O que as construtoras buscam nos engenheiros de obras?
Conhecimento técnico e habilidade com planilhas são pré-requisitos. Competências muito valorizadas incluem liderança, gestão e trabalho em equipe
Antigo perfil do ‘tocador’ de obras ficou no passado. Construtoras procuram engenheiros bem formados e com interesse em aprender, evoluir e saber liderar equipes (Foto: Shutterstock)
Não se constrói sozinho – salvo raras exceções, em escalas reduzidas e pontuais, como pequenas obras e reformas. A gestão de pessoas é inerente à atividade do engenheiro civil que trabalha em campo. Imagine convencer, por exemplo, centenas de profissionais a usarem máscaras nos canteiros em tempos de pandemia e, de quebra, ter que lidar com quem não está cumprindo a determinação.
O cotidiano do engenheiro de obras, portanto, vai além das questões técnicas e do controle de prazo e custos: saber lidar com gente, convencer, estimular de forma positiva e direcionar o esforço coletivo para o sucesso do empreendimento.
Os aspectos ligados à gestão, entretanto, nem sempre estão contemplados nos cursos de Engenharia Civil. “Habilidades humanas necessárias à atividade não são ensinadas em nossas faculdades”, observa o engenheiro civil Luiz Henrique Ceotto, sócio da incorporadora e construtora Urbic.
Como se preparar, então, para entrar (ou não sair) do mercado? Quais são os pré-requisitos e as habilidades valorizadas pelas construtoras na hora de selecionar os engenheiros de obras?
Competências e habilidades para o engenheiro de obra
1) Conhecimento técnico
Premissa básica. Trata-se de uma atividade na qual erros podem resultar não apenas em prejuízos econômicos, mas também na perda de vidas. Ou seja, não dá para suavizar ou relativizar a relevância da bagagem técnica. E se a faculdade não foi capaz de suprir esse quesito, o ideal é complementar a formação em uma pós-graduação, um mestrado profissional ou em cursos específicos reconhecidos, de alto nível. As construtoras costumam reconhecer esse tipo de esforço.
O assunto é tão sério que algumas empresas chegam a aplicar testes de conhecimento prático nos candidatos a vagas de engenheiros de obras. “Abordamos questões técnicas do cotidiano como, por exemplo, a sequência de desfôrma de uma laje”, afirma o engenheiro Jorge Batlouni Neto, sócio e diretor da Tecnum Construtora.
Trabalhar em equipe exige empatia com as pessoas, capacidade de comunicação e habilidade, por exemplo, para dar e receber feedbacksEng. Luiz Henrique Ceotto, sócio da incorporadora e construtora Urbic
2) Habilidades com planilhas
O Excel e programas similares são encarados como pré-requisitos para a função. Não é preciso ser um programador, mas o nível básico de uso na ferramenta também não vai atender às necessidades. Claro que existem várias outras plataformas e sistemas relevantes voltados para as construtoras – o MS Project e os sistemas CAD, por exemplo, são mencionados por alguns dirigentes –, mas as planilhas são, de longe, as mais lembradas como essenciais para a função.
3) Liderança e trabalho em equipe
Há quem diga que liderança não se ensina ou até que seria algo nato. Outros garantem que é uma habilidade que pode (e deve) ser desenvolvida e aprimorada. O fato é que o engenheiro de obras será visto e terá que agir como um líder, tanto para equipes próprias quanto terceirizadas. Portanto, seja natural ou não, a liderança terá que ser treinada e exercitada na prática. “Trabalhar em equipe exige empatia com as pessoas, capacidade de comunicação e habilidade, por exemplo, para dar e receber feedbacks”, afirma Ceotto.
É muito bacana quando um engenheiro de obras traz informações sobre uma norma recente ou uma nova tecnologia. Mostra o quanto está antenadoEng. Jorge Batlouni Neto, sócio e diretor da Tecnum Construtora
4) Competência em gestão
Pouco abordada nas faculdades de Engenharia Civil, a capacidade de gestão é fundamental no cotidiano dos canteiros de obras. Além do gerenciamento de pessoas, o planejamento, o controle de custos, de materiais e prazos são fundamentais para o engenheiro. O problema é que até rotinas administrativas básicas, como prestações de contas, faturamento e tributação acabam surgindo para os jovens profissionais somente nos programas de estágio ou de trainees. Para um nível mais avançado, Ceotto recomenda o PMI (Project Management Institute), que oferece a certificação Project Management Professional (PMP), Profissional de Gerenciamento de Projetos, em português. “Auxilia no crescimento profissional e aumenta o nível de empregabilidade no mercado”, afirma o diretor da Urbic.
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5) Capacidade de aprender e lidar com as novas tendências
A construção civil tem passado por transformações que exigem dos profissionais acompanhar de perto tendências e novos assuntos relevantes. Não dá para ficar alheio, por exemplo, aos requisitos da Norma Desempenho (NBR 15575), ao avanço do BIM (Building Information Modeling) nos projetos e obras e às exigências crescentes de instituições financeiras e investidores em relação ao ESG (a sigla em inglês para environmental, social and governance ou meio ambiente, social e governança, em português). E a melhor maneira de lidar com tudo isso é gostar de aprender e assimilar coisas novas. “Temos uma reunião periódica aqui na empresa com toda a equipe técnica para disseminar e uniformizar o conhecimento ”, revela Batlouni. “É muito bacana quando um engenheiro traz informações sobre uma norma recente ou uma nova tecnologia. Mostra o quanto está antenado”, conclui.
Colaboração técnica
- Jorge Batlouni Neto – Engenheiro civil com mestrado profissional em Habitação pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo. Sócio e diretor da Tecnum Construtora, é vice-presidente do SindusCon-SP e professor convidado no MBA da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo.
- Luiz Henrique Ceotto – Engenheiro civil com mestrado em Engenharia de Estruturas pela Universidade de São Paulo, possui também certificado executivo em Estratégia e Inovação pelo MIT (Massachusetts Institute of Technology). Atuou na direção técnica da Encol, Inpar e Tishman Speyer. Professor visitante da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, é sócio da construtora e incorporadora Urbic.