O que é um kit polvo para instalações elétricas?
Conjunto elétrico composto por eletrodutos, caixinhas, cabos e conexões previamente montados e identificados para cada circuito, sistema promete velocidade de execução e redução da necessidade de mão de obra
Caixa de passagem corresponde ao corpo do polvo marinho, enquanto os eletrodutos já com os cabos embutidos equivalem aos tentáculos. É importante pensar na tecnologia desde a etapa de projeto para maximizar os ganhos em produtividade. Viabilidade costuma ser alta em edifícios de múltiplos andares, com grande repetitividade das instalações (Imagem: Divulgação Makinsthal Instaladora)
A industrialização na construção de edifícios passa, necessariamente, pela inovação em diferentes subsistemas que compõem uma obra. E quando se fala em instalações elétricas, uma das primeiras imagens que costuma vir à mente dos profissionais são os chamados kits polvos.
Estamos falando daquele kit elétrico composto por eletrodutos, caixinhas, cabos e conexões previamente montados e identificados para cada circuito, que lembra um polvo, aquele animal marinho caracterizado por longos tentáculos.
Mas como especificar esse sistema? O que muda no projeto e no processo de execução das instalações? Quais são os principais cuidados a serem tomados?
Para nos ajudar a compreender melhor o assunto, nós chamamos para participar do podcast AEC Responde o engenheiro civil, Marcelo Matsusato, sócio-diretor da Makinsthal Instaladora e da Ecofi Engenharia, que também é professor da disciplina de tecnologia de produção de sistemas prediais, do MBA da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Confira, a seguir, a entrevista.
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AECweb – O que é um kit polvo para instalações elétricas?
Marcelo Matsusato – O nome do kit vem dessa analogia com o polvo, cujo corpo seria a caixa de passagem e os tentáculos os eletrodutos, com os cabos já embutidos. O conceito veio da indústria automobilística, que utiliza os chicotes elétricos, que já vem com os cabos passados nos eletrodutos. Nessas caixas que concentram os tentáculos, saem cada circuito para cada ponto, seja de interruptor ou de tomada. E aí forma esse conceito de um polvo: uma caixa concentrada com vários tentáculos saindo.
““Uma ideia central é que a caixa fique no teto e os eletrodutos saiam dali, descendo para cada ponto. Essa seria uma preocupação de projeto. Existem várias maneiras de fazer, inclusive de forma aparente, ou seja, sob a laje”Eng. Marcelo Matsusato
AECweb – Quais são os passos iniciais, tanto na fase de projeto, quanto depois, na execução, que um construtor interessado deve seguir para especificar esse sistema?
Matsusato – A grande vantagem do sistema polvo é que pode ser utilizado em vários sistemas construtivos. Na verdade, em qualquer um. Pode, inclusive, ser adaptado de um sistema convencional, com estrutura reticulada, mas também é eficiente em alvenaria estrutural ou parede de concreto. Uma ideia central é que a caixa fique no teto e os tentáculos, os eletrodutos, saiam dali, descendo para cada ponto. Essa seria uma preocupação de projeto. Existem várias maneiras de fazer, inclusive de forma aparente, ou seja, sob a laje. A construtora ou o incorporador decide se vale a pena fazer a forração em todo o ambiente. Ou a instalação pode ficar embutida na concretagem da laje, por exemplo, em um sistema de alvenaria estrutural. Nesse caso, durante a concretagem, esse kit já vem com os fios que vão entrar dentro dos eletrodutos, que vão ficar embutidos na alvenaria. Quando o sistema construtivo for, por exemplo, o convencional, ficam algumas caixas com as fiações embutidas dentro do concreto. E, somente depois que a alvenaria ou o drywall sobe, é que se abrem essas caixas e os cabos que estão ali dentro vão passar para dentro dos eletrodutos, embutidos na alvenaria ou no drywall. Essas são algumas das premissas para a fase de projeto e execução.
“Quando o sistema é pensado na fase de projeto – por exemplo, no caso de um empreendimento de parede de concreto – e já foi tomada a decisão de fazer uma forração em todo o ambiente, fica mais fácil. Os kits vão ficar sob a laje e só entram muito depois”Eng. Marcelo Matsusato
AECweb – Quais são os principais pontos de interface entre a montagem do kit e os demais subsistemas de uma obra? O que o construtor ou o engenheiro de obra deve ficar mais atento para evitar problemas?
Matsusato – Quando o sistema é pensado na fase de projeto – por exemplo, no caso de um empreendimento de parede de concreto – e já foi tomada a decisão de fazer uma forração em todo o ambiente, fica mais fácil. Os kits vão ficar sob a laje e só entram muito depois. Existe, inclusive, uma vantagem de postergar a entrada da parte elétrica no ambiente. E a preocupação, nesse caso, é mínima, porque o forro vai cobrir praticamente todos os eletrodutos. Por outro lado, quando fazemos, durante a concretagem, num sistema convencional, aquelas caixinhas de passagem que vou precisar cortar para retirar os fios de dentro e passar dentro dos eletrodutos na alvenaria, isso vai gerar um arremate no gesso no teto. Então, é uma preocupação de interface com outro sistema, no caso, o acabamento. O pessoal tem que tomar esse cuidado.
Pensando em industrialização e no atual gargalo de mão de obra, há um grande ganho. Quando você recebe um material pré-industrializado de um fornecedor acaba economizando uma etapa, que é a de fiação. Em uma única etapa, eu passo os eletrodutos e o cabos de uma só vez”Eng. Marcelo Matsusato
AECweb – Qualquer tipo de inovação na construção civil costuma ter, em geral, dois principais inimigos: o preço e o desconhecimento técnico, que também é conhecido pelo famoso comentário “sempre fiz assim e nunca tive problema”. Qual seria hoje o maior obstáculo para a ampla utilização dos kits elétricos industrializados nas edificações?
Matsusato – O importante para tornar o kit viável é ter repetitividade. Quando nós falamos em edifícios que são multipavimentos, ou seja, nos quais existe essa repetição de andar para andar, o sistema se torna muito competitivo. Apartamentos menores costumam ser ainda mais viáveis, porque existe pouca modificação. Aqueles de alto padrão, com alto grau de personalização, acabam sendo menos viáveis. Pensando em industrialização e no atual gargalo de mão de obra, há um grande ganho. Quando você recebe um material pré-industrializado de um fornecedor acaba economizando uma etapa, que é a de fiação. Em uma única etapa, eu passo os eletrodutos e o cabos de uma só vez. No valor global, isso acaba sedo bastante competitivo. Isso desde que não haja grandes interferências no decorrer da obra, tais como personalização, ampliação ou modificação em alguma unidade. Em São Paulo, com a atual tendência de apartamentos pequenos, tipo estúdios, o sistema está valendo muito a pena.
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AECweb – Alguns construtores costumam fazer o comparativo de custos entre o sistema tradicional e o kit industrializado, pensando exclusivamente no material. O que acha disso?
Matsusato - Quando se pensa em industrialização, muitos costumam fazer essa conta e claro que o material acaba ficando mais caro. É preciso fazer a avaliação de forma global. E vale muito a pena pensar em uma parceria com o instalador para viabilizar o sistema. Com empresas que tenham o forte conceito de industrialização e padronização. Aí a utilização desses kits acaba sendo muito viável.
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Colaboração técnica
- Marcelo Matsusato – Graduado e mestre strictu sensu pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, possui MBA em gestão empresarial pela Fundação Getúlio Vargas. Sócio-diretor da Makinsthal Instaladora e da ECOFI Engenharia, é professor da disciplina de tecnologia de produção de sistemas prediais do MBA da Poli-USP. Foi gerente de instalações da incorporadora e construtora Tecnisa