Como se tornar um designer de interiores?
Formação técnica, boa cultura geral, rede de relacionamentos e habilidade na gestão de pessoas são ingredientes relevantes para atuar em uma área cada vez mais profissionalizada
O estereótipo do decorador se distancia de um ambiente cada vez mais profissional, que exige sensibilidade artística e uma boa dose de cultura geral, mas aliada a uma formação técnica consistente, capaz de preparar os jovens para diversos desafios (Imagens: Shutterstock; montagem: Cozza)
“Design de interiores é uma carreira, uma profissão. Não é um estado inspiracional, o que o coloca bem distante da decoração.” A frase é do arquiteto e coordenador de cursos de graduação e pós-graduação na área, Alexandre Salles.
O exercício da profissão é regulamentado desde 2016, sob a Lei Federal Nº 13.369. A legislação define que “designer de interiores e ambientes é o profissional que planeja e projeta espaços internos, visando ao conforto, à estética, à saúde e à segurança dos usuários (...).”
Leia também:
8 passos para aumentar a eficiência em suas obras
As disciplinas encontradas em um curso superior de design de interiores dão conta da diversidade e da complexidade dos assuntos com os quais os futuros profissionais vão se deparar no mercado.
“A experiência internacional nos mostra que o escritório de design de interiores é tão importante quanto o de arquitetura ou de engenharia, na composição necessária para a entrega do resultado final de um empreendimento”Arq. Alexandre Salles
O aluno percorre desde teoria e história da arte e do design, passando por desenho técnico e assistido por computador (CAD), cores, materiais e tecnologia, mobiliário e layout, iluminação e sustentabilidade até gestão de projetos, ética profissional e, em alguns casos, marketing e promoção.
“A experiência internacional nos mostra que o escritório de design de interiores é tão importante quanto o de arquitetura ou de engenharia, na composição necessária para a entrega do resultado final de um empreendimento”, afirma Salles.
Um dos equívocos comuns relacionados à profissão é vinculá-la exclusivamente ao design residencial. Por ser o segmento mais amplo, com um mercado imenso de pequenas reformas e intervenções, acaba por ofuscar outras áreas que demandam especialização e um intenso trabalho conjunto com profissionais de outras disciplinas.
Escritórios, lojas, restaurantes e bares, espaços industriais e corporativos, instalações na área de saúde, paisagismo e até ergonomia são potenciais campos de trabalho – cada um com a sua característica e exigências específicas. Vale a pena explorar esses segmentos e as conexões possíveis com outras especialidades.
ESTÁGIO PROFISSIONAL
Se a formação acadêmica é fundamental, o bom desempenho de um designer de interiores requer também um complemento prático, uma vivência no dia a dia da profissão. E o estágio é um excelente caminho nesse sentido.
Existem oportunidades não apenas nos escritórios de design e arquitetura de interiores, mas também em incorporadoras e construtoras, além de marcas e fornecedores que atuam nas áreas de acabamento, mobiliário e revestimentos. Empresas mais especializadas, como é o caso de luminotecnia, paisagismo e design industrial também possuem demanda por jovens em fase de formação.
Algumas escolas para estudar design de interiores
Design de Ambientes | Universidade do Estado de Minas Gerais
Curso Superior de Decoração (Design de Ambientes) | Escola de Belas Artes da Universidade Federal da Bahia
Design de Interiores | Belas Artes | São Paulo
Design de Interiores | Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro
Pós-graduação em Design de Interiores Contemporâneo | Istituto Europeo di Design | São Paulo e Rio de Janeiro
O importante, principalmente no início da trajetória, é acumular experiências e, aos poucos, começar a distinguir, na prática, o que é atrativo, ou não, para si mesmo.
NETWORKING
A mesma lógica vale para o relacionamento, considerado um quesito fundamental na profissão. “Há uma série de grandes, médios e pequenos eventos que merecem ser visitados, tanto pela busca de informação e conhecimento quanto pelo networking com os colegas da área”, afirma o arquiteto e jornalista, Pedro Ariel Santana, diretor de conteúdo e relacionamento da CasaCor.
E não se trata apenas de se expor. No início da trajetória, é fundamental ouvir os profissionais mais experientes e absorver tudo aquilo que está disponível, mesmo que, em um primeiro momento, não pareça tão atraente ou alinhado com as suas ideias, aptidões e o gosto pessoal.
“O importante, nesse momento inicial, é participar. Tanto das atividades de associações como a ABD (Associação Brasileira de Design de Interiores) quanto de grandes eventos como o Congresso Nacional de Design de Interiores e a CasaCor, além daqueles promovidos pelas marcas e fornecedores da área”, destaca Santana.
“O jovem profissional deve entender que escolheu uma área que está intimamente ligada à comunicação”, comenta Salles. “Ele vai precisar falar e defender o próprio trabalho durante toda a carreira.”
As pessoas também perguntam:
Como preparar o currículo e o portfólio de um arquiteto?
PERFIL DO DESIGN DE INTERIORES
Mas quais são, afinal, os principais requisitos exigidos desse profissional? Confira cinco habilidades e competências desejáveis para o designer de interiores:
Paixão e curiosidade constante: é um requisito básico. Alguém que não se interessa por arte, estética e beleza terá dificuldades para se envolver com profundidade no ofício. São os insumos básicos para o exercício da profissão. É essa paixão que vai despertar uma curiosidade perene, “a vontade de criar e, em especial, de recriar algo que já tenha sido feito”, como destaca Santana. Para Salles, o designer deve ser uma espécie de “andarilho, um arqueólogo sempre em busca de informações.”
Cultura geral e erudição: ninguém consegue criar espaços interessantes para viver, trabalhar, estudar, comer, comprar, se curar ou desempenhar qualquer atividade humana sem saber como funciona a sociedade onde vive, as raízes de cada cultura, região ou comunidade. Quais são os elementos invisíveis que afetam a disposição da materialidade que nos cerca? É preciso ser generoso e ter uma escuta ativa, aguçada, para captar esses elementos. Ou seja: ler, viajar, assistir filmes, estudar e se interessar por culturas e pessoas.
Domínio da técnica: como diz o arquiteto Salles, “design de interiores não é um estado inspiracional”. Exige estudo, método, técnica e conhecimento para a prática profissional. Isso inclui, por exemplo, a habilidade de se comunicar pelo desenho à mão – não há necessidade de ser um exímio desenhista, mas é importante saber se expressar. Também é importante saber operar os sistemas computacionais disponíveis hoje no mercado, tais como o Autocad, Revit, Archicad, SketchUp e Promob, entre outras plataformas de usos mais específicos.
Relacionamento: na vida prática, arrumar trabalho será uma das tarefas mais desafiadoras para os jovens profissionais. O networking é fundamental para se desenvolver na profissão e, em especial, gerar oportunidades de negócios. Ficar antenado e tornar-se assíduo nos eventos e atividades da área é muito importante. Tanto aqueles regionais quanto os grandes congressos, simpósios e workshops de alcance nacional.
Gestão de pessoas: vamos supor que você tenha o perfil adequado e demonstre potencial em todos os quatro itens anteriores. Nota 10? Ainda não. Se não souber se relacionar com diferentes tipos de pessoas, todo o esforço e dedicação pode ser desperdiçado. Seja com fornecedores, colegas, seu chefe ou, em especial, com os clientes, a habilidade de se relacionar com gente é requisito básico. “Existem gostos, formações e expectativas que variam muito de cliente para cliente”, revela Santana. “Faz parte da profissão, por exemplo, saber entrar na intimidade de um casal e até desempenhar um pouco o papel de terapeuta, com muito jogo de cintura”, conclui.
Colaboração técnica
- Arq. Alexandre Salles – Arquiteto e mestre em semiótica urbana, formado pela FAU-USP. Coordena os cursos de graduação e pós-graduação em design de interiores e design de mobiliário do Instituto Europeu di Design – IED São Paulo. Com vasta experiência em grandes escritórios de arquitetura em São Paulo, fundou em 2011, o Estúdio Tarimba. Possui participação em bancas acadêmicas em universidades brasileiras e também como membro do júri de inúmeros prêmios relacionados ao design de interiores, produto, arquitetura, como Prêmio Design MCB, Tomie Ohtake –Leroy Merlin, Prêmio de Design Universitário Tok&Stok, Prêmio Muda, Prêmio Casa Vogue. Também participa e atua na curadoria de conteúdo de eventos e mostras relacionadas ao universo da arquitetura e design, como CasaCor, Semana Criativa de Tiradentes, DW, Salone Internazionale del Mobile, High Design e For Mobile.
- Arq. Pedro Ariel Santana – Formado em arquitetura e urbanismo pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo. Depois de passar por alguns dos melhores escritórios de design de interiores da capital paulista, trabalhou por 18 anos na Editora Abril, na qual foi diretor de redação da revista Casa Claudia. Organizou vários livros, entre eles “Artesãos do Brasil” e “Design Brasil: 101 Anos de História.” Foi curador de diversas exposições de design e artes em São Paulo e Milão, incluindo as quatro primeiras edições da Semana de Design de São Paulo (DW). Hoje é diretor de conteúdo e relacionamento da CasaCor onde atua como curador das mostras em todo o Brasil. É autor de cinco livros da série “A Grande Beleza” e do livro “A Casa Original”.