O que é laje de subpressão e quais os cuidados de projeto e execução?
Estrutura construída abaixo do nível do lençol freático, é projetada para resistir à pressão ascendente da água. Decisão técnica é tomada a partir dos resultados da sondagem do terreno e dos requisitos da edificação
Um terreno com boa capacidade de suporte e baixa complexidade geotécnica é o sonho de todo construtor. Mas isso nem sempre acontece, principalmente quando há presença de lençol freático elevado, proximidade de rios, lagos ou do mar e são previstos subsolos profundos, com alguns pavimentos subterrâneos.
Nesses casos, por vezes, há necessidade de projetar e construir uma laje de subpressão. Mas, afinal, do que se trata? Quando é necessária e quais são os cuidados de projeto e execução?
Para detalhar as melhores práticas relacionadas, convidamos para o Podcast AEC Responde o engenheiro Carlos Britez, pós-doutor em engenharia civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e sócio-diretor na Britez Consultoria, especializada em tecnologia do concreto.
Ouça o áudio na íntegra e/ou leia entrevista, a seguir.
AECweb – O que é uma laje de subpressão e quando se faz necessária? Quem toma a decisão de executá-la?
Carlos Britez – A laje de subpressão é uma estrutura construída abaixo do nível do lençol freático, projetada para resistir à pressão ascendente da água, que pode provocar a flutuação ou, em casos extremos, até a ruptura da edificação. É uma solução que pode ser mandatória em construções subterrâneas, como subsolos e casas de máquinas, em áreas onde o lençol freático é elevado. A decisão pela laje é tomada com base na sondagem do terreno e nos requisitos da edificação. O dimensionamento e os cálculos são realizados pelo projetista estrutural, mas o projeto envolve um time multidisciplinar, que inclui o projetista de fundações, o tecnologista de concreto, a construtora, a empresa de serviços de concretagem e todos os agentes envolvidos. A interação entre essas áreas é fundamental para o sucesso do projeto.
AECweb – O senhor falou em casos extremos, no qual a edificação pode até “flutuar” devido à força ascendente da água. Como isso acontece e quais são as consequências?
Britez – Uma laje de subpressão mal executada pode levar à flutuação da estrutura, como se fosse um barco. Por isso, é muito importante que ela esteja adequadamente ancorada e estabilizada antes de desativar o rebaixamento do lençol freático, realizado durante a construção. No caso de construções com poucos pavimentos, pode ser necessário o uso de tirantes na laje para equilibrar a força ascendente da água. É uma questão de equilíbrio de massas.
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AECweb – Quais são os principais cuidados de projeto e execução de uma laje de subpressão?
Britez – Primeiro, um planejamento minucioso e detalhado, com a participação de toda a equipe técnica e fornecedores envolvidos. Materiais de alta qualidade também são essenciais. Não dá para pensar em uma laje de subpressão, hoje, sem sílica ativa ou metacaulim, ou sem pozolana, dependendo da região do Brasil. Não dá para imaginar uma laje de subpressão sem um aditivo de cristalização integral, os populares cristalizantes, que hoje são tratados pelas normas técnicas como redutores de permeabilidade. Não é recomendável executar uma laje de subpressão sem aditivos compensadores de retração. É preciso estabelecer um traço com desempenho adequado. Costumamos trabalhar com slump fluído, porque a laje de subpressão é bem armada. A depender do caso, pode-se empregar fibras também. Outro ponto fundamental é o detalhamento técnico minucioso da concretagem, com o objetivo de evitar juntas desnecessárias, que são pontos de vulnerabilidade. Vale mencionar também os cuidados com adensamento e a imprescindível cura do concreto para evitar fissuras. Recomendo também a proteção adicional nas juntas com fitas hidroexpansivas e o fechamento adequado das ponteiras utilizadas no rebaixamento do lençol freático.
AECweb - Quais são os principais cuidados de monitoramento e manutenção ao longo da vida útil desse tipo de laje?
Britez – Costumo dizer que o maior investimento nesse sentido é fazer direito. O monitoramento de recalque pode ser necessário, especialmente em edifícios altos, até o término da construção e, a depender da edificação, até um pouco depois da entrega, depois que o prédio for ocupado e carregado. Mas não sempre: a análise deve ser feita caso a caso. Após a construção, o acompanhamento visual e tátil – a inspeção prevista nas normas técnicas – é fundamental. No caso de aparecimento de fissura, com merejamento de água, não há motivo para desespero. Como deve ter sido utilizado um aditivo cristalizante, é possível que ela se feche sem a necessidade de intervenção. É necessário dar um prazo para verificar se o cristalizante funcionou. Dependendo da abertura da fissura, entretanto, devemos tratar com injeção de poliuretano, para garantir a integridade estrutural e evitar problemas mais graves. Afinal, essa estrutura tem que ser, necessariamente, monolítica.
AEC Responde
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Colaboração técnica
- Carlos Britez –Pós-doutor em engenharia civil na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Sócio-diretor na Britez Consultoria e parceiro da PhD Engenharia e da GP&D Consultoria e Projetos. Professor assistente do Programa de Educação Continuada da Escola Politécnica da USP na área de Patologia, no curso de Especialização da Escola Presbiteriana Mackenzie na área de Tecnologia e nos cursos de pós-graduação e extensão e do Grupo IDD (Patologia e Engenhosidades). Atua principalmente nas áreas de tecnologia dos materiais e sistemas e de inspeções e diagnósticos de manifestações patológicas em estruturas de concreto de armado. Foi vencedor do Prêmio Epaminondas Melo do Amaral Filho, Destaque em Engenharia no campo do projeto e construção de concreto de alto desempenho no ano de 2015.