Sistemas de instalação predial de gás: dicas de projeto e especificação
Escolha correta de materiais, atendimento às normas e realização do ensaio de estanqueidade dos equipamentos e tubulações são boas práticas que garantem a segurança das edificações
Texto: Redação AECweb/e-Construmarket
Sistema de instalação de gás de um prédio deve contar com um bom projeto (Foto: Olexa / shutterstock.com)
Para que o sistema de instalação de gás de um prédio apresente bom funcionamento, segurança e menor custo de execução, é fundamental contar com um projeto. “Só assim é possível determinar os diâmetros das tubulações e os equipamentos necessários na rede de gás, de maneira a garantir o perfeito funcionamento dos aparelhos”, destaca o engenheiro Ederson Ismael Baiardi Fanti, titular da EFPE Projetos e Engenharia e da EFCT – Cursos e Treinamentos.
Uma obra sem projeto poderá apresentar falhas de execução, como a perda de carga, que leva à cocção mais lenta e, consequentemente, ao maior consumo de gás. “Em um mesmo imóvel pode ocorrer diferença de queima entre diversos equipamentos, danificando ou até mesmo impedindo seu funcionamento”, alerta. O projeto também garante a segurança do ambiente onde estarão instalados os aparelhos que utilizam gás, com a previsão, em alguns casos, de sistemas de ventilação. Ambientes sem ventilação podem causar morte por asfixia ou explosão causada por vazamento de gás.
Entre os erros mais comuns na instalação predial de gás estão as falhas na execução de solda; falta de instalação de válvulas de bloqueio por setores, para manutenção; transição de materiais sem caixa de inspeção; falta de aterramento de prumadas metálicas; inexistência de ventilação de abrigos de reguladores e medidores; e instalação de tubulação GLP no teto de subsolos sem ventilação.
ESPECIFICAÇÃO
A especificação para a execução é determinada pelo projeto, que se inicia pela identificação do tipo de gás que será utilizado. A consulta às concessionárias vai dizer se há disponibilidade de gás natural (GN) para o edifício ou se será utilizado gás liquefeito de petróleo (GLP). “O próximo passo envolve a análise do projeto de arquitetura e informações do empreendedor/cliente sobre o rol de aparelhos previstos. Mapeados os equipamentos, é identificada a potência total demandada”, explica Fanti.
Norteado pelas normas técnicas, o projeto determina a pressão de fornecimento e a de utilização dentro do empreendimento, o que permitirá dimensionar as instalações e tubulações. Nessa etapa, são estabelecidos o ponto de conexão com a rede externa ou local para instalação da central de gás; o local para reguladores de pressão e medidores de vazão; e se o sistema de medição será coletivo ou individualizado.
“No caso da medição individualizada, hoje comum por conta de exigências de bancos financiadores e de algumas legislações federais e municipais, é preciso definir se ficará no pavimento térreo ou nos halls dos pavimentos tipo”, lembra, reforçando que todo sistema de gás deve ser instalado em espaço ventilado ou ser prevista ventilação artificial.
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MATERIAIS
Segundo Fanti, os itens básicos utilizados nas instalações prediais de gás são tubulações, reguladores de pressão, medidores de vazão, válvulas e conexões. Para a tubulação, os materiais mais empregados são cobre rígido e flexível; aço com ou sem costura, pretos ou galvanizados; polietileno; tubulação de aço revestida em polietileno; e tubulações multicamadas.
“Cada material tem vantagens e desvantagens. Por questão de custo e facilidade na execução, os materiais mais utilizados são polietileno, para tubulações enterradas; multicamadas em ramais internos longe de exposição a intempéries; e cobre em prumadas de grande diâmetro e em áreas externas expostas ao tempo”, afirma.
No caso da medição individualizada, hoje comum por conta de exigências de bancos financiadores e de algumas legislações federais e municipais, é preciso definir se ficará no pavimento térreo ou nos halls dos pavimentos tipoEderson Ismael Baiardi Fanti
O polietileno tem a vantagem de ser fornecido em rolo com 50 m, o que reduz a necessidade de conexões e soldas, e permite a execução de grandes trechos em menos tempo. Se comparado com cobre e aço, dispensa proteção contra corrosão, mas só pode ser instalado enterrado e fora da projeção das construções.
A tubulação multicamadas apresenta a vantagem de ser flexível e vendida em rolos, evitando o uso de curvas, joelhos e união de barras – as poucas conexões necessárias são executadas por compressão, sem solda. “Este material está sendo empregado em larga escala, pois, devido à facilidade de instalação, diminui custos com mão de obra, chegando a uma redução de 30% no custo global da instalação”, conta o projetista.
O cobre é utilizado por suas características de resistência mecânica e em locais que exigem diâmetros maiores que 2” – limite das tubulações multicamadas – e em locais atingidos por raios UV.
NORMAS TÉCNICAS
Existem diversas normas que envolvem as instalações prediais de gás, mas as principais são a ABNT NBR 15526/13 – Rede de distribuição interna para gases combustíveis em instalações residenciais e comerciais; ABNT NBR 13523/08 – Central de GLP; ABNT NBR 15923/11 – Inspeção de rede de distribuição interna de gases combustíveis; e ABNT NBR 13103/13 – Instalação de aparelhos a gás para uso residencial.
As concessionárias procuram manter as exigências das normas técnicas, porém estabelecem parâmetros e detalhamentos específicos para abrigos de reguladores e medidores. “Fornecem material técnico detalhando os critérios normativos, uma vez que as normas nem sempre demonstram como executar. Há informações que colaboram para o melhor detalhamento dos projetos, como dimensões e detalhes de abrigos, formas de fixação de tubulações e sistemas para adequação dos ambientes”, relata Fanti.
SEGURANÇA
Além de um projeto bem elaborado, que seja executado em conformidade com as normas técnicas e a especificação dos fabricantes, a segurança da instalação depende, ainda, do procedimento obrigatório do ensaio de estanqueidade dos equipamentos e tubulações. “Toda obra deve passar por duas etapas de ensaio de estanqueidade: uma referente às tubulações, com 1,5 vezes a pressão de trabalho máxima admitida e não menor que 20kpa; e a segunda etapa, antes de realizar a ligação do gás, com todos os equipamentos instalados e sob pressão de operação da rede”, ensina.
A segurança durante o uso está diretamente relacionada à manutenção preventiva e à troca de equipamentos que possuam validade, como medidores, reguladores e mangueiras. A NBR 15526 não estabelece um prazo para realização de manutenção nas instalações prediais de gás, mas recomenda o reparo e a manutenção preventiva sempre que houver necessidade. Todas as edificações residenciais coletivas, comerciais e industriais necessitam do Auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB), o que envolve laudo de estanqueidade. "O Auto deve ser renovado periodicamente, procedimento que exige nova inspeção por profissional habilitado”, finaliza Fanti.
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Colaboração técnica
- Ederson Ismael Baiardi Fanti – Engenheiro civil pela Faculdade Integrada Metropolitana de Campinas (Metrocamp) e técnico em edificações pela Escola Técnica Prof. João Belarmino (Centro Paula Souza). É proprietário da EFPE Projetos e Engenharia e da EFCT – Cursos e Treinamentos. Especialista em desenvolvimento, gerenciamento e coordenação de projetos de instalações prediais hidráulicas, combate a incêndio e projetos de saneamento básico englobando redes públicas de água, esgoto e drenagem urbana. Foi responsável pela coordenação e elaboração de centenas de projetos de instalações prediais hidráulicas de edifícios residenciais e comerciais. Ministra cursos presenciais para as áreas de saneamento e instalações prediais desde 2012 em associações e escolas especializadas, e também na modalidade EAD para profissionais de engenharia, arquitetura e construção civil.