O que faz um Orçamentista de Obras
Avanço do BIM e interface com viabilidade de empreendimentos, planejamento e controle de obras renovam oportunidades na área
Ainda pouco valorizada no Brasil, função de orçamentista possui papel estratégico na dimensão 5D do BIM, que trata de análise de custos e orçamentação (Foto: Shutterstock)
Engana-se muito quem acha que preparar um orçamento de obras se resume a operar um software que multiplica quantidades, levantadas a partir de um projeto 2D, por preços unitários oriundos de uma tabela padrão.
O papel do orçamentista é cada vez mais importante em um cenário de instabilidade econômica, inflação setorial e avanço do BIM (Bulding Information Modeling), que tem revolucionado a maneira de projetar (2D para 3D), compatibilizar projetos, planejar o empreendimento (dimensão 4D) e levantar, analisar e controlar custos (5D).
A interface direta do orçamento com as etapas de análise de viabilidade de empreendimentos, planejamento e controle de obras valorizam ainda mais a função.
Ainda não temos profissionais de orçamentos de obras capacitados para preparar o orçamento em 5DRosângela Castanheira, sócia-diretora da Tríade Engenharia de Custos
5D: Uma nova era para o orçamento de obras
“Quero deixar uma dica para o pessoal: ainda não temos profissionais de orçamentos de obras capacitados para preparar o orçamento em 5D”, afirma a tecnóloga Rosângela Castanheira, sócia-diretora da Tríade Engenharia de Custos. “É uma grande oportunidade para jovens profissionais que estejam dispostos a estudar o assunto em profundidade”, conclui.
O engenheiro Pedrinho Goldman, sócio-diretor da Pekman Engenharia, empresa especializada em estudos de viabilidade, orçamentos e gerenciamento de edificações, concorda plenamente com a colega. “O avanço do BIM ainda é um pouco lento no Brasil, mas irreversível. E todos estamos aprendendo juntos, o que abre oportunidades extraordinárias para os jovens profissionais”, afirma.
Novas dificuldades com os modelos
Um dos obstáculos que os orçamentistas têm encontrado para o levantamento automatizado de quantidades – uma das grandes ‘promessas’ do BIM na dimensão 5D – está relacionada à qualidade do modelo, ou seja, do projeto em 3D. “Muitas vezes, a modelagem pode estar adequada para o projeto, mas não para o nível de quantitativos, afirma Goldman.
“Costumo dizer que nem tudo precisa ser modelado, mas tudo deve constar no modelo. Não há um botão mágico chamado 5D, capaz de gerar quantidades de forma automática”, afirma Rosângela. “A precisão dos quantitativos advém da qualidade das informações que estão contidas no modelo e isso não depende do orçamentista”, completa a especialista.
Mas, afinal, para atuar nesse novo e desafiador contexto, quais são os requisitos necessários para os profissionais que vão preparar orçamentos de obras?
Competências e habilidades do orçamentista de obras
1) Ser estudioso e gostar de aprender
“Quando contrato alguém para trabalhar comigo, dou sempre uma olhada no histórico escolar”, afirma Goldman. “Porque se não gostar de estudar, dificilmente dará certo”, completa o engenheiro. Além do prazer em trabalhar com números e de entender os aspectos específicos da orçamentação, é fundamental estar atualizado com as inovações da engenharia civil e da arquitetura. Isso exige aprendizado constante e interesse em conhecer novas tecnologias e sistemas construtivos.
Visitar construtoras, as obras e os fornecedores de materiais agrega ensinamentos muito importantes para os orçamentistasEng. Pedrinho Goldman, sócio-diretor da Pekman Engenharia
2) Vivência em obras
Requisito fundamental. “O orçamento é a obra em formato de planilha. Como você será capaz de prepará-lo sem compreender o desenrolar dela, sem entender como será executada?”, indaga Rosângela, que recomenda aos profissionais irem às obras pelo menos uma vez por semana para, por exemplo, fazer as apropriações dos índices de produtividade que são utilizados nos orçamentos.
Goldman reforça que, se o profissional não possuir tal vivência, terá que buscar auxílio de terceiros para orçar, por exemplo, a instalação do canteiro de obras, a parte logística, equipamentos e ferramentas necessárias à execução dos serviços. “Visitar construtoras, as obras e os fornecedores de materiais agrega ensinamentos muito importantes para os orçamentistas”, conclui.
3) Paciência e precisão sob pressão
O nível de precisão dos orçamentos de obras em relação ao que, de fato, virá a ser gasto em um empreendimento costuma ser motivo de orgulho – quando o resultado é bom – ou de decepção, quando a estimativa apresenta um desvio mais elevado. Afinal, o resultado das empresas construtoras e incorporadoras costuma depender de tal equação. A pressão sobre o orçamentista, portanto, é inevitável. Para lidar com isso, os profissionais experientes recomendam paciência e resiliência, além de conhecimento e um bom método de trabalho, capaz de proporcionar segurança nas informações transmitidas.
4) Habilidade com planilhas e conhecimento de sistemas
Trabalhar bem com planilhas Excel é requisito básico para um bom orçamentista. Ferramenta para organização de dados em um sistema de linhas e colunas, onde é possível incluir operações matemáticas e fazer a análise de dados, o software da Microsoft é presença indispensável no cotidiano dos profissionais da área, mesmo quando se trabalha com outros aplicativos específicos para a orçamentação de obras. A variedade de sistemas nessa área aumentou bastante nos últimos e vale a pena pesquisar a fundo antes de se especializar em uma determinada ferramenta. Um dos requisitos a serem avaliados, sem dúvida, é o nível de integração da plataforma com os processos BIM.
As pessoas também perguntam: Como fazer uma boa gestão de custos, prazo e qualidade nas obras?
5) Disciplina e organização
Em qualquer processo que envolve valores financeiros, possuir rastreabilidade das informações é fundamental para assegurar a segurança do processo. Portanto, se o profissional de orçamento de obras não for organizado e disciplinado no registro de todos os dados, terá muitas dificuldades, principalmente quando ocorrerem problemas e explicações forem solicitadas. “Lidamos com recursos de terceiros e, em alguns casos, até de contratantes públicos, então, possuir uma metodologia rígida de controle das informações é indispensável”, explica Rosângela.
Colaboração técnica
- Pedrinho Goldman – Graduado em engenharia civil pela PUC-RJ, possui mestrado e doutorado pela Universidade Federal Fluminense. É sócio-diretor da Pekman Engenharia, empresa especializada em estudos de viabilidade, orçamentos e gerenciamento de edificações. É autor dos livros “Introdução ao Planejamento e Controle de Custos na Construção Civil” e “Viabilidade de Empreendimentos Imobiliários” e professor da Fundação Getúlio Vargas no MBA de Gestão Imobiliária – “Orçamento e Planejamento de Custos de Edificações”.
- Rosângela Castanheira – Graduada pela Fatec-SP em tecnologia de construção civil, possui MBA em gestão estratégica de custos pelo IBEC/INPG. Sócia-diretora da TRÍADE Engenharia de Custos, recebeu certificação por “Notório Saber em Engenharia de Custos”, creditada pelo International Cost Engineering Council (ICEC). É docente em cursos de pós-graduação, graduação e atualização profissional em várias instituições de ensino, tais como FACENS, Inbec e IPOS.