Percebi lá no fundo do auditório o sorriso irônico do André ao se levantar e se retirar assim que alguém da plateia fazia a pergunta para uma das palestrantes.
Saber se a frequência de afinação do violino de uma orquestra interfere no ruído externo era demais para o construtor, que estava interessado em saber, apenas, se os sistemas construtivos empregados pela sua empresa atenderiam ou não aos critérios de desempenho acústico, exigidos pela NBR 15575.
Paciência. Não fosse o ecletismo do evento, que além de apresentar os resultados obtidos nos ensaios realizados em canteiros de obras, agregou também na sua programação, o debate sobre as novas Normas de Acústica, os mapas de ruídos da cidade e o polêmico projeto de lei denominado "Lei do Silêncio", não teria sido o sucesso de público que foi.
Particularmente, aprendi bastante com a diversidade de assuntos; os já citados mapas de ruído foram novidade completa. Além deles, as aberrações jurídicas constantes no referido projeto de lei, e o melhor, o exemplo da cidade britânica que diminuiu índices de violência apenas com a introdução de música clássica e iluminação nos espaços públicos.
Ao final do evento, João Carlos e André acharam engraçada a história da cidade, mas eu confio. Particularmente, há anos acredito que a solução da W-3, principal via de comércio de Brasília até a década de 1970 e que a partir de então entrou em decadência, passa por um projeto urbanístico equilibrado que mistura luminotécnica com paisagismo.
Soluções "simples" e menos custosas para a crise urbanística das grandes cidades modernas são as que restaram. O poder público, notadamente no Brasil, demorou muito para interceder, ficou para trás.
Perambulamos em São Paulo utilizando o metrô da cidade. Não dá para imaginar que um país rico como o nosso não tenha mais dinheiro para ampliar com urgência esta malha. Obras estacionadas por toda a cidade ou que evoluem a passo curto.
Pagamos R$ 62,00 por uma corrida de táxi em pleno sábado a tarde, 50 minutos de duração, muito em virtude do engarrafamento causado pela construção de um gigantesco viaduto no limite entre as cidades de Santo Amaro e São Paulo.
Na volta, em meio à confusão de camelôs, seguranças e público saindo do evento, demos de cara com um ônibus bitrans estacionado bem em frente à casa de espetáculos. Antes da porta fechar perguntei:
"Pode nos levar até a Paulista?"
"Até a Paulista não vai…"
"Nem perto?"
"Até o terminal da Bandeira."
Resolvo arriscar e entramos. Qualquer lugar é mais próximo do centro do que o fim de mundo onde estávamos.
Qual foi a última vez que me fiz valer de transporte público para alguma necessidade em minha cidade? E viajando?
Por módicos R$ 7,00 percorremos o caminho de volta, cerca de 20 minutos com o ônibus trafegando lépido pela faixa exclusiva de ônibus (li que em Medelin, na Colômbia, as faixas são largas o suficiente de tal forma que permitem ultrapassagem) até chegarmos no terminal da Bandeira, onde descemos e assuntamos a quem está na parada como fazemos para chegar até a Paulista. Nos indicam a ladeira: "Basta que subam…". Estamos próximos ao MASP, ainda passamos em frente ao prédio da Fundação Getúlio Vargas, originalmente incrustado numa escarpa.
No domingo, o retorno no avião vazio, reparo outras meninas “escoltadas” tal qual Maria Luiza ao show de despedida do ídolo teen.
Eventos deste tipo movimentam direta e indiretamente a economia da cidade. Aquele rapaz, que fez a pergunta sobre a afinação do violino, veio de Aracaju até Brasília apenas para participar do workshop sobre acústica. Prestigiou o nosso evento, gastou com passagem, refeição e hospedagem e pode ter passeado por Brasília…movimentou a economia.