O que é o pavimento urbano de concreto?
Pavimentos rígidos de menor espessura conquistam espaço em vias urbanas no Brasil. Custo do asfalto e uso de fibras metálicas e sintéticas contribuem para tornar a tecnologia mais competitiva

Se há algo que costuma irritar os usuários de vias públicas no Brasil são os buracos, trilhas de roda e ondulações. Tais deformações nas pistas causam danos aos veículos, aumentam o risco de acidentes, geram complicações logísticas e provocam muitas dores de cabeça para os gestores públicos.
A necessidade de manutenção constante é uma encrenca. A situação fica péssima quando a correção não é realizada, mas também se torna complexa, cara e trabalhosa quando, enfim, está em execução. Aí surge a pergunta: não daria para ser diferente?
Essa é a grande promessa do pavimento urbano de concreto, o PUC, que recentemente passou a ser considerado como opção técnica e econômica não apenas para corredores de ônibus e áreas de tráfego pesado – nas quais os pavimentos rígidos são praticamente mandatórios – mas também em loteamentos, ciclovias, praças, parques e vias públicas urbanas em geral.
Mas, afinal, esse tipo de pavimento é viável? Quais são as vantagens? E as melhores práticas de projeto e execução? Para falar sobre o PUC, convidamos para o Podcast AEC Responde o engenheiro civil e projetista Eduardo Tartuce, diretor técnico da Mixdesign Tartuce Associados.
Ouça o áudio na íntegra e/ou leia entrevista, a seguir.
AECweb – O que é o pavimento urbano de concreto (PUC) e quais são as suas principais aplicações?
Eduardo Tartuce – As primeiras pavimentações foram feitas em concreto, mas, com o tempo, o asfalto foi introduzido também. No entanto, a inobservância das normas técnicas, problemas de execução e o uso de materiais de baixa qualidade podem comprometer a durabilidade do sistema asfáltico. Isso não significa que o asfalto seja ruim, mas o processo de aplicação, muitas vezes, acaba sendo inadequado. O aumento do custo do asfalto, que é um derivado do petróleo, tornou o concreto uma opção mais competitiva do ponto de vista econômico. Além disso, o concreto, desde que bem dimensionado, apresenta uma durabilidade muito superior. Por isso, o investimento compensa no longo prazo, devido à baixa necessidade de manutenção. No Brasil, o PUC é uma iniciativa encabeçada pela ABESC (Associação Brasileira de Empresas de Concretagem) para promover o uso de concreto em vias urbanas. Hoje, tem sido utilizado em áreas industriais, estradas vicinais, condomínios logísticos e residenciais. Tecnologias como fibras metálicas e sintéticas permitem reduzir a espessura do concreto, tornando-o mais competitivo e diminuindo o impacto ambiental, ao reduzir as emissões de CO2.
AECweb – A elevação do preço do petróleo e a alta do dólar são fatores econômicos relevantes, mas há também um mix de soluções técnicas que ajudaram a viabilizar a tecnologia do PUC, não é?
Tartuce – Além da questão financeira, há evoluções no dimensionamento. Antigamente, as pavimentações de concreto eram projetadas para tráfegos pesados, como portos e estradas de alto fluxo, com espessuras de 25 a 30 cm. Hoje, com o uso de fibras — metálicas ou sintéticas —, conseguimos otimizar o dimensionamento e reduzir espessuras, o que torna o concreto mais competitivo. Já o layout das placas é ajustado de acordo com a largura das vias. Essa flexibilidade no dimensionamento é essencial para atender diferentes condições de uso e tráfego.
As pessoas também perguntam:
O que é a cura do concreto e qual é o risco de dispensá-la?
AECweb – Como são definidas, em projeto, as dimensões das placas, a espessura, o tipo de juntas e o uso de reforços como telas de aço ou macrofibras?
Tartuce – Tudo começa com a análise geotécnica. Como os pavimentos de concreto são apoiados diretamente no solo, é importante entender a capacidade de suporte do terreno. A partir dessa informação, dimensionamos as placas e avaliamos se é necessário algum tipo de reforço. Hoje, as macrofibras sintéticas têm sido a opção mais econômica, mas também podem ser empregadas fibras metálicas, telas de aço e, mais recentemente, telas de vidro, dependendo das condições específicas do projeto. A existência de cantos vivos, curvas fechadas e vias íngremes também influenciam no tipo e na quantidade de reforços, além da espessura do pavimento. Outro ponto crucial é considerar o tráfego previsto e a frequência de uso, para garantir a durabilidade e evitar problemas como fadiga ou fissuras prematuras no concreto.
AECweb: Quais são os principais pontos de atenção na execução do PUC?
Tartuce – Um ponto fundamental é o controle da retração do concreto. Isso garante o intertravamento dos agregados nas juntas serradas, que não empregam barras de transferência. Também é importante garantir que as especificações técnicas do concreto sejam atendidas, como a resistência à flexão. Outro aspecto relevante é a análise detalhada do solo ao longo da extensão da via. Em trechos longos, de 10 km, por exemplo, é necessário realizar vários ensaios para identificar variações nos materiais e garantir a uniformidade do suporte. Essa atenção aos detalhes é essencial para garantir o bom desempenho e a longa vida útil do pavimento urbano de concreto.
AEC Responde
Envie sua dúvida técnica sobre construção, engenharia civil e arquitetura
Colaboração técnica
- Eduardo Tartuce – Engenheiro civil pela Faculdade de Engenharia de São Paulo (FESP) com mestrado pelo IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo). Fez cursos na World of Concrete, nos Estados Unidos, de dimensionamento (1994 e 1999) e de execução (1993). Palestrantes em diversos eventos técnicos nacionais e internacionais, é diretor técnico da Mixdesign Tartuce Engenheiros Associados, com atuação na área de projeto de pisos industriais, acompanhamento de execução, traços e consultoria em concreto, cimento e argamassa, além de gerenciamento de obras industriais. Membro do Standards Committee do American Concrete Institute – ACI 544, ACI 544-F, ACI 360, ACI 302, ACI 330.