Uso de alvenaria estrutural deve seguir projeto e normas
Sucesso da obra com alvenaria estrutural também passa por especificação cuidadosa – conforme o porte da edificação e a logística – e execução com bons materiais
Redação AECweb
A receita básica da alvenaria estrutural leva blocos cerâmicos ou de concreto, argamassa de assentamento, graute e armaduras. Esse sistema construtivo que parece simples e exige projeto cuidadoso, deve obedecer às normas técnicas em vigor, além de carregar ótimo custo-benefício, proporcionando uma obra mais limpa. É, inclusive, objeto de pesquisa em centros acadêmicos como o Núcleo de Ensino e Pesquisas da Alvenaria Estrutural (NEPAE) da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP) de Ilha Solteira (SP), coordenado por seu fundador, Jefferson Sidney Camacho, doutor em engenharia civil e professor titular da universidade.
Segundo ele, o sistema é altamente indicado para a construção de edifícios com alturas de até 20 pavimentos, em que não seja necessário vencer grandes vãos. Mas, nem sempre foi assim. Na década de 60, quando surgiu em São Paulo, a alvenaria estrutural foi empregada para erguer pequenos edifícios. Com a introdução dos blocos cerâmicos no mercado, na década de 80, e o início efetivo das pesquisas acadêmicas, o sistema passou a ser usado na construção de edifícios com cerca de 15 pavimentos. “Recentemente, tem se observado a edificação de torres de até 20 pavimentos na região Sul, em cidades nas quais a alvenaria praticamente não era empregada”, diz o professor.
As expectativas dos pesquisadores do sistema “são as mais promissoras possíveis, considerando as vantagens que ele pode oferecer”, comenta. Camacho lamenta, porém, “que um dos fatores que tem retardado a consolidação da alvenaria estrutural como se desejaria é a ausência de disciplina ligada ao tema, em caráter obrigatório, nos currículos de graduação em engenharia. Significativa parcela dos alunos termina seus cursos sem formação básica importante na área, fato que pode ser facilmente observado no mercado de trabalho”.
ESPECIFICAÇÃO
Os principais cuidados para a especificação do sistema envolvem a conformidade dos materiais e componentes com as recomendações das normas técnicas. São elas: NBR 15812-1 e NBR 15812-2 em vigor desde 2010, respectivamente, normas que tratam do projeto e da execução da alvenaria estrutural de blocos cerâmicos; NBR 15961-1 e NBR 15961-2 revisadas em 2011 e que abordam, respectivamente, o projeto e a execução da alvenaria estrutural de concreto.
“É preciso, ainda, definir o material que será empregado, ou seja, se a opção será pela alvenaria cerâmica ou de concreto. A escolha dependerá de dois fatores: o porte da edificação, que define os níveis de solicitação estrutural, uma vez que o material concreto permite obras de maior porte em comparação com o material cerâmico; e a distância em que se encontra o fornecedor que produz os blocos para a alvenaria estrutural, seja cerâmico ou de concreto, uma vez que o custo de transporte pode inviabilizar economicamente a obra”, ensina Camacho. A alvenaria estrutural exige a racionalização do projeto e da execução da obra, para que todo o seu potencial possa ser aproveitado.
O professor lembra que “existe uma integração muito forte entre os sistemas estrutural, vedação e instalações, uma vez que a parede é o elemento comum a eles, fazendo com que os diferentes projetos tenham que estar coordenados entre si”. Se comparado ao concreto armado na construção de edifícios, a alvenaria estrutural elimina uma série de etapas construtivas que devem ser executadas numa linha de tempo, tais como escoramentos, formas, lançamento do concreto, período de cura e reescoramentos. “Já o ciclo básico da alvenaria é formado pelo levantamento das paredes e pela execução das lajes”, observa.
PROJETO
Jefferson Camacho explica que o projeto gráfico (planta) deve ser desenvolvido com base na coordenação modular, que significa ter todas as medidas – horizontais e verticais – como múltiplo de um módulo básico, que normalmente é o valor da espessura do bloco empregado. Nesse projeto ainda devem estar indicadas todas as instalações que passarão pelas paredes, para que os blocos possam ser previamente preparados no canteiro de obras, eliminando as improvisações na execução. “Esse procedimento reduz a geração de entulhos a quase zero na obra, o que se traduz por economia, uma vez que o que vira entulho foi comprado, transportado até a obra, montado, demolido e terá que ser transportado para descarte, gerando problemas ambientais. Assim, obras de alvenaria estrutural, além do aspecto econômico, minimizam também o impacto ambiental, ao reduzirem drasticamente a geração de entulhos e praticamente eliminarem a necessidade das formas empregadas na execução das vigas e pilares em estruturas de concreto armado”, destaca.
EXECUÇÃO
De acordo com o professor, não existe ‘a melhor técnica’ para execução de obras de alvenaria. “Há uma série de ferramentas e equipamentos desenvolvidos para a produção da alvenaria estrutural (levantamento das paredes). Alguns profissionais podem se adaptar mais com algumas, enquanto outros não – ou seja, é a melhor associação do fator humano e da ferramenta que conduz a melhores resultados”, diz.
E para evitar patologias, a melhor receita é sempre a que se baseia num bom projeto e boa execução da obra. Esses fatores são decorrentes da experiência dos profissionais envolvidos no projeto e construção dessas obras. “Contudo, cuidados básicos tais como respeitar os períodos de cura dos blocos, quando forem de concreto, trabalhar com argamassa adequada às necessidades da obra e prever armaduras construtivas e preventivas em regiões que possam apresentar fissuras são procedimentos importantes”, completa.
Redação AECweb
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Jefferson S. Camacho: Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Estadual de Londrina (UEL) em 1983, com Mestrado em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) concluído em 1986, Doutorado em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo (USP) finalizado em 1995 e Pós-doutorado na Escola de Engenharia de São Carlos (EESC) da USP concluído em 2001. Atualmente é Professor Titular da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP), no Campus de Ilha Solteira-SP. Foi chefe de departamento e coordenador do Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, ministrando disciplinas na área de concreto armado e alvenaria estrutural. Como pesquisador, trabalha principalmente com temas ligados à Alvenaria Estrutural, sendo o fundador e coordenador do NEPAE. Mais informações: http://www.nepae.feis.unesp.br.