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Como executar instalações elétricas em prédios com parede de concreto?

Projetista com experiência na utilização do sistema construtivo, trabalho em conjunto com a arquitetura e utilização de kits elétricos prontos são boas premissas para evitar contratempos e ganhar eficiência

Publicado em: 28/10/2024

Texto: Eric Cozza

Montagem com três imagens que mostram como executar instalações elétricas em prédios com parede de concreto.Em um cenário de escassez de mão de obra na construção civil, sistema de parede de concreto desponta como alternativa para reduzir efetivos nos canteiros. Utilização de kits elétricos prontos colabora para essa lógica de maior racionalização e industrialização (Imagem: Núcleo Parede de Concreto / Polar)


O sistema construtivo de parede de concreto ganhou escala e projeção nacional a partir de 2009, com o lançamento do programa habitacional Minha Casa Minha Vida. Agora vem ganhando força também nos edifícios altos.

O cenário de escassez de mão de obra contribui nesse sentido. Trata-se, afinal, de um sistema racionalizado e mais industrializado do que o convencional. As instalações elétricas são um bom exemplo nesse sentido. Para que o sistema como um todo seja eficiente, o ideal é trabalhar com kits elétricos prontos e embutir as instalações.

Para falar sobre os cuidados com as instalações elétricas no sistema de parede de concreto, convidamos para o Podcast AEC Responde o engenheiro elétrico, Cláudio dos Reis Corrêa, sócio-fundador da Ditec, empresa especializada em consultoria e engenharia de instalações prediais.

Ouça o áudio na íntegra e/ou leia entrevista, a seguir.

AECweb – Como executar instalações elétricas em prédios com parede de concreto? Quais são as principais recomendações para os construtores?

Cláudio dos Reis Corrêa – É um processo construtivo diferenciado. Trabalha-se com a parede já concretada. Os kits estão todos prontos, preparados, junto com as fôrmas e as ferragens. O projetista tem que conhecer previamente o processo construtivo para não dimensionar a instalação de uma forma tradicional, como se fosse uma parede de alvenaria, de bloco de concreto, cerâmico ou drywall. Há uma técnica a ser observada. Os kits polvos, por exemplo, devem ser verticais. Não se deve descer com esses kits até a parte inferior das paredes, mas trabalhar com eles até a parte intermediária delas. Dependendo da tipologia do empreendimento, a espessura da parede de concreto, às vezes, é pequena. Outras são mais espessas, permitindo que o concreto passe de uma forma mais tranquila. Em resumo: o kit polvo deve ser colocado de forma que não haja nenhum trânsito horizontal, sempre vertical. Temos hoje no mercado kits prontos, embutidos que, logo após a desforma, basta abrir a caixinha e colocar as peças. A especificação do material é fundamental nesse processo.

AECweb – É importante contar com um projetista que tenha experiência em projetos e obras com sistema construtivo de parede concreto?

Corrêa – Sem dúvida alguma. Há muitos projetistas que trabalham muito bem com o sistema convencional, mas enfrentam dificuldades quando se trata de paredes de concreto. Estão acostumados com vedações e forros diferentes – por vezes, o pavimento é todo forrado. Isso é diferente com as paredes de concretos. O objetivo do sistema é ser mais racional, limpo, com maior produtividade e menos etapas de construção. O profissional precisa de conhecimento sobre o processo construtivo. Se isso não acontece, é melhor contar com uma consultoria capaz de explicar os procedimentos adequados. Porque, se a pessoa começar errado, há grandes chances de terminar errado. Não tem jeito. Vale lembrar que, com as paredes de concreto, tudo estará embutido. Assim que ocorre a desforma, basta instalar os interruptores e as tomadas. No quadro elétrico, muitas vezes, é só colocar a tampa, o miolo e fechar os circuitos nos disjuntores. Não há espaço para improvisação.

AECweb – E a relação com o arquiteto? É importante a interação desse profissional com o projetista das instalações elétricas?

Corrêa – Com certeza. Muitas vezes, a posição de uma bancada pode fazer grande diferença. É claro que o arquiteto domina a questão ergométrica mas, às vezes, a posição de um eletrodoméstico dentro do layout pode interferir bastante na eficiência de todo o sistema. É diferente se uma máquina de lavar roupa está posicionada ao lado ou em frente ao tanque. Uma decisão equivocada pode criar dificuldades, tanto na parte elétrica quanto na hidráulica. Uma pequena alteração de layout pode fazer grande diferença do ponto de vista da distribuição. É importante, por exemplo, evitar certos componentes em paredes de fachada. Afinal, quando se coloca uma caixinha em uma parede de fachada, você está reduzindo a espessura da parede. Isso pode causar uma infiltração ou impactar questões acústicas, que devem ser compatibilizadas. O arquiteto pode ajudar bastante nas fases iniciais, porque o layout e a planta humanizada interferem muito no lançamento de pontos. Então, é fundamental essa interação ocorra desde a concepção do projeto.

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AECweb – É recomendável utilizar empresas especializadas na execução de instalações elétricas em edifícios com paredes de concreto? Ou a mão de obra própria, desde que bem treinada, pode ser uma boa opção também?

Corrêa – Não vejo nenhum problema em trabalhar com equipe própria. Afinal, o projeto já estará praticamente resolvido. E, ao recebê-lo, o fornecedor do kit elétrico vai transformá-lo em um projeto de kits, com cota, numeração e etiquetas. Na obra, você vai apenas solicitar o material, que já vem pronto. Então, o executor treinado para trabalhar com sistema de parede de concreto fará apenas a instalação dos kits, embutindo-os nas fôrmas e ferragens. Terá que saber lidar com isso durante a obra. Não colocar um profissional bem treinado é que pode ser o problema. Não precisa, necessariamente, ser uma empresa de instalação. Às vezes, dependendo do caso, pode ser importante? Sim, mas nem sempre é mandatório. Porque o processo construtivo está muito amarrado. Essa é uma grande vantagem da parede de concreto. Costumo dizer que o sistema ensina o engenheiro a trabalhar de forma racional, tanto no que se refere aos materiais e a mão de obra quanto no planejamento e na logística. É mais fácil, porque os componentes são basicamente todos pré-fabricados e padronizados.

AECweb – O setor vive um momento de escassez de mão de obra em quase todo o País. Tais soluções racionalizadas ou industrializadas na área de instalações elétricas podem colaborar para a redução dos efetivos nos canteiros?

Corrêa – Sem dúvida. Temos prestado muita consultoria nesse sentido. Tenho clientes que estão com problema de mão de obra e não há outra saída a não ser mudar o sistema construtivo e incorporar um aumento significativo de produtividade. A parede de concreto já possui esse componente intrínseco: baixo índice de utilização de mão de obra e produtividade mais alta. Em uma obra sem kit elétrico pronto, por exemplo, são necessários de três a quatro vezes mais instaladores para a realização dos serviços. Tudo isso se reflete na questão da produtividade final do empreendimento e, portanto, na eficiência do negócio.

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Colaboração técnica

Cláudio dos Reis Corrêa – Sócio-fundador e CEO da Ditec, empresa especializada em consultoria e engenharia de instalações prediais. Graduado em Engenharia Elétrica pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-MG), também é técnico em eletrotécnica pela Fundação de Educação para o Trabalho de Minas Gerais. Difusor de conceitos e inovações em instalações prediais, possui mais de 40 anos de experiência na área. Atua como consultor, gestor e palestrante para as principais incorporadoras e construtoras do País.