O que é hidrofugante para concreto?
Produto hidrofóbico, que repele a umidade, é mais indicado para superfícies nas quais não há retenção ou acúmulo de água. Fabricante consegue trabalhar as dosagens de moléculas para atender diversas faixas de durabilidade
Existem dois tipos de moléculas básicas que costumam compor os hidrofugantes. Os siloxanos adentram menos na estrutura e acabam tendo uma durabilidade menor. Os silanos possuem desempenho superior, pois são moléculas muito pequenas, que penetram mais (Imagem: Shutterstock)
A corrosão de armaduras em estruturas de concreto é uma das maiores preocupações de construtores e profissionais do setor. E a umidade constitui uma das principais causas – não a única – para esse tipo de patologia.
Hidrofugantes para concreto são produtos químicos que possuem como objetivo evitar a penetração de água e, por consequência, coibir eventuais danos à estrutura. Mas como age esse tipo de produto e para quais situações costuma ser indicado? Como deve ser feita a dosagem e a aplicação? Como verificar, posteriormente, o nível de absorção de água?
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Para nos auxiliar com esse assunto, nós convidamos para o podcast AEC Responde o engenheiro civil e professor Michel Haddad, gerente da Sika e responsável pela gestão estratégica e técnica das linhas de produtos para os mercados de recuperação, reforço estrutural e impermeabilizantes. Confira, a seguir, a entrevista.
AECweb – O que é hidrofugante para concreto e em quais situações o uso é indicado?
Michel Haddad – O hidrofugante é um hidrofóbico, ou seja, um produto que repele a água. Quando aplicado em uma superfície, não forma filme. Depois de seco, você vai olhar e não vai perceber que tem alguma coisa ali, exceto se jogar água. Aí vai acontecer um efeito hidrofóbico e a água será absorvida somente na superfície na qual o produto não está aplicado. Nesse caso, a base vai ficar umedecida, como se estivesse encharcada. Na superfície onde foi aplicado o hidrofugante, ele vai repelir a água, que vai bater e escorrer pelo substrato. A base não vai absorver. O hidrofugante tem esse efeito na superfície dos materiais.
“Trata-se de um produto que impermeabiliza e impede a entrada de água de chuva em uma superfície vertical. No caso de uma base horizontal, um piso que pode acumular água, não recomendamos o uso, porque ele não tem resistência à abrasão e não suporta pressão hidrostática”Eng. Michel Haddad
AECweb – E para quais situações costuma ser indicado?
Haddad – É importante dividir as coisas. Os hidrofugantes são, em geral, conhecidos no mercado, como resina de silicone impermeabilizante. Sim, de certa forma, você está impermeabilizando, pois está repelindo a água. Mas quando nós falamos em impermeabilizante, pressupõe-se uma resistência à pressão hidrostática. O hidrofugante não têm essa capacidade. Trata-se de um produto que impede a entrada de água de chuva em uma superfície vertical. No caso de uma base horizontal, um piso que pode acumular água, não recomendamos o uso, porque ele não tem resistência à abrasão e não suporta pressão hidrostática. Por exemplo: eu não posso impermeabilizar um reservatório com hidrofugante por dentro, mas posso proteger a superfície externa da ação dos agentes agressivos do ambiente. E isso não apenas na situação da corrosão. Posso aplicar, por exemplo, em uma telha cerâmica ou uma fachada de tijolinho, para evitar que a água ajude a impregnar sujeira e desgaste esses materiais com mais facilidade. Repelindo a água, mantenho o aspecto estético e a qualidade da superfície por muito mais tempo. Posso ter desde uma utilização mais residencial – por exemplo, em telhas, pedras naturais e tijolinho aparente – até as aplicações mais técnicas, quando preciso proteger uma estrutura de concreto da corrosão.
“O fabricante consegue trabalhar as dosagens de molécula e é possível obter produtos capazes de atender diversas faixas de durabilidade para diferentes tipos de obra, com requisitos distintos”Eng. Michel Haddad
AECweb – Como deve ser definida a dosagem do hidrofugante e a posterior aplicação? Quais são os principais cuidados nessas etapas?
Haddad – A dosagem vai depender muito do produto especificado. Cada fabricante é quem vai definir. Existem dois tipos de moléculas básicas que costumam compor os hidrofugantes: os silanos e os siloxanos. É muito comum, ao ler a ficha técnica de um produto, reparar na composição e perceber que se trata de um blend. Um hidrofugante à base de silano siloxano corresponde a uma mistura desses dois tipos de molécula. Os siloxanos são moléculas grandes, que adentram menos na estrutura e acabam tendo uma durabilidade menor. Os silanos são moléculas muito pequenas, que penetram mais e tem uma durabilidade maior. O silano siloxano, em geral, é um produto com o custo-benefício mais ajustado para um uso de menor complexidade. Por exemplo, se eu aplicar em uma fachada de tijolinho à vista ou mesmo em uma viga de concreto, haverá o efeito desejado de repelir a água. Pode durar em torno de 3 anos até ser necessária uma reaplicação. Com o silano, que é menor e penetra mais – um produto nobre e, portanto, um pouco mais caro – se eu especificar uma dosagem com 99% ou 100% dessa molécula, já terei um altíssimo desempenho, suficiente para proteger estruturas por cerca de 15 anos. O fabricante consegue trabalhar as dosagens de molécula e é possível obter produtos capazes de atender diversas faixas de durabilidade para diferentes tipos de obra, com requisitos distintos.
“A umidade funciona como um condutor. Carbonatação, basicamente, é a entrada de dióxido de carbono, mas esse gás, isolado, não faz muita coisa. (...) O íon cloreto também não entra sozinho. A água vai ser um veículo, que chamamos tecnicamente de eletrólito”Eng. Michel Haddad
AECweb – Há algum cuidado, por exemplo, em relação à superfície antes da aplicação?
Haddad – O ideal é que a superfície esteja seca e a absorção costuma ser melhor em dias de calor. Dependendo do tipo de substrato, a base pode ter absorções diferentes. Por exemplo, se o fabricante define que você vai ter que utilizar uma média de 300 ml por metro quadrado em uma superfície de tijolo cerâmico aparente, que é mais poroso, pode ser que tal medida seja consumida rapidamente. Em uma ou duas demãos, você já consegue aplicar aquilo que o fabricante recomendou. Já em um concreto um pouco mais denso, mais fechado, com porosidade menor e com maior necessidade de proteção, pode ser que ele recomende 500 ml por metro quadrado. Depende do fabricante do produto. Então, eu vou aplicar, esperar a base puxar, ou seja, absorver aquele produto e, assim que ele começar a escorrer, é melhor parar, porque significa que não está mais absorvendo. Depois, você volta e aplica mais. Pode ser necessário aplicar três ou quatro demãos. Isso depende do consumo e de como está a base. Varia de estrutura para a estrutura.
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AECweb – Quais ensaios devem ser realizados para verificar o nível de absorção de água pelo concreto?
Haddad – Em relação aos ensaios para controle de qualidade da aplicação de hidrofugante, vejo duas questões: primeiro, entender se o substrato, de fato, absorveu o produto e quanto ele penetrou. Se você fizer uma aplicação com a expectativa de penetração do produto em 5mm, conforme a orientação do projetista ou do fabricante, pode extrair um pequeno testemunho, abri-lo e borrifar água. Até a espessura que o produto adentrou não haverá entrada de água. Só dali para frente. Consigo, assim, comprovar o quanto penetrou. O segundo ponto se refere à corrosão das armaduras. Se for causada por carbonatação do concreto ou por ingresso de cloretos, podemos seguir outros ensaios para avaliar se o hidrofugante está atendendo à proteção que necessitamos. A ideia é checar o antes e o depois da aplicação, verificando como está o processo de corrosão, se continua avançando. Isso serve para medir o desempenho e a eficácia da solução adotada. A umidade funciona como um condutor. Carbonatação, basicamente, é a entrada de dióxido de carbono, mas esse gás, isolado, não faz muita coisa. Ele precisa da água para se tornar um ácido carbônico lá dentro e iniciar o processo de carbonatação. O íon cloreto também não entra sozinho. A água vai ser um veículo, que chamamos tecnicamente de eletrólito. Vai levar o cloreto lá para dentro. A água é sempre um item muito importante nos mecanismos de degradação relacionados à corrosão.
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Colaboração técnica
- Michel Haddad – Engenheiro civil com MBA em gerenciamento de projetos, é especialista com mais de 25 anos de experiência em reabilitação de estruturas, sendo mais de uma década no mercado de produtos químicos para impermeabilização e recuperação estrutural. Atuou em empresas como Brucken, Recuperação e Concremat. Atualmente é gerente técnico da Sika Brasil. É professor em cursos de pós-graduação, membro da diretoria da Associação Brasileira de Patologia das Construções (Alconpat Brasil) e participa de comitês técnicos na área.