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O que é o Método da Maturidade para controle tecnológico do concreto?

Realizado em tempo real, ensaio não-destrutivo é capaz de estimar a resistência do concreto nas primeiras idades, antes de sete dias, agilizando o fluxo de produção

Publicado em: 24/09/2024

Texto: Eric Cozza

Montagem com quatro fotos detalhando o passo a passo do método da maturidade para controle tecnológico do concreto.A revisão da NBR 16055 “Parede de concreto moldada no local para a construção de edificações – Requisitos e procedimentos” trouxe a possibilidade de usar o método da maturidade para calcular a resistência da parede de concreto, visando uma desforma mais ágil. Ensaio pode ser empregado para qualquer sistema construtivo à base de concreto (Imagem: Curra Engenharia)


Já imaginou estimar a resistência do concreto em tempo real, permitindo o início de atividades críticas no fluxo de produção, como a retirada das fôrmas, dos escoramentos e, se for o caso, da protensão das estruturas?

Isso não é possível, antes do prazo de 7 dias, com o ensaio de compressão de corpo de prova. Mas há outro jeito? Existe, sim, e não se trata de nenhuma novidade.

O Método da Maturidade foi desenvolvido há várias décadas e está disponível no Brasil há mais de 15 anos. Mas como funciona esse ensaio não-destrutivo? Dispensa o rompimento de corpos de prova? Pode ser empregado em qualquer sistema construtivo à base de concreto?

Para nos explicar mais sobre o assunto, convidamos para o Podcast AEC Responde o engenheiro civil Roberto Curra, fundador e responsável técnico da Curra Engenharia.

Ouça o áudio na íntegra e/ou leia entrevista, a seguir.

AECweb – O que é o Método da Maturidade para controle tecnológico do concreto?

Roberto Curra – É um ensaio não-destrutivo que vai completar quase 40 anos de normatização pela ASTM (American Society for Testing and Materials, órgão responsável pelo desenvolvimento e publicação de normas técnicas nos Estados Unidos). Correlaciona temperatura e resistência nas primeiras idades do concreto. Aliás, este é um aspecto importante, que os profissionais costumam desconhecer: o Método da Maturidade é um ensaio de correlação.

AECweb – O método possui a mesma função do ensaio de rompimento de corpo de prova, ou seja, de medição da resistência?

Curra – Sim. Vale ressaltar que o rompimento de corpo de prova é um excelente ensaio. Mas, nas primeiras idades, abaixo de sete dias, a resistência verificada com um CP (corpo de prova) não é a mesma medida na peça concretada, seja nas paredes de concreto, em pré-fabricação, concreto armado ou protendido. Nessa primeira semana ou durante o período no qual o cimento está tendo a reação de hidratação, as resistências não são iguais. Assim, se nos basearmos no corpo de prova, teremos um resultado que não corresponde à realidade. Por isso, o Método da Maturidade se encaixa exatamente nesse período no qual o corpo de prova nos oferece uma informação pouco precisa.

AECweb – Então, o método não descarta a necessidade do ensaio de compressão do corpo de prova...

Curra – Quando digo que se trata de um ensaio de correlação, é porque o relacionamos, sim, ao de corpo de prova, que é um ensaio mecânico. Precisamos fazer, previamente, o que chamamos de curva de maturidade, de correlação com os rompimentos de CPs. Então, mantemos o ensaio de 28 dias para resistência, conforme determina a norma. Tenho visto alguns colegas dizendo que vão eliminar o corpo de prova. Não, isso não é uma realidade. O ensaio de maturidade vai se encaixar justamente na primeira semana, onde temos a deficiência do resultado do CP.

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Quais são os cuidados na montagem das armaduras de concreto?

AECweb – Na prática, do ponto de vista operacional, como é realizado o ensaio?

Curra – A empresa vai precisar comprar um equipamento ou contratar um laboratório preparado para atendê-la. Recomendo também que saiba a diferença entre o equipamento descartável e o não descartável, porque isso faz diferença em relação aos investimentos. O não descartável possui um desembolso inicial mais elevado, porém, ao longo da reutilização, acaba se tornando mais econômico. Depois de ter o equipamento à disposição, a empresa deve criar uma curva de correlação com os corpos de prova. Para é isso, é preciso definir o traço de concreto a ser utilizado, e 20, 30, 60, 90 dias antes, moldar corpos de prova nos quais será possível monitorar a resistência a partir do controle de temperatura. Ao romper esses CPs, criamos a curva de correlação e, a partir daí, o que se faz diariamente durante os períodos de concretagem é colocar sensores dentro do concreto. A partir do processamento feito pelo software do equipamento, as medições de temperatura são transformadas em informação sobre resistência. Tudo em tempo real.

AECweb – Ou seja, a medição é feita a partir da colocação de sensores nas próprias peças de concreto...

Curra – Fazemos a colocação dos sensores antes da concretagem. Aí, no momento que o concreto atinge o sensor, a temperatura começa a ser medida. Tal medição vai ser transformada em resistência. Quando os sensores não são descartáveis, há uma pequena preparação, no momento que se atinge a resistência necessária à remoção de formas, para retirarmos o sensor. A vantagem é que, assim, ele não perde a calibração, ao contrário dos descartáveis.

AECweb – A revisão da norma de parede de concreto, NBR 16055, trouxe a possibilidade de usar o método da maturidade para calcular a resistência da parede de concreto, visando a desforma. Qual é a vantagem específica do uso do método para esse sistema construtivo?

Curra – Gosto de salientar a questão da segurança, pois teremos a informação real da resistência na parede. Além disso, temos a assertividade, ou seja, saber exatamente quando sacar a fôrma. Em situações de baixas temperaturas, por exemplo, as empresas não conseguem retirar a fôrma porque a resposta, obtida com os corpos de prova, costuma ficar abaixo da resistência necessária. Só que, muitas vezes, a parede já alcançou. A terceira questão que eu gosto de salientar é a possibilidade de customizar, de ajustar o traço de concreto sem desperdício de cimento. De poder regular a quantidade necessária e segura para mantermos o ciclo de concretagens diárias, sem ter excesso de cimento, muitas vezes colocado para permitir que o corpo de prova alcance maior resistência. Então, são três fatores importantes: segurança para as equipes na desforma, agilidade no ciclo de produção e a possibilidade de ajustar um traço de concreto mais amigável, com economia, sem desperdício e com uma pegada menor de carbono.

AEC Responde

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Colaboração técnica

Roberto Curra – Graduado em engenharia civil pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, é certificado pelo Post-Tensioning Institute – PTI, nos Estados Unidos, desde 2004. Em 2008, foi o primeiro engenheiro do Brasil a receber o certificado PTI/USA Level 2 (Unbonded PT – Post_Tensioning Inspector). Pioneiro, no Brasil, no uso da técnica de ensaio não-destrutivo do concreto pelo Método da Maturidade. Atua como professor convidado nos cursos de especialização da Unisinos/RS, na disciplina de concretos especiais. Foi professor da disciplina de concreto armado, nas Faculdades Dom Bosco, em Porto Alegre-RS, desenvolveu e ministra cursos sobre protensão e maturidade em diversas universidades.