O Brasil receberá 95 novos prédios públicos. A informação consta em levantamento elaborado pela Rede de Obras, ferramenta de pesquisa da e-Construmarket. Segundo o estudo, 63 empreendimentos já estão em execução e os outros 32 se encontram em diferentes etapas de desenvolvimento. O estado do Paraná concentra a maioria dos projetos, com 15 edificações. Na sequência aparece São Paulo (11), Minas Gerais (10) e Rio Grande do Sul (7).
Se comparadas com projetos particulares, as obras públicas costumam exigir mais do arquiteto. “Isso acontece porque na maioria dos contratos licitatórios são incluídos, além do projeto arquitetônico, todos os projetos de engenharia, topografia, sondagem, orçamento e cronograma físico-financeiro da obra. Essa particularidade eleva o nível de responsabilidade e complexidade de gerenciamento de todo o trabalho”, avalia o arquiteto Kleimer Martins, sócio-diretor da Martins Lucena Arquitetos.
O bom projeto de arquitetura institucional cria espaços funcionais, capazes de aperfeiçoar os processos no ambiente de trabalho e, consequentemente, o atendimento à populaçãoKleimer Martins
O grande desafio do profissional responsável é lidar com todas as determinações presentes na licitação e ao mesmo tempo desenvolver um empreendimento que facilite a prestação de serviços. “O bom projeto de arquitetura institucional cria espaços funcionais, capazes de aperfeiçoar os processos no ambiente de trabalho e, consequentemente, o atendimento à população. Isso sem deixar de proporcionar conforto a todos os usuários, sejam funcionários ou público em geral”, afirma o arquiteto.
Para o profissional, a principal diferença entre projeto público e privado está na gestão de documentos, atividade extremamente burocrática. “Isso acaba exigindo bem mais do gerente de projetos”, avalia. Outra particularidade das obras governamentais é o prazo bastante apertado, que, muitas vezes, inviabiliza a participação de consultores ou especialista.
“No geral, os prazos envolvidos nesse tipo de projeto são muito curtos para a quantidade de trabalho a ser realizado”, informa o arquiteto, lembrando que, além das licitações, outra modalidade de contratação bastante comum são os concursos de projetos. Neste processo, profissionais de arquitetura e urbanismo propõem diferentes soluções para determinado cenário e cabe ao poder público eleger a melhor opção. A vantagem dessa modalidade é a possibilidade de analisar diferentes pontos de vista sobre uma mesma obra.
Para se candidatar a um projeto público, o escritório de arquitetura precisa apresentar conhecimento sobre um forte controle de processos, além de excelente coordenação e gerenciamento de projetos. “É recomendável que a empresa também apresente bom acervo técnico de todas as soluções que irão compor a edificação”, complementa Martins.
No geral, os prazos envolvidos nesse tipo de projeto são muito curtos para a quantidade de trabalho a ser realizadoKleimer Martins
Os profissionais precisam, ainda, ter conhecimento sobre a legislação vigente, como a norma ABNT NBR 9050 — Acessibilidade a edificações, mobiliário, espaços e equipamentos urbanos, que, atualmente, está em processo de revisão. Também é necessária atenção às diretrizes regionais, como acontece no Paraná com a Lei Estadual 17.084/2012, que determina que os novos empreendimentos públicos tenham sistemas de aquecimento de água por energia solar e reaproveitamento de água de chuva, além de telhados ambientalmente corretos.
Apesar de serem obras que exigem mais dedicação dos responsáveis, os prédios públicos contam com soluções arquitetônicas comuns na construção civil. Prova disso é o Complexo do Ministério Público da Paraíba, localizado na cidade de João Pessoa (PB) e projetado pelo escritório Martins Lucena Arquitetos. A edificação tem sistema estrutural misto (aço e concreto) e seus pilares e vigas metálicas são modulados em malha, servindo de apoio a lajes steel deck que avançam lateralmente e suportam o sistema de esquadrias e brises.
A fachada do empreendimento apresenta, ainda, pequenas jardineiras que envolvem os ambientes de trabalho em todos os pavimentos. “O conjunto estrutural é ancorado pelas quatro torres de circulação vertical em estrutura de concreto. Outro recurso utilizado como elemento de amenização climática foi o avanço dos beirais apoiados em mãos de força no coroamento do conjunto”, explica o profissional.
Os pisos são em concreto, lavado no exterior e polido no interior. As poucas paredes de alvenaria existentes recebem revestimento em massa hidrofugante texturizada; já os fechamentos em esquadrias/brises de alumínio e vidro promovem proteção solar e controle térmico natural às áreas de trabalho. “Por fim, os tetos são compostos por painéis termoacústicos removíveis, que permitem acesso aos sistemas de instalações permeando todos os pavimentos”, comenta o arquiteto.
O aproveitamento de energia renovável acontece pelo acionamento de geradores eólicos e painéis fotovoltaicos instalados nas áreas de cobertura do complexo. A eletricidade produzida é aproveitada em circuitos específicos, como de iluminação das áreas externas e estacionamento.
O empreendimento foi projetado pensando em futuras ampliações. “A primeira opção é a implantação de mais 24 mil metros quadrados, divididos em dois blocos unidos pelas torres de circulação vertical. Já a segunda alternativa também oferece 24 mil metros quadrados, mas divididos em três blocos e conectados pelas torres de circulação vertical”, finaliza Martins.
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