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Como funcionam os medidores inteligentes em instalações de gás?

Dispositivos eletrônicos capazes de monitorar o consumo de gás em tempo real automatizam processo de medição e até podem detectar vazamentos ou eventuais irregularidades no consumo

Publicado em: 19/09/2024

Texto: Eric Cozza

Homem fazendo a manutenção de medidores inteligentes em instalações de gásUm dos princípios da utilização dos smart meters é manter os medidores em uma condição de segurança, com a possibilidade de ter o equipamento interno às unidades, já que não haverá necessidade de deslocamento de leiturista para fazer as anotações do consumo de gás (Imagens: Which)


O efeito positivo provocado pela medição individualizada de consumo em instalações hidrossanitárias, elétricas e de gás está mais do que provado, tanto em condomínios residenciais quanto comerciais.

A cobrança se torna mais justa, o usuário se preocupa efetivamente com a economia, o consumo passa a ser controlado, há maior facilidade na gestão das contas e as falhas e vazamentos são detectados com maior agilidade.

No caso do gás, soma-se a isso um fator imprescindível: a segurança do usuário. Mas como funcionam os medidores inteligentes nesse tipo de instalação? Há vantagens também para as construtoras e incorporadoras? O sistema é capaz de prevenir situações de risco?

Para tirar essas dúvidas, convidamos para o Podcast AEC Responde o engenheiro civil e projetista de sistemas prediais, Humberto Farina, CEO da Inprediais e vice-presidente do BIM Fórum Brasil.

Ouça o áudio na íntegra e/ou leia entrevista, a seguir.

AECweb – Como funcionam os medidores inteligentes em instalações de gás?

Humberto Farina – A medição inteligente consiste em embarcar facilidades que permitem o processamento de dados, que ficam disponíveis tanto para concessionária, que vai conseguir analisar melhor o comportamento dos consumidores, quanto para o próprio usuário, que passa a ter um acesso completo do consumo, ou seja, da quantidade de energia que está gastando. Em geral, funcionam por redes de rádio frequência ou celulares, que são instaladas no sistema com o objetivo de transmitir os dados e informações para o gerenciador.

AECweb – Há alguma vantagem para a construtora em relação à instalação das prumadas? A velocidade de execução e os custos podem ser reduzidos?

Farina – Um dos princípios dos smart meters, que são os dispositivos eletrônicos usados para a coleta de dados, é manter os medidores em uma condição de segurança, com a possibilidade de ter esse equipamento interno às unidades, já que não haverá leiturista para fazer as medições do consumo de gás. Isso permite à concessionária fazer uma gestão direta, diferentemente do que acontece hoje por aí, com terceiras partes fazendo a medição. Com o medidor de gás interno às unidades, temos duas vantagens: o diálogo direto da concessionária com o consumidor e a maior flexibilidade de construção, ou seja, a possibilidade de colocar as prumadas em áreas internas com maior facilidade, evitando, por exemplo, a passagem das tubulações de gás que acabam interferindo no sistema estrutural ou nos forros de áreas comuns. Os trajetos são significativamente menores e acabamos tendo uma construção mais econômica. Mas há uma série de medidas de segurança para que o gás esteja alojado em uma condição correta, numa instalação adequada de prumadas e que os medidores não sofram por conta do uso, por acidentes ou até por má intenção, com o objetivo de prejudicar o sistema de medição.

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AECweb – O sistema permite o bloqueio remoto e promete maior segurança em situações de riscos. Como isso funciona?

Farina – A possibilidade de comando à distância e bloqueio é muito interessante. Se você tem um sistema que monitora os dados, consegue ter uma linha histórica do consumo, inclusive por períodos mais curtos, visto que as medições não são mais espaçadas de um mês para o outro. É praticamente tempo real. Os medidores conseguem fazer um pacote de dados para envio à nuvem. Os sistemas de transmissão estão preparados nesse sentido. Assim, é possível ter uma inteligência de comportamento, um aprendizado do sistema sobre a leitura dos dados, por exemplo, para detectar a existência de um vazamento. Trata-se de um comportamento identificável. E aí há a facilidade de fazer um bloqueio ou um alarme para o próprio usuário.

AECweb – Os medidores inteligentes de gás já aparecem nos projetos de instalações desenvolvidos hoje em dia? Ou não há necessidade de grandes alterações? Como isso impacta o trabalho dos projetistas?

Farina – Não há grandes alterações. O que percebemos é que os medidores serão ativos importantes das concessionárias. E essas companhias não vão querer que os equipamentos deteriorem com o tempo. O que temos visto é uma preocupação nesse sentido. Por exemplo, de haver uma caixa de proteção do medidor. Aí teremos que nos adaptar a essa realidade, um pouco diferente do que estávamos acostumados. É uma situação nova, pois teremos ali um ativo da concessionária que, certamente, vai exigir algumas condições de proteção. Podemos dizer, portanto, que essa é a interferência em projeto: colocar o medidor em um espaço adequado, em uma condição de instalação segura. É com isso que estamos lidando no momento. Em termos de infraestrutura, nada. Nenhuma mudança substancial. Seguimos atendendo às normas técnicas para garantir que as tubulações e a instalações de gás estejam seguras.

AECweb – Como o senhor mencionou, uma das vantagens do sistema se refere à possibilidade de leitura remota, à distância. Isso dispensa a presença física para a medição, além de permitir o controle de consumo pelo usuário, por meio de aplicativo. A ideia é eliminar a medição coletiva das unidades. Como projetista, qual é a sua visão a respeito?

Farina – A medição coletiva, na verdade, costuma ser uma saída para facilitar instalações ou até mesmo viabilizá-las em situações de dificuldade econômica ou técnica para o fornecimento de gás para as unidades em determinados condomínios, novos ou preexistentes. O problema é que não há qualquer controle individual, apenas um rateio do volume total consumido. Não há monitoramento de quem é quem e do que está acontecendo em cada unidade. A medição individual é incomparável nesse aspecto. Com esse recurso em mãos, temos um ambiente construído melhor, capaz de despertar a consciência das pessoas, que passam a economizar, visto que sabem o que estão fazendo. O gás, assim como a água, é um recurso gerencial. Para que as pessoas se conscientizem e tenham novos hábitos, é preciso oferecer acesso à informação. Por exemplo: em alguns países, você instala um freezer na garagem e, dali a algum tempo, chega um recado no seu celular, destacando uma mudança no perfil de consumo. Ou seja, a concessionária identificou alguma coisa nova ali, que está consumindo mais energia elétrica. Por vezes, é ali que o usuário, que acabou de comprar um freezer novo, percebe o impacto do eletrodoméstico no consumo de eletricidade da casa.

AEC Responde

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Colaboração técnica

Humberto Farina – Graduado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, com mestrado pela mesma instituição, é CEO da INPrediais, atuando em consultoria e inovações tecnológicas na área de Engenharia de Sistemas Prediais e Infraestrutura. Professor convidado de cursos de extensão e educação continuada da Poli-USP, é especialista em sistemas prediais hidráulicos, de energia, de telecomunicações e de prevenção e combate a incêndio. Vice-presidente do BIM Fórum Brasil.