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Trabalhos em altura exigem instalação cuidadosa de linhas de vida

A escolha do modelo de linha de ancoragem começa com a elaboração de um projeto que leve em conta o número de trabalhadores que ficarão presos a ela, bem como as condições do local de instalação

Publicado em: 22/05/2018

Texto: Juliana Nakamura

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O uso das linhas de vida é obrigatório sempre que houver riscos de queda de altura igual ou superior a 2 metros (foto: Bannafarsai_Stock/shutterstock)

As linhas de vida – um Equipamento de Proteção Coletiva (EPC) para trabalhos em altura – são normalmente compostas de cabos de aço ou cordas de fibra sintética ligados ao cinto de segurança dos operários e a ancoragens. Sua função é garantir que as pessoas trabalhem com segurança, e seu uso é obrigatório sempre que houver risco de queda de altura igual ou superior a 2 metros, segundo a NR-35, norma regulamentadora do Ministério do Trabalho.

TIPOS DE LINHAS DE VIDA

Utilizada em trabalhos em andaimes, na manutenção de fachadas, em serviços em telhados, em instalações etc., as linhas de vida – também chamadas de linha de ancoragem – podem ser verticais ou horizontais e se dividem em dois tipos em função do seu tempo de uso.

As provisórias são usadas em obras da construção civil, sendo instaladas e retiradas para atender a uma determinada atividade na obra. Já as permanentes ficam no edifício ao longo de sua vida útil e são dimensionadas para possibilitar eventuais serviços de manutenção. A depender do tipo e do porte da edificação, essa proteção é necessária para atender à exigência do Corpo de Bombeiros. “Em edifícios já construídos, a instalação de linhas de vida permanentes requer a anuência do projetista de estruturas, para assegurar que o ponto da estrutura onde a linha será ancorada resistirá aos esforços solicitados”, alerta Paulo Henrique Panadés, engenheiro do Seconci-SP (Serviço Social da Construção Civil do Estado de São Paulo).

LINHAS DE VIDA DE CORDA

Há casos em que cordas de fibra sintética podem ser utilizadas para compor linhas de ancoragem provisórias. A principal vantagem desse tipo de solução, muito utilizada na Europa, é que os acessórios podem ser quase sempre substituídos por nós de alpinismo. Por isso, elas são mais rápidas de montar e apresentam custo menor. “Os modelos de cordas sintéticas são mais leves e flexíveis do que os com cabos de aço. Além disso, o impacto gerado ao trabalhador é bem menor”, diz Panadés.

Os modelos de cordas sintéticas são mais leves e flexíveis do que os com cabos de aço. Além disso, o impacto gerado ao trabalhador é bem menor
Paulo Henrique Panadés

No Brasil, esse tipo de linha tem uso limitado por questão cultural e por falhas da mão de obra. “Qualquer um é capaz de apertar um parafuso, mas não é qualquer profissional que sabe dar um nó de alpinista adequado”, afirma Panadés. Outros motivos que explicam o raro uso das cordas são a sensação de segurança menor do que a garantida por cabos de aço e a capacidade menor para suportar cargas.

ESPECIFICAÇÃO

As linhas de vida provisórias podem ser feitas com diferentes matérias-primas. As mais utilizadas na construção civil brasileira são as com cabos de aço de 8 mm ou 10 mm. Esse modelo tem como principal virtude a alta resistência às cargas e a elevada durabilidade. No entanto, não podem prescindir de correta especificação e instalação, sob o risco de perder sua capacidade de oferecer proteção.

Um erro comum na instalação, segundo Panadés, é o uso inadequado de fixadores (clips) que conformam o olhal. A norma técnica recomenda o uso de clipes pesados, mas os leves sãos mais empregados.

“Outra falha é a falta de torqueamento do clipe. É preciso um torque mínimo para garantir que não haja o escorregamento do cabo quando solicitado”, comenta o engenheiro do Seconci-SP. Tanto o olhal quanto os demais acessórios que compõem a linha devem ser instalados conforme especificações do fabricante. Há, ainda, a necessidade de garantir que os cabos de aço sejam instalados com raio de curvatura adequado, bem como usar adequadamente o sapatilho, acessório que garante a conformidade geométrica do cabo, mesmo quando ele está sob tensão.

COMO ESCOLHER?

A definição de qual modelo de linha de ancoragem usar começa com a elaboração de um projeto que leve em conta o número de trabalhadores que ficarão presos a ela, bem como as condições do local de instalação. “O primeiro cuidado é realizar uma análise de risco consistente levando em conta a forma de ancoragem que será utilizada pelo trabalhador, (talabarte, trava-quedas retrátil etc.), a distância livre de queda, o número de usuários e quais limitações a linha irá proporcionar à execução do serviço”, explica o engenheiro em segurança de trabalho Giovani Pons Savi.

O primeiro cuidado é realizar uma análise de risco consistente, levando em conta a forma de ancoragem que será utilizada pelo trabalhador, a distância livre de queda, o número de usuários e quais limitações a linha irá proporcionar à execução do serviço
Giovani Pons Savi

As principais exigências às quais as linhas de vida devem atender estão especificadas no anexo 2 da NR-35. “Entre elas, destaca-se a elaboração do projeto por um profissional legalmente habilitado, no caso, um engenheiro civil ou mecânico, que tem entre as suas habilitações o dimensionamento de estruturas de aço”, diz Savi.

Tanto o projeto quanto as especificações técnicas devem seguir uma série de parâmetros, como:

• Força de impacto de retenção da queda do trabalhador
• Esforços em cada parte do sistema de ancoragem decorrentes da força de impacto
• Zona livre de queda necessária
• Estruturas utilizadas no sistema de ancoragem
• Detalhamento e/ou especificação dos dispositivos de ancoragem e elementos de fixação a serem utilizados

Independentemente de sua tipologia, toda linha de vida deve possuir certificação do fabricante e certificação da instalação. As linhas provisórias também podem ser alvo de fiscalização do Ministério do Trabalho, que verifica a presença da linha no canteiro de obra e se há um técnico responsável por seu dimensionamento.

USO E MANUTENÇÃO

De pouco adianta dispor de uma linha de vida boa e não saber usá-la e mantê-la de forma apropriada. Todos os profissionais que forem trabalhar nesses equipamentos devem ter formação específica.

Um erro que muitas construtoras cometem é não limitar claramente o número de pessoas que podem ser ancoradas. “Às vezes, um equipamento dimensionado para receber dois trabalhadores, possui 20 pessoas presas nele”, alerta Panadés.

Além disso, é necessário assegurar as boas condições de manutenção. Especialistas recomendam que se faça uma inspeção periódica nas cordas e nos cabos de aço. No caso das cordas, ela deve ser feita semanalmente, por inspeções visual e tátil para verificar se não há diminuição de espessura ou enrijecimento das fibras. Já no caso dos cabos de aço, a inspeção pode ser feita a cada 10 ou 15 dias, a depender das condições de uso e exposição do material a agentes agressivos. Para tanto, podem ser usados, de modo combinado, processos de análise visual e por medição com paquímetro.

Normas para o dimensionamento de linhas de vida

• ABNT NBR 8800:2008 – Projeto de Estruturas de Aço e de Estruturas Mistas de Aço e Concreto de Edifícios
• ABNT NBR ISO 2408:2008 – Cabos de Aço para Uso Geral - Requisitos Mínimos
• ABNT NBR 11099:1989 – Grampo Pesado para Cabo de Aço – Especificação
• ABNT NBR 16325-1:2015 – Proteção contra Quedas de Altura
• NR-8 – Condições de Meio Ambiente do Trabalho na Indústria da Construção Civil
• NR-35 – Trabalho em Altura.

Veja relação de equipamentos para linhas de vida

Colaboração técnica

Giovani Pons Savi – Engenheiro civil e de segurança do trabalho, é responsável técnico pela Consultoria e Treinamentos em Segurança do Trabalho de Porto Alegre (RS).
Paulo Henrique Panadés – Engenheiro civil e de segurança do trabalho do Seconci-SP (Serviço Social da Construção Civil do Estado de São Paulo). É sócio da SSMA Segurança, Saúde e Meio Ambiente.