menu-iconPortal AECweb

Shopping: iluminação criteriosa e eficiente

Engenheiro Plínio Godoy destaca que a iluminação dos shoppings deve acompanhar os projetos arquitetônicos com vistas às certificações de impacto ambiental.

Publicado em: 11/11/2010Atualizado em: 15/01/2021

Texto: Redação AECweb

Entrevista: Plínio Godoy

Shopping: iluminação criteriosa e eficiente

Redação AECweb

Responsável por cerca de 5% do custo total da obra, a iluminação dos shopping centers acompanha a evolução do projeto arquitetônico e das exigências de desempenho energético. Ao abandonar o conceito de caixa lacrada, onde o consumidor perdia a noção do tempo para comprar mais e mais, essas construções ganham transparência, integrando os ambientes internos com o exterior. O engenheiro Plinio Godoy, diretor da Godoy Luminotecnia, empresa responsável pelos projetos de iluminação de shoppings como o Jardim Anália Franco, Iguatemi de Belém (PA) e Granja Viana, fala ao AECweb sobre os atuais recursos em favor da eficiência energética e das muitas exigências desses empreendimentos comerciais.

AECweb – A eficiência energética chegou aos shoppings?
Godoy - Predomina nesse tipo de empreendimento uma forte cultura estética e dos efeitos de luz, exigindo do projeto de iluminação a criação de espaços interessantes, atrativos e estimulantes. No entanto, a questão da eficiência energética assume cada vez mais espaço nas premissas de desenvolvimento dos shoppings. Alguns já são feitos com vistas às certificações de impacto ambiental. E, com isso, incorporam novos conceitos, alterando também os projetos de iluminação que adotam sistemas mais eficientes e maior integração com a luz natural – e, aí, se estabelece a interface com o ar condicionado, já que a iluminação natural traz junto o calor para o ambiente.

AECweb – Como tem sido essa experiência com a sustentabilidade?
Godoy -
Estamos projetando a iluminação do shopping Iguatemi, de Belém (PA), que busca a certificação LEED. A forma de projetar mudou e já não se utiliza mais a iluminação indireta, que é pouco eficiente. Uma coisa é iluminar uma sanca com a função de rebater a luz para o ambiente, outra é iluminar a sanca para que ela seja vista. Dessa maneira, economizamos energia, iluminando o ambiente diretamente e somente valorizando as sancas. Podemos, também, utilizar LEDs lineares, com potência por metro menor do que o da lâmpada fluorescente. Assim, é possível reduzir o consumo, mantendo o efeito estético. Com esses novos conceitos de projeto se obtém uma redução de consumo superior a 20%.


AECweb – Como a arquitetura participa dessa evolução?
Godoy -
Durante muito tempo predominou o conceito de shoppings do tipo ‘caixas fechadas’, deixando seus visitantes isolados do meio externo. A pessoa perdia a noção das horas e fazia mais compras. Em dado momento, se percebeu que o shopping é um espaço cada vez mais utilizado para outras atividades como passear, jantar com a família, namorar, ir ao cinema - e também fazer compras. A partir daí, o conceito arquitetônico mudou, priorizando a qualidade de vida das pessoas que trabalham e visitam o shopping, através de mais transparência, que propicia maior relação com o ambiente externo.


AECweb – Como a iluminação se aplica a esse novo conceito?
Godoy -
Essa integração interior/exterior, que pode ser percebida nas grandes janelas de áreas como a de restaurantes em alguns shoppings, pede sistema de iluminação exclusivo para as fachadas e outro, igualmente exclusivo, para os ambientes internos. Outro fator que colaborou foi a tecnologia dos LEDS, que traz efeitos de luz, antes impensável. Conseguimos, por exemplo, obter uma luz dinâmica que permite mudar sua cor ou sua intensidade, resultando numa presença urbana maior - é lógico que este efeito coloca o projeto numa linha tênue entre o bom e mal gosto, portanto, tem que tomar muito cuidado.


AECweb - O que seria o bom e o mal gosto?
Godoy -
Existem prédios que estão sendo iluminados com LEDs e mudam muito de cor. Isso cria um ruído visual urbano e passa ser um elemento de estresse. No entanto, é preciso que o projeto de iluminação respeite as presenças urbanas de edifícios e as pessoas, criando uma leitura agradável do espaço. A cor pode ser um elemento a favor, mas se torna um fator contrário se não houver cuidado. Antigamente, se iluminava o prédio na sua totalidade. Hoje, os projetos se preocupam mais com a arquitetura das fachadas, valorizando essa arquitetura.


AECweb – Quais as especificidades da luz nos diversos ambientes do shopping?
Godoy -
Na praça de alimentação, onde a pessoa vai passar um tempo maior, é um momento de relaxamento, que exige uma iluminação mais amena, porém clara e, normalmente, com efeitos de luz nos planos verticais. É fundamental o cuidado com o número de cores, porque podem alterar as cores dos alimentos. E, ainda, é preciso trabalhar com lâmpadas que evitem a formação de ilhas de calor.


AECweb – E os corredores?
Godoy -
Os corredores têm a característica de apresentarem momentos arquitetônicos diferentes e o objetivo são as lojas, portanto, é preciso criar um ambiente agradável, porém, com um grau de valorização menor do que o das lojas. No shopping Granja Viana, em fase de finalização de obras, o corredor é comprido. Para quebrar a monotonia, criamos detalhes de forro para os quais desenvolvemos uma luminária em aço corten, com efeito de luz azul diferenciada. Essas ‘ilhas’ no teto têm o seu rebatimento no piso, através de um desenho personalizado, além de lounge com sofás, onde a pessoa pode se sentar e descansar um pouco.


Shopping: iluminação criteriosa e eficiente


AECweb – Qual a relação ideal de luz do mall e das lojas?
Godoy -
Já houve um tempo em que o conceito ditava que o mall tinha que ser escuro e as lojas claras. Por isso é que ainda vemos shoppings muito mal iluminados. Por outro lado, o que cansa mais o ser humano é uma grande variação de iluminação, ou seja, passar de um ambiente claro para outro escuro - é um fator de adaptação constante. Nós adotamos um conceito de iluminação para varejo que envolve relações entre diferenças e quantidade de luz para uma valorização média ou uma valorização grande. O ideal num ambiente comercial de lojas é a valorização de um para três, ou seja, se o corredor tem 100 lux, a loja com 300 lux tem uma valorização média. Para vitrine, a relação sobe de um para cinco. Já uma vitrine de joalheria, onde os produtos brilham, o nível de diferença de valorização de quantidade de luz deve ser maior, considerado como uma valorização importante.


AECweb – Quais os cuidados com a iluminação do provador de uma loja?
Godoy -
Essa é a área mais importante da loja. O ideal é que a iluminação seja a mais próxima possível do tipo daquela comum aos locais onde a roupa será usada, desde um ambiente de academia à praia, passando pelo traje de noite. Para cada situação haverá uma solução específica. Porém, é preciso evitar que a luminária aqueça o provador.


AECweb – A boa iluminação tem custo elevado?
Godoy -
A iluminação é tão fundamental para um shopping center e suas lojas que deve ser considerada como investimento, e não como custo. Recomendo aos empreendedores que, ao fazer o planejamento financeiro da obra, destine cerca de 5% do valor do investimento total para a iluminação. Um exemplo são as tecnologias recém desenvolvidas pelos fabricantes de lâmpadas com uma reprodução de cor superior a 90%. São um pouco mais caras, porém, oferecem ao consumidor segurança em relação às cores do produto que está adquirindo.

Leia também: Gestão de shoppings requer controle de prazos, custos e cumprimento de normas

Redação AECweb



Shopping: iluminação criteriosa e eficiente Plínio Godoy é engenheiro especializado em eletrotécnica. Participa da Divisão 03 – Projetos Luminotécnicos do Comitê Internacional de Iluminação CIE-Br, instituição internacional ligada ao INMETRO. Fundador da Associação Brasileira dos Arquitetos de Iluminação – AsBAI, teve seus projetos publicados na Europa e China. É sócio-diretor das empresas Luz Urbana e da Godoy Luminotecnia. É autor do livro “Iluminação Urbana – Conceitos Básicos e Análise de Casos”, Editora VJ.