Como projetar estações de recarga para veículos elétricos em edifícios?
Contratação de profissional habilitado e estudo técnico específico para cada caso são premissas. Seguir a NBR 17019, prever circuitos independentes para cada carregador e calcular a demanda energética ajudam a garantir a segurança da edificação
As vendas de veículos novos híbridos e elétricos leves no Brasil devem ultrapassar as dos automóveis a combustão até o final desta década, atingindo 1,5 milhão de unidades em 2030. De acordo com reportagem do jornal O Globo, a informação consta de estudo contratado pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Seria algo inimaginável há alguns anos. E que, certamente, vai demandar uma infraestrutura instalada para o abastecimento de energia dessa nova frota elétrica. Um dos desafios é projetar e executar estações de recarga nos edifícios e condomínios comerciais e residenciais. Será que o mercado está preparado nesse sentido?
Para detalhar os procedimentos e as melhores práticas relacionadas, convidamos para o Podcast AEC Responde o engenheiro eletricista, Paulo Barreto, diretor técnico e sócio da Barreto Engenharia, especializada em instalações elétricas.
Ouça o áudio na íntegra e/ou leia entrevista, a seguir.
AECweb – Quais são as principais recomendações técnicas para o desenvolvimento de projetos de estações de recarga para veículos elétricos em edifícios?
Paulo Barreto – O primeiro passo é contratar um profissional habilitado – alguém com registro no CREA e qualificado para esse tipo de serviço. Hoje, já temos uma norma específica, a ABNT NBR 17019, publicada em 2022, que traz os requisitos técnicos para projetos e instalações de recarga de veículos elétricos em prédios. É preciso esquecer a ideia de simplesmente conectar o carregador em qualquer tomada. Cada carregador precisa de circuitos independentes e proteção específica contra choques elétricos e surtos de energia, além de um local adequado para a instalação, evitando problemas com a penetração de água ou poeira. E, claro: é essencial calcular a demanda energética para garantir a segurança de toda a edificação.
AECweb – E como avaliar a capacidade do sistema elétrico do edifício e estimar a demanda para dimensionar a instalação? Até porque estamos falando de algo relativamente novo, sobre o qual não dispomos, por exemplo, de dados históricos...
Paulo Barreto – De fato, estamos todos – inclusive nós técnicos – aprendendo com essa nova tecnologia. Tanto no Brasil quanto no exterior. E a falta de dados históricos reforça a necessidade de uma análise técnica personalizada, caso a caso. Uma avaliação inadequada da demanda pode levar, no limite, até o desligamento total de energia no edifício por conta de uma sobrecarga. Creio que os prédios novos estão mais preservados pois, geralmente, têm o apoio de empresas de engenharia desde o projeto. No caso de edifícios antigos, alguns moradores sem formação técnica ainda enxergam o carregador como se fosse, simplesmente, um eletrodoméstico a mais. E isso pode colocar a segurança de todos em risco. Essa avaliação, que você mencionou, demanda um estudo técnico. Não existe solução única e nem número mágico.
AECweb – Ou seja, não tem regrinha fácil...
Barreto – Ainda não existe. Pode até ser que, daqui a alguns anos, seja possível estabelecer alguns padrões. Mas, por enquanto, o engenheiro eletricista deve fazer o estudo técnico detalhado, zelando pela segurança e oferecendo a melhor solução para cada caso, em função dos desejos, mas também das limitações do condomínio. Já fui chamado para desenvolver projetos que, em função dessas limitações, não houve muita margem de manobra. Não restaram muitas opções para o condomínio. É caso a caso, mesmo.
As pessoas também perguntam:
Vale a pena investir na energia fotovoltaica em residências?
AECweb – Quais são os principais tipos de estações? Variam conforme a velocidade da recarga e a potência instalada? E quais são os plugues utilizados?
Barreto – A pergunta me fez lembrar de uma situação curiosa. Por vezes, o morador de um edifício possui também uma casa de campo ou de praia. Quando da instalação de estações de recarga no condomínio, ele reclama: “pô, mas na minha outra casa eu não tive problema nenhum. Por que, aqui no prédio, vocês estão colocando tanta dificuldade?” Ocorre que são instalações completamente diferentes. Em um condomínio com, por exemplo, 100 apartamentos, todos devem ter acesso à recarga. É o princípio da isonomia entre os condôminos. Isso muda completamente a situação elétrica. Há diferentes modos de recarga. No modo 1 e 2, comuns em residências, o carregador usa plugues simples, mas sempre com um circuito independente e adequado. Em condomínios, normalmente se usa o modo 3, com o carregador fixo na parede, wallbox, que permite comunicação entre o veículo e o carregador para maior segurança. O modo 4 já é outro nível – pensado para eletropostos e recargas rápidas em shoppings ou postos de combustíveis.
AECweb – Nesse caso, seria uma atividade comercial, de venda da energia...
Barreto – Exato, um estabelecimento que vai fornecer energia rápida. O modo 4 é direcionado para recarga em poucos minutos.
AECweb – Como deve ser realizada a manutenção desse tipo de instalação em edifícios? Há uma vida útil estimada nas normas técnicas?
Barreto – Não, ainda não há vida útil estimada. Para a instalação fixa até o carregador, deve-se seguir as regras gerais de manutenção de qualquer sistema elétrico. Para o carregador e o veículo, o ideal é deixar essa responsabilidade para quem entende. O carregador deve ser mantido pelo próprio fornecedor e o veículo pela concessionária da montadora responsável pela fabricação do automóvel. Para evitar riscos, apenas pessoal especializado e treinado deve mexer em cada um desses equipamentos.
AEC Responde
Envie sua dúvida técnica sobre construção, engenharia civil e arquitetura
Colaboração técnica
- Paulo Barreto – Engenheiro eletricista com pós-graduação em engenharia elétrica e eletrotécnica, é diretor técnico e sócio da Barreto Engenharia, empresa especializada em inspeção, perícia, consultoria, assessoria técnica, análise de projetos e avaliação da conformidade em instalações elétricas. Professor convidado em cursos de pós-graduação (FACENS, INBEC e Universidade Mackenzie), é instrutor dos cursos de “Conformidade das instalações elétricas de baixa tensão – Partes Teórica e Prática” e de “Projeto de instalações elétricas de baixa tensão”.