Setor eólico enfrenta falta de novos leilões
Problema poderá comprometer o planejamento para os próximos anos e afetar empregos e investimentos. Poder público é fundamental para retomada do desenvolvimento
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Setor eólico nacional só não está parado devido aos leilões realizados até 2015 (Casther/ Shutterstock.com)
A desaceleração que atinge a economia nacional traz fortes impactos ao setor energético. No caso das usinas eólicas, a execução de novas plantas só não está completamente paralisada devido aos leilões realizados entre 2009 e 2015. “Na modalidade de leilão A-3, por exemplo, o empreendimento é entregue três anos depois. Sendo assim, não estamos parados porque vivemos uma grande expansão, construindo e entregando projetos vendidos nos leilões anteriores”, explica o engenheiro Sandro Yamamoto, diretor Técnico da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica).
Segundo ele, 2016 foi o primeiro ano sem novas contratações pelo governo federal, o que comprometerá as construções futuras. “É importante a realização de novo leilão ainda em 2017, para reverter a situação. Atualmente, estamos com 11 GW de potência instalada e ainda temos 7 GW já contratados para serem entregues até 2020”, destaca. Até o final do ano passado, a energia eólica representava 7% de toda a matriz nacional.
É importante a realização de novo leilão ainda em 2017, para reverter a situaçãoSandro Yamamoto
PROBLEMAS FUTUROS
Como ainda não há nenhum leilão confirmado para este ano, o setor adota medidas para proteger o negócio. É o caso dos grandes fabricantes de aerogeradores instalados no Brasil, que iniciaram movimento tentando viabilizar a exportação dos equipamentos. No entanto, devido ao elevado custo de produção e financiamento no país, as empresas não são competitivas em âmbito internacional.
A cadeia produtiva, atualmente, é 80% nacionalizada e conta com mais de mil fornecedores para aerogeradores. Desse total, há empresas especializadas no mercado eólico e também aquelas que têm, entre seus produtos, alguns destinados ao setor. “É, portanto, uma cadeia mista, de grandes e médias indústrias”, fala o engenheiro, explicando que a exportação pode, no futuro, se tornar um mercado importante. “Mas ainda não é, devido especialmente ao chamado ‘Custo Brasil’, que tira toda a competitividade do que é produzido no país”, complementa.
O grande problema é que grupos internacionais têm maior competitividade trazendo máquinas da Europa ou da Ásia para abastecer os demais mercados da América Latina. Isso deixa os produtos fabricados no Brasil de fora da concorrência. Financeiramente, acaba sendo mais interessante trazer os equipamentos de uma distância geograficamente maior.
“Estamos desenvolvendo em conjunto com a APEX-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos) um estudo sobre esses entraves para a exportação. Assim, poderemos ir trabalhando neles, ponto a ponto. No entanto, esse não é um trabalho rápido ou de solução imediata”, detalha Yamamoto.
Qualidade nacionalPara o engenheiro, o setor está no mesmo nível dos fabricantes mundiais de aerogeradores, ou seja, a qualidade dos produtos não é um bloqueio para a exportação. “Temos alta tecnologia no Brasil, e grandes empresas também se encontram instaladas no território nacional”, comenta.
NOVOS LEILÕES
O papel do poder público é fundamental para proporcionar segurança ao desenvolvimento do setor eólico. “Por isso, reafirmamos a importância de um leilão ainda em 2017, porque este é um sinal necessário para a cadeia produtiva brasileira”, diz Yamamoto. A indústria depende dessa confirmação para gerar empregos e realizar investimentos.
A ENERGIA EÓLICA NO BRASIL
O setor eólico chegou ao final de 2016 com 10,74 GW de potência instalada, contando com um total de 430 parques. No ano passado, foram gerados mais de 30 mil postos de trabalho, e o investimento durante esse período foi de US$ 5,4 bilhões. “Em maio de 2017, já estamos com 11 GW e mais de 440 parques”, informa o especialista.
Nos últimos seis anos, o investimento realizado pelas empresas da cadeia produtiva de energia eólica foi de R$ 48 bilhões. Se analisado o período a partir de 1998 até hoje, já foram somados cerca de R$ 60 bilhões em investimentos, números calculados em relação aos megawatts instalados. “De 2017 a 2020, estimamos investimento total de cerca de R$ 50 bilhões, considerando o que está previsto para ser instalado com os contratos que temos até agora (7 GW)”, afirma o engenheiro.
Divulgação: ABEEólica
Em 2016, foram registrados diversos recordes para a eólica no país. Por exemplo, conforme dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (NOS), no dia 5 de novembro de 2016, 52% da energia do nordeste foi produzida por usinas eólicas. Já em 2 de outubro do mesmo ano, houve um recorde de geração eólica do Sistema Interligado Nacional (SIN), com 6.632 MW às 07h56, com fator de capacidade de 75%. Neste dia e horário, 15% da energia consumida no Brasil foi proveniente de eólicas.
De acordo com dados do Global Wind Energy Council, o Brasil ultrapassou a Itália e ocupa agora a nona posição no ranking mundial de capacidade instalada de energia eólicaSandro Yamamoto
No ano passado, a geração eólica cresceu 55% em relação a 2015, de acordo com a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE). A importância dessa fonte energética também pode ser medida pela quantidade de lares brasileiros abastecidos. De acordo com a resenha mensal publicada pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o consumo médio residencial no Brasil, durante o ano de 2016, foi de 161,8 kWh por mês. Portanto, na média, foram abastecidas, mensalmente, cerca de 17 milhões de casas, equivalente a 51 milhões de pessoas.
“Boas notícias também vieram das comparações mundiais. De acordo com dados do Global Wind Energy Council (GWEC), o Brasil ultrapassou a Itália e ocupa agora a nona posição no ranking mundial de capacidade instalada de energia eólica”, finaliza Yamamoto.
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Colaboração técnica
- Sandro Yamamoto – Engenheiro eletricista, especialista em comercialização de energia elétrica e regulação do setor de energia elétrica. Tem 18 anos de experiência no setor elétrico, atuando nas empresas Eletropaulo, Companhia de Transmissão de Energia Elétrica Paulista e Câmara de Comercialização de Energia Elétrica. Atualmente, é diretor Técnico na Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica).