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O que é hidrofugante para concreto?

Produto hidrofóbico, que repele a umidade, é mais indicado para superfícies nas quais não há retenção ou acúmulo de água. Fabricante consegue trabalhar as dosagens de moléculas para atender diversas faixas de durabilidade

Publicado em: 05/05/2023

Texto: Eric Cozza

foto de uma pessoa segurando uma espátula e uma tabua com argamassa líquida em cima
Existem dois tipos de moléculas básicas que costumam compor os hidrofugantes. Os siloxanos adentram menos na estrutura e acabam tendo uma durabilidade menor. Os silanos possuem desempenho superior, pois são moléculas muito pequenas, que penetram mais (Imagem: Shutterstock)

A corrosão de armaduras em estruturas de concreto é uma das maiores preocupações de construtores e profissionais do setor. E a umidade constitui uma das principais causas – não a única – para esse tipo de patologia.

Hidrofugantes para concreto são produtos químicos que possuem como objetivo evitar a penetração de água e, por consequência, coibir eventuais danos à estrutura. Mas como age esse tipo de produto e para quais situações costuma ser indicado? Como deve ser feita a dosagem e a aplicação? Como verificar, posteriormente, o nível de absorção de água?

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Para nos auxiliar com esse assunto, nós convidamos para o podcast AEC Responde o engenheiro civil e professor Michel Haddad, gerente da Sika e responsável pela gestão estratégica e técnica das linhas de produtos para os mercados de recuperação, reforço estrutural e impermeabilizantes. Confira, a seguir, a entrevista.

AECweb – O que é hidrofugante para concreto e em quais situações o uso é indicado?

Michel Haddad – O hidrofugante é um hidrofóbico, ou seja, um produto que repele a água. Quando aplicado em uma superfície, não forma filme. Depois de seco, você vai olhar e não vai perceber que tem alguma coisa ali, exceto se jogar água. Aí vai acontecer um efeito hidrofóbico e a água será absorvida somente na superfície na qual o produto não está aplicado. Nesse caso, a base vai ficar umedecida, como se estivesse encharcada. Na superfície onde foi aplicado o hidrofugante, ele vai repelir a água, que vai bater e escorrer pelo substrato. A base não vai absorver. O hidrofugante tem esse efeito na superfície dos materiais.

“Trata-se de um produto que impermeabiliza e impede a entrada de água de chuva em uma superfície vertical. No caso de uma base horizontal, um piso que pode acumular água, não recomendamos o uso, porque ele não tem resistência à abrasão e não suporta pressão hidrostática”
Eng. Michel Haddad

AECweb – E para quais situações costuma ser indicado?

Haddad – É importante dividir as coisas. Os hidrofugantes são, em geral, conhecidos no mercado, como resina de silicone impermeabilizante. Sim, de certa forma, você está impermeabilizando, pois está repelindo a água. Mas quando nós falamos em impermeabilizante, pressupõe-se uma resistência à pressão hidrostática. O hidrofugante não têm essa capacidade. Trata-se de um produto que impede a entrada de água de chuva em uma superfície vertical. No caso de uma base horizontal, um piso que pode acumular água, não recomendamos o uso, porque ele não tem resistência à abrasão e não suporta pressão hidrostática. Por exemplo: eu não posso impermeabilizar um reservatório com hidrofugante por dentro, mas posso proteger a superfície externa da ação dos agentes agressivos do ambiente. E isso não apenas na situação da corrosão. Posso aplicar, por exemplo, em uma telha cerâmica ou uma fachada de tijolinho, para evitar que a água ajude a impregnar sujeira e desgaste esses materiais com mais facilidade. Repelindo a água, mantenho o aspecto estético e a qualidade da superfície por muito mais tempo. Posso ter desde uma utilização mais residencial – por exemplo, em telhas, pedras naturais e tijolinho aparente – até as aplicações mais técnicas, quando preciso proteger uma estrutura de concreto da corrosão.

“O fabricante consegue trabalhar as dosagens de molécula e é possível obter produtos capazes de atender diversas faixas de durabilidade para diferentes tipos de obra, com requisitos distintos”
Eng. Michel Haddad

AECweb – Como deve ser definida a dosagem do hidrofugante e a posterior aplicação? Quais são os principais cuidados nessas etapas?

Haddad – A dosagem vai depender muito do produto especificado. Cada fabricante é quem vai definir. Existem dois tipos de moléculas básicas que costumam compor os hidrofugantes: os silanos e os siloxanos. É muito comum, ao ler a ficha técnica de um produto, reparar na composição e perceber que se trata de um blend. Um hidrofugante à base de silano siloxano corresponde a uma mistura desses dois tipos de molécula. Os siloxanos são moléculas grandes, que adentram menos na estrutura e acabam tendo uma durabilidade menor. Os silanos são moléculas muito pequenas, que penetram mais e tem uma durabilidade maior. O silano siloxano, em geral, é um produto com o custo-benefício mais ajustado para um uso de menor complexidade. Por exemplo, se eu aplicar em uma fachada de tijolinho à vista ou mesmo em uma viga de concreto, haverá o efeito desejado de repelir a água. Pode durar em torno de 3 anos até ser necessária uma reaplicação. Com o silano, que é menor e penetra mais – um produto nobre e, portanto, um pouco mais caro – se eu especificar uma dosagem com 99% ou 100% dessa molécula, já terei um altíssimo desempenho, suficiente para proteger estruturas por cerca de 15 anos. O fabricante consegue trabalhar as dosagens de molécula e é possível obter produtos capazes de atender diversas faixas de durabilidade para diferentes tipos de obra, com requisitos distintos.

“A umidade funciona como um condutor. Carbonatação, basicamente, é a entrada de dióxido de carbono, mas esse gás, isolado, não faz muita coisa. (...) O íon cloreto também não entra sozinho. A água vai ser um veículo, que chamamos tecnicamente de eletrólito”
Eng. Michel Haddad

AECweb – Há algum cuidado, por exemplo, em relação à superfície antes da aplicação?

Haddad – O ideal é que a superfície esteja seca e a absorção costuma ser melhor em dias de calor. Dependendo do tipo de substrato, a base pode ter absorções diferentes. Por exemplo, se o fabricante define que você vai ter que utilizar uma média de 300 ml por metro quadrado em uma superfície de tijolo cerâmico aparente, que é mais poroso, pode ser que tal medida seja consumida rapidamente. Em uma ou duas demãos, você já consegue aplicar aquilo que o fabricante recomendou. Já em um concreto um pouco mais denso, mais fechado, com porosidade menor e com maior necessidade de proteção, pode ser que ele recomende 500 ml por metro quadrado. Depende do fabricante do produto. Então, eu vou aplicar, esperar a base puxar, ou seja, absorver aquele produto e, assim que ele começar a escorrer, é melhor parar, porque significa que não está mais absorvendo. Depois, você volta e aplica mais. Pode ser necessário aplicar três ou quatro demãos. Isso depende do consumo e de como está a base. Varia de estrutura para a estrutura.

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AECweb – Quais ensaios devem ser realizados para verificar o nível de absorção de água pelo concreto?

Haddad – Em relação aos ensaios para controle de qualidade da aplicação de hidrofugante, vejo duas questões: primeiro, entender se o substrato, de fato, absorveu o produto e quanto ele penetrou. Se você fizer uma aplicação com a expectativa de penetração do produto em 5mm, conforme a orientação do projetista ou do fabricante, pode extrair um pequeno testemunho, abri-lo e borrifar água. Até a espessura que o produto adentrou não haverá entrada de água. Só dali para frente. Consigo, assim, comprovar o quanto penetrou. O segundo ponto se refere à corrosão das armaduras. Se for causada por carbonatação do concreto ou por ingresso de cloretos, podemos seguir outros ensaios para avaliar se o hidrofugante está atendendo à proteção que necessitamos. A ideia é checar o antes e o depois da aplicação, verificando como está o processo de corrosão, se continua avançando. Isso serve para medir o desempenho e a eficácia da solução adotada. A umidade funciona como um condutor. Carbonatação, basicamente, é a entrada de dióxido de carbono, mas esse gás, isolado, não faz muita coisa. Ele precisa da água para se tornar um ácido carbônico lá dentro e iniciar o processo de carbonatação. O íon cloreto também não entra sozinho. A água vai ser um veículo, que chamamos tecnicamente de eletrólito. Vai levar o cloreto lá para dentro. A água é sempre um item muito importante nos mecanismos de degradação relacionados à corrosão.

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Colaboração técnica

Michel Haddad – Engenheiro civil com MBA em gerenciamento de projetos, é especialista com mais de 25 anos de experiência em reabilitação de estruturas, sendo mais de uma década no mercado de produtos químicos para impermeabilização e recuperação estrutural. Atuou em empresas como Brucken, Recuperação e Concremat. Atualmente é gerente técnico da Sika Brasil. É professor em cursos de pós-graduação, membro da diretoria da Associação Brasileira de Patologia das Construções (Alconpat Brasil) e participa de comitês técnicos na área.