem ocorrer problemas no processo de reciclagem, como a má lavagem do material, ou a falta de regulagem do maquinário. Quando isso ocorre, são adicionados novos aditivos e misturados com uma quantidade de resina para recuperar as propriedades perdidas.
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AEC web – Como é o processo de reciclagem?
Existem três tipos de reciclagem: química, energética e mecânica. Na química, o PVC volta a ser matéria petroquímica, podendo ser utilizado novamente na cadeia. Na energética, retira-se o calor intrínseco do PVC, que pode ser transformado em energia elétrica. Já a reciclagem mecânica transforma o produto de PVC em um novo, sem processo químico. Após a lavagem, o PVC é moído, entra em uma máquina e é transformado em um novo produto. A mecânica é a única praticada no Brasil.
AEC web – Por quê?
Para o Brasil, os equipamentos que fazem a reciclagem energética são muito caros, porém do ponto de vista ambiental, as emissões são completamente seguras. O processo químico ainda está em desenvolvimento nos países mais ricos, estando na frente a Alemanha e Japão. De maneira geral, ainda estamos em fase laboratorial de materiais. Mas, nos três casos é preciso ter volume de resíduo para operar. A indústria de reciclagem do PVC no Brasil tem um nível operacional de 75%, ou seja, ela é 25% ociosa. Há um déficit de resíduo a ser reciclado, devido à falta de coleta seletiva nas cidades brasileiras. Entre 100 e 150 cidades brasileiras têm algum sistema de coleta seletiva que, dificilmente, atinge a região por completo. São mais de 5 500 municípios, portanto é uma realidade muito aquém da necessidade.
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AEC web – Qual a taxa de reciclagem do PVC?
Em 1997, pela primeira vez foi medido o crescimento da reciclagem do PVC, registrando a taxa de 9%. O último índice, de 2006, foi de 14,7%. No Brasil a reciclagem está ligada ao fator social, sendo os catadores de resíduos responsáveis por esse crescimento de dois dígitos. Se houvesse um sistema mais abrangente de coleta, com certeza esse crescimento seria muito maior. Um dado importante é que a pouca quantidade de resíduos coletados também está relacionada ao fato da longa vida útil do PVC, utilizado no setor da construção civil.
AEC web – Quanto corresponde a construção civil?
Cerca de 65% da produção, com a seguinte segmentação: 12% para aplicações e o ciclo de vida é de 0 a 12 anos, produtos que consideramos descartáveis; 24% são os que têm entre 2 e 15 anos, como fios e cabos; o restante, acima de 15 anos. Os tubos de PVC correspondem a 45% da demanda, que tem vida útil acima de 50 anos. Imagine uma construção ter que trocar tubos hidráulicos a cada seis meses! Não é o caso.
AEC web – Qual seria uma taxa de reciclagem ideal?
Consideramos a taxa de reciclagem de 14,7% do Brasil significativa para o produto. No caso da Alemanha, se o objetivo é atingir 100% de reciclagem, teria que se pensar qual percentual seria destinado para a reciclagem mecânica, energética e química. Frente a essas três possibilidades é que se poderia determinar um ‘target’ para cada tipo de reciclagem. No Brasil, quanto maior a taxa de reciclagem mecânica, dentro da sua realidade, melhor. Porém, não adianta ter um parque industrial e focar em uma determinada meta, se não há uma política de coleta de resíduos estabelecida. São fatores que primeiro precisam ser equacionados para buscar os patamares adequados.
AEC web – Qual a diferença entre o PVC produzido através do etanol de petroquímica e de cana-de-açúcar?
O PVC é um plástico diferente dos outros porque 57% dele é o sal marinho, recurso infinito na natureza. Os 43% restantes têm como matéria-prima o eteno do petróleo ou do álcool. Nos anos 80, na época do pró-álcool, a antiga Salgema, incorporada pela Braskem, fabricava o PVC a partir do etanol da cana-de-açúcar. Hoje, voltou a ser viável financeiramente esse tipo de produção. Do ponto de vista da reciclagem os dois são iguais. É interessante, sempre que possível, obter matéria-prima proveniente de fonte renovável.
AEC web – Como a construção civil pode contribuir para a reciclagem do PVC?
Na construção civil se fala que para cada três prédios levantados, um é jogado fora em forma de resíduos. Em 1999, o instituto fez uma parceria com a Método Engenharia, de forma pioneira no Brasil. Orientamos cerca de 110 funcionários da empresa para a coleta dos resíduos de PVC gerados em uma determinada obra. Coletamos 100% de resíduos e destinamos para o reciclador, que transformou em eletrodutos e tubos de esgotos que foram reutilizados. Observamos que nessa obra cerca de 8% de todo o PVC que entrou viraria resíduo, muito abaixo da média em relação aos outros materiais utilizados na construção civil, que é em torno de 25%. O Instituto do PVC e a Método Engenharia participaram da elaboração da resolução do CONAMA que regulamentou como cada parte da construção deveria destinar os resíduos gerados. Sendo respeitada ou não, essa resolução mostra que o setor tem consciência das suas responsabilidades e se juntou para solucionar esse problema.