O que é uma construtech? Como ela pode impulsionar sua carreira?
Startup no mercado da construção civil se caracteriza pela base tecnológica, proposta inovadora para resolver problemas recorrentes e potencial de atuação em larga escala, com resultados exponenciais
Problemas recorrentes não faltam na construção civil: baixa produtividade, sistemas construtivos artesanais, pouca mecanização e mão de obra desqualificada. Potencial para construtechs é imenso. Vale a pena se arriscar nesse universo? (Foto: Shutterstock)
Onde há um problema recorrente em determinado segmento de mercado, existem pessoas que se reúnem em uma empresa para mapeá-lo e criar uma solução disruptiva, uma ideia não explorada capaz de alavancar novos negócios. Aí costumam nascer o que o mundo convencionou chamar de startups.
Quando essa nova empresa está inserida no universo da construção civil, possui forte base tecnológica e potencial de crescimento, sem aumentar demais a própria base de custos (escalabilidade), o mercado costuma chamá-la de construtech.
Quem atua no setor sabe que problemas ou dores recorrentes não faltam. Baixa produtividade, sistemas construtivos artesanais, pouca mecanização e mão de obra desqualificada são apenas alguns deles. Portanto, o potencial é imenso. Mas vale a pena se arriscar nesse universo?
VIDA CORPORATIVA OU EMPREENDEDORISMO
Se você não gosta de hierarquia rígida, processos engessados, reports constantes e restrições ao erro, o mundo das construtechs certamente vai despertar seu interesse. Por outro lado, se correr altos riscos e conviver com a instabilidade também não o agrada, a vida corporativa pode ser uma opção mais adequada.
Um engenheiro civil recém-formado não vai sair da faculdade pronto para desenvolver a solução de um problema que ele não sabe que existeFelipe Reis, gestor de inovação da MRV@CO
Não há, portanto, um caminho certo ou errado a percorrer. Depende do que cada um pretende para a própria vida profissional. Estabilidade, segurança, plano de carreira e benefícios? Buscar uma oportunidade nas empresas tradicionais pode ser a melhor escolha. Altos desafios, protagonismo e liberdade? Perfil psicológico e condições financeiras para passar meses ou anos em completa instabilidade? Bora fundar ou trabalhar em uma construtech.
Uma dica para os jovens profissionais interessados em explorar esse novo mundo: possuir, pelo menos, uma experiência em uma companhia tradicional ajuda muito. É importante conhecer como o mercado funciona, seus processos e conseguir identificar, de perto, as dores reais das empresas. É ali onde se encontram as verdadeiras oportunidades.
CONHECER OS PROBLEMAS ANTES DE TRAZER SOLUÇÕES
“Vale a pena ter uma experiência na vida corporativa, mesmo que seja de curto prazo”, afirma Alexandre Pandolfo, influenciador digital, palestrante, mentor e investidor de startups. Além de servir como bagagem para uma eventual iniciativa empreendedora, pode ajudar o jovem a comparar os dois mundos e tomar melhores decisões para a carreira.
“Um engenheiro civil recém-formado não vai sair da faculdade pronto para desenvolver a solução de um problema que ele não sabe que existe”, afirma Felipe Reis, gestor de inovação da MRV@CO. “A experiência, seja como estagiário ou engenheiro júnior, é fundamental para que o profissional tenha propriedade para conseguir construir uma solução e apresentá-la como alternativa”, completa.
Não dá para fazer apenas uma coisa bem. Para ir atrás de recursos e investidores, é necessário ter um conhecimento básico de administração e finanças. Para resolver dores, é necessário conhecer o setor. E sem uma área de tecnologia (TI) dentro de casa, fica mais difícil para a empresa desenvolver a soluçãoAlexandre Pandolfo, influenciador digital, palestrante, mentor e investidor de startups
EMPREENDEDORISMO CORPORATIVO
Há, entretanto, um meio termo entre o mercado corporativo e a arriscada vida de empreendedor de startup, cuja mortandade nos primeiros anos de existência é enorme. Cada vez mais, grandes empresas do setor, como construtoras, incorporadoras e fornecedores de materiais, têm participado ativamente desse universo, com a criação de áreas específicas para inovação, mentoria e até investimento.
Essas companhias têm procurado desenvolver mecanismos para tratar problemas como oportunidades. Às vezes, resolvem internamente e, em muitos casos, buscam uma startup para ajudar no desafio. É o caso da MRV@CO, que já possui mais de 40 contratos vigentes com essas novas empresas. “Buscamos para trabalhar conosco pessoas que conheçam a dinâmica entre startups e grandes empresas”, revela Reis.
PROFISSIONAL DE CONSTRUÇÃO + PROFISSIONAL DE TI
Na visão do gestor da MRV@CO, a complementariedade entre os engenheiros civis, arquitetos e técnicos, que conhecem o dia a dia do setor e seus problemas, e os profissionais de tecnologia da informação (TI) constitui o melhor caminho para se chegar às soluções buscadas pelas construtechs. “O pessoal da construção civil tem uma visão operacional muito mais apurada do que alguém puramente de tecnologia. Se trabalharem em conjunto, abre-se um novo campo”, afirma o executivo.
“Montar times de pessoas com habilidades complementares é fundamental para o sucesso das construtechs”, concorda Pandolfo. “Não dá para fazer apenas uma coisa bem. Para ir atrás de recursos e investidores, é necessário ter um conhecimento básico de administração e finanças. Para resolver dores, é necessário conhecer o setor. E sem uma área de tecnologia (TI) dentro de casa, fica mais difícil para a empresa desenvolver a solução”, explica o engenheiro.
As pessoas também perguntam:
Como o BIM pode alavancar a sua carreira na construção?
BIM: VARIÁVEL IMPORTANTE NA DIGITALIZAÇÃO DO SETOR
Um consenso nesse universo é a relevância do BIM (Building Information Modeling) para a inovação na construção civil. “A metodologia pode estar presente em todos os processos de projeto, orçamento, planejamento, acompanhamento, gestão e fiscalização de obras, abrindo inúmeras possibilidades para startups desenvolverem soluções, inclusive após a entrega da obra”, afirma Pandolfo.
Felipe Reis, da MRV@CO, alerta apenas para a necessidade de maturação do BIM nas empresas de projeto e execução de obras, em diferentes especialidades. “As startups que atuam nessa área dependem muito do grau de maturidade dos clientes no processo. De nada adianta oferecer algo associado ao BIM se a empresa ainda não incorporou, de fato, a metodologia”, afirma o gestor.
Obstáculos à parte, seguem as recomendações para os jovens profissionais da área de engenharia civil, construção e arquitetura em relação ao universo das construtechs:
- Tenha ao menos uma experiência em empresas tradicionais antes de querer fundar ou trabalhar em uma construtech;
- Empreender ou não depende de características pessoais e também da possibilidade de passar meses ou até anos com turbulências financeiras;
- Há oportunidades de empreendedorismo corporativo no setor. Nesse caso, é importante conhecer a dinâmica de trabalho entre as startups e as grandes empresas;
- Buscar a complementariedade entre profissionais que conhecem o dia a dia do setor e seus problemas e o pessoal de tecnologia da informação (TI). Esse é o melhor caminho para se chegar às soluções buscadas pelas construtechs;
- O BIM é uma variável central no processo de inovação e digitalização do setor. Vale a pena pesquisar oportunidades relacionadas.
Colaboração técnica
- Alexandre Pandolfo – Influenciador digital, palestrante, mentor e investidor de startups. Business advisor da Potato Valley Ventures, é head de operações da Abrasfe (Associação Brasileira de Fôrmas, Escoramentos e Acesso) e sócio-diretor da Texta. Engenheiro civil pela Poli-USP, possui especialização em negócios pela Fundação Dom Cabral e ESPM. Atuou em diversas companhias, como a Ulma, Mills-Solaris, Tecnogera, LafargeHolcim, HTB, Autodoc Tecnologia e ConstruLiga.
- Felipe Cardoso dos Reis – Engenheiro com experiência de mais de 12 anos na gerência de projetos e liderança de equipes, com foco em desenvolvimento de produtos e desenvolvimento de negócios. Atualmente é gestor de Inovação da MRV&CO, plataforma de soluções em habitação.