Os arquitetos e urbanistas brasileiros receberam uma boa notícia: a premiação do Leão de Ouro da 15ª Exposição Internacional de Arquitetura da Bienal de Veneza – uma das maiores premiações mundiais da área – ao arquiteto Paulo Mendes da Rocha. O anúncio foi realizado no início de maio, e a cerimônia aconteceu no dia 28 do mesmo mês, no Palazzo Giustinian, na cidade italiana. É o primeiro brasileiro a receber esta premiação.
Mais do que uma boa notícia, o prêmio é um reconhecimento de seu importante papel na produção internacional e na inserção da arquitetura brasileira no cenário mundial, mostrando que temos uma contribuição substancial a dar à cultura. Em 2006, Paulo já havia recebido o Prêmio Pritzker – outro importantíssimo prêmio internacional, considerado o “Nobel” da arquitetura, além do Prêmio Mies van der Rohe, em 2000.
Capixaba, Paulo Mendes da Rocha mudou-se para São Paulo na década de 1940, onde formou-se pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em 1954. Não por acaso, sua produção profissional reflete a linguagem da arquitetura paulista, que hoje galga espaços pelo mundo. Nela o concreto se evidencia, tirando partido de todo um formalismo rigoroso que é a sua essência.
Na capital paulista, temos as principais referências do valoroso trabalho de Paulo Mendes da Rocha, com destaque para o Mube – Museu Brasileiro da Escultura; a Pinacoteca do Estado; o Museu da Língua Portuguesa; o Ginásio do Clube Atlético Paulistano, seu primeiro projeto a sair do papel, datado de 1957 (hoje descaracterizado, mas em vias de recuperação); além de inúmeras residências que ilustram um característico morar paulistano.
A atuação profissional de Paulo também encontrou caminhos sólidos na contribuição ao ensino da Arquitetura, principalmente na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo – USP. Lá foi professor por longo período, formando inúmeras gerações de profissionais com grande qualidade de produção.
O reconhecimento internacional de sua obra é um exemplo claro do que o júri da Bienal de Veneza chamou de “atemporalidade” – marca característica da linguagem arquitetônica que tem no trabalho de Paulo Mendes da Rocha um dos seus maiores expoentes.
Seus projetos contemplam uma importante pesquisa técnica construtiva, que resulta em belíssimas estruturas, criando grandes espaços centrais – verdadeiras almas dos edifícios.
O valor e o reconhecimento da arquitetura brasileira no exterior vêm de encontro ao que por vezes acontece em nosso próprio país, em função de legislações vergonhosas como o Regime Diferenciado de Contratação (RDC), que despreza toda a essência de um projeto arquitetônico e sua força para resultar em obras de qualidade.
Para homenageá-lo, o CAU lançou um selo, ou cartum, com a figura do arquiteto premiado carregando num barco seu prêmio bem em frente ao Pallazo Giustinian, assinado pelo cartunista e também arquiteto Paulo Caruso.
Por isso, estamos em festa! Vamos reverenciar Paulo Mendes da Rocha, que alça nessa premiação um pouco de orgulho de sermos brasileiros.