Como escolher a pós-graduação adequada na engenharia civil?
Ter clareza sobre o objetivo de fazer o curso, conhecer a instituição de ensino e consultar ex-alunos são algumas das recomendações
Definir o que se pretende com a formação continuada é fundamental. Só depois disso é que se deve pensar na escola, na modalidade de ensino ou em uma futura rede de relacionamento profissional (Foto: Shutterstock)
A falta de tempo, o excesso de trabalho, a escassez de dinheiro e o baixo estímulo por parte de alguns contratantes são alguns dos obstáculos mais comuns quando se trata de investir em uma pós-graduação na área da engenharia civil.
O dilema aflige tanto os jovens que deixaram a graduação há pouco tempo quanto os mais experientes que, por vezes, demonstram receio de voltar à escola e conseguir conciliar os estudos com o trabalho e a vida pessoal.
Costumo dizer que, se o profissional não incluir as atividades e afazeres do curso na agenda de trabalho, dificilmente vai conseguir concluí-loProf. Dr. Claudio Mitidieri, pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo
“Exige esforço pessoal, senso de prioridade, planejamento e muita organização”, afirma o engenheiro Claudio Mitidieri, pesquisador sênior do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo e professor do Mestrado Profissional em Habitação do IPT. “Costumo dizer que, se o profissional não incluir as atividades e afazeres do curso na agenda de trabalho, dificilmente vai conseguir concluí-lo.”
Mercado x Academia
Há dois tipos de pós-graduação no Brasil: lato sensu, que prepara os profissionais para desafios relacionados ao mercado de trabalho e inclui MBAs e diferentes tipos de especializações; e stricto sensu, voltada para qualificar pessoas para a carreira acadêmica, abrangendo aí o mestrado e o doutorado.
Há ainda, o mestrado profissional que, mesmo considerado stricto sensu, tem uma maior preocupação com a informação aplicada, ou seja, com as técnicas voltadas para o melhor desempenho do mestrando no mercado de trabalho. “Deixamos um pouco de lado o rigor acadêmico, mas com muita ênfase no aspecto metodológico, procurando incorporar o método científico de resolução de problemas na vivência profissional dos alunos”, revela Mitidieri.
Foco e duração dos cursos
No campo do lato sensu, voltado para a capacitação no mercado de trabalho, há várias opções de cursos: certificate (indicados para jovens recém-graduados), especialização (voltados para atualização ou aprimoramento de habilidades em área específica), MBA (sigla para master in business administration, ou seja, focado na área gerencial ou administrativa), entre outros.
A graduação oferece uma base, mas os avanços tecnológicos na construção civil demandam uma formação continuadaProf. Dr. Alex Abiko, titular da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
Há também a opção de cursos de aperfeiçoamento (carga horária de 180h, em geral) ou de curta duração (30h, por exemplo) para temas mais específicos. “A graduação oferece uma base, mas os avanços tecnológicos na construção civil demandam uma formação continuada”, afirma o professor da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, Alex Abiko.
Mas, afinal, o que o profissional deve considerar ao tomar a decisão de fazer uma pós-graduação na área de engenharia civil? Quais são os aspectos mais importantes?
Cinco aspectos para considerar na escolha da pós-graduação
1) Qual é o meu objetivo ao fazer o curso?
Definir o que se quer com a formação continuada constitui o primeiro passo e o mais importante. Só depois disso é que devemos pensar na escola, na modalidade de ensino ou em uma futura rede de relacionamento profissional. Quero ser professor ou pesquisador? Desejo ingressar em uma nova especialidade na área? Ou quero me atualizar para acompanhar as tendências de mercado? Preciso de um conhecimento específico para me auxiliar na resolução de um problema prático? Parece uma definição simples, mas não é. Quanto mais consciente desse objetivo, melhor será a tomada de decisão do profissional, seja para escrever uma dissertação de mestrado e ingressar na carreira acadêmica, para fazer um curso de aperfeiçoamento profissional sobre BIM ou ainda para atualizar conhecimentos sobre resíduos sólidos na construção civil. São esforços bem distintos.
2) Qual é a reputação da instituição de ensino?
Pode até soar como lugar-comum, mas continua sendo muito importante. Estudar em uma boa escola é algo bastante valorizado pelos contratantes na área da engenharia civil. Se a graduação não foi feita em uma instituição de primeira linha, mais um motivo para investir nisso na pós-graduação. Para ter certeza, é recomendável conversar com profissionais mais experientes, pesquisar rankings confiáveis e, em especial, verificar quem são os professores do curso, a formação, perfil e atuação deles.
As pessoas também perguntam: O que faz falta na formação dos engenheiros civis?
3) O que os ex-alunos acham do curso?
Se o item anterior (qualidade da escola) é relevante, este talvez seja ainda mais. O motivo é simples. Uma boa escola não está 100% imune de oferecer cursos ruins ou de qualidade inferior à sua reputação. Decisões erradas, saídas de professores, falta de planejamento ou até uma dose extra de soberba acadêmica podem enfraquecer um curso que teria totais condições de beirar a excelência. Como se diz no futebol, ‘nome e currículo não ganham jogo e muito menos campeonato’. E ninguém melhor do que os veteranos para avaliarem a qualidade do curso. “Os ex-alunos desenvolvem uma percepção única, prática, da relação custo-benefício do curso”, afirma Abiko.
4) Presencial ou ensino à distância?
A pandemia inaugurou uma nova era no ensino em praticamente todo o planeta. O que antes era uma opção – por vezes, desvalorizada – passou a ser uma necessidade com a imposição do isolamento social provocado pela covid-19. O resultado é que tanto as escolas quanto os professores e alunos possuem hoje uma visão mais realista do ensino à distância, com as respectivas vantagens e desvantagens expostas de maneira clara. Por isso – de forma análoga ao que se observa com o home-office –, a tendência hoje é a valorização do sistema híbrido.
“Ainda há desafios de regulamentação, mas creio que o modelo mesclando o presencial com o EAD deve ganhar mais espaço, principalmente nos cursos de extensão universitária”, acredita Abiko. Mitidieri concorda, ressaltando que o sistema online reduz custos e permite que pessoas residentes longe da escola possam cursar também. Mas faz uma ressalva em relação aos conteúdos gravados. “Na minha visão, a participação do aluno e do professor de forma simultânea, síncrona, é muito importante para aumentar o envolvimento com o curso”, opina o pesquisador do IPT.
5) Qual é o potencial de networking?
Construir ou renovar a rede de relacionamentos constitui, sem dúvida, um dos potenciais benefícios da educação continuada. Há, inclusive, alunos que acabam se dedicando mais ao networking do que ao aprendizado em si. Exageros à parte, trata-se de uma forma extremamente saudável de conviver com pessoas que atuam na mesma área, que compartilham dores parecidas e enfrentam desafios semelhantes na carreira.
A pessoa na carteira ao lado pode ser, no futuro, responsável por uma indicação profissional, tornar-se colega de trabalho, cliente ou até sócio em um novo negócio. Nesse aspecto específico, o modelo presencial ou híbrido costuma ser mais eficiente. Entretanto, se o curso for dinâmico e a turma bem engajada, até com o EAD é possível abrir novos relacionamentos profissionais.
Colaboração técnica
- Alex Abiko – Professor titular em Gestão Urbana e Habitacional da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo desde 2002. Possui graduação em Engenharia Civil pela Poli-USP, mestrado e doutorado pela mesma universidade. Tem experiência na área de Engenharia Civil, atuando nos seguintes temas: cadeia produtiva da construção civil, governança urbana e habitacional, engenharia urbana, habitação social, urbanização de favelas e sustentabilidade urbana.
- Claudio Mitidieri – Doutor em Engenharia Civil pela Universidade de São Paulo, é pesquisador sênior do Laboratório de Tecnologia e Desempenho de Sistemas Construtivos do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Especialista em sistemas construtivos e desempenho de edificações habitacionais, é docente e coordenador da área de tecnologia do Mestrado Profissional em Habitação: Planejamento e Tecnologia, do IPT.