Caminhão fora de estrada: transporte de carga pesada com bom custo
As grandes mineradoras brasileiras operam com caminhões fora de estrada na faixa de 240 toneladas. Mas esses equipamentos estão disponíveis em faixas que vão de 25 a 400 toneladas de peso operacional
A caçamba do caminhão fora de estrada é elevada em relação ao solo, fator que reduz o impacto quando o material é despejado pela pá-carregadeira (Divulgação/ Komatsu)
O caminhão fora de estrada é concebido para ser o mais robusto equipamento de mineração. Disponível em várias faixas de peso, capazes de carregar de 25 a 400 toneladas de material, esse caminhão cumpre as metas de produção no transporte de carga pesada com bom custo operacional. Sua estrutura possui uma engenharia diferenciada nos eixos, unidades finais, pneus, caixas e nas caçambas, que são reforçadas para proporcionar durabilidade, ciclos de trabalho curtos e disponibilidade mecânica.
No Brasil, as grandes mineradoras tradicionalmente utilizam caminhões com peso operacional de 240 toneladas. Para absorver modelos de maior porte, o mercado teria que dispor de pneus maiores e as mineradoras precisariam maximizar a estrutura das oficinas e implementar o estoque com componentes apropriados. As vias de tráfego interno também deveriam ser alargadas e bem conservadas para comportar a circulação de modelos maiores, sem afetar a produtividade.
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A estrutura das pequenas mineradoras ou pedreiras também deve ser adaptada para a circulação de um caminhão fora de estrada. Quem operar com modelos de 50 toneladas, por exemplo, deve ter pistas com curvas mais abertas. A borracharia deve ser preparada para manusear pneus grandes e a oficina deve ter pé-direito alto que comporte a altura da caçamba totalmente basculada, caso contrário a manutenção terá que ser feita no pátio, condição difícil em dias de chuva. A altura de despejo no britador também deve estar condizente com o movimento da caçamba.
EQUIPAMENTOS COMBINADOS
Uma mineradora que usa caminhões rodoviários reforçados e quer incorporar caminhões fora de estrada na frota deve dimensionar corretamente o modelo de escavadeira ou pá-carregadeira que vai trabalhar em conjunto. “O met ideal é de cinco caçambadas por caminhão, para evitar que os equipamentos fiquem ociosos”, explica Sergio Roney, gerente de grandes contas da Komatsu KBI.
Se o equipamento ficar parado em marcha lenta, gastará combustível sem necessidade e aumentará o custo operacionalSergio Roney
Portanto, segundo ele, é necessário refazer a combinação do equipamento de carga com o equipamento de transporte, para que os caminhões e as escavadeiras sejam utilizados de forma racional e produtiva. “Se o equipamento ficar parado em marcha lenta, gastará combustível sem necessidade e aumentará o custo operacional”, alerta.
Existem alguns sistemas secundários nos caminhões fora de estrada, como acumuladores hidráulicos nas linhas de freio e de direção. “Imagine que um veículo carregado com centenas de toneladas de brita esteja descendo por uma via para descarregar no britador e sofra uma pane súbita no motor, ou acabe o combustível. Pode causar um desastre com graves danos. Com o sistema, que acumula energia hidráulica, é possível evitar que isso aconteça, acionando-se o freio para encostar o veículo com segurança”, diz Roney.
CAMINHÃO RODOVIÁRIO X FORA DE ESTRADA
Miguel Gómez, gerente de contas corporativas da Caterpillar, salienta que hoje existem caminhões rodoviários reforçados para operações pesadas, mas eles não possuem a robustez necessária para trabalhar em grandes mineradoras ou transportar cargas muito pesadas. “Se forem forçados além do limite, podem sofrer danos estruturais e na suspensão. Além disso, os ciclos de trabalho dos caminhões rodoviários são mais longos, porque o tempo para a descarga é maior e o avanço com carga em declive é limitado”, observa.
Nesse sentido, as principais características que diferenciam os caminhões fora de estrada dos caminhões rodoviários reforçados são a capacidade de carga e o fato de serem projetados para essa finalidade. “Os caminhões possuem componentes dimensionados para trabalhar com grande pressão de carga – peças fundidas e não chapas soldadas – o que ao longo da sua vida útil resulta em menor troca de componentes e maior disponibilidade para a produção”, afirma Vladimir Machado Filho, do departamento de marketing de produto da Komatsu KBI.
“Mesmo tendo dimensões superiores às do caminhão rodoviário, o raio de giro do fora de estrada tem o mesmo valor, o que significa a facilidade de manobra em lugares mais confinados”, complementa Machado Filho. Como foi projetado para trabalhar em conjunto com escavadeiras e pás carregadeiras, ele possui caçamba elevada em relação ao solo, que diminui o impacto do material quando despejado, evitando possíveis quebras e aumentando a vida útil dos componentes.
ARTICULADOS OU RÍGIDOS?
Em geral, os caminhões fora de estrada com chassi rígido são ideais para circular em mineradoras com estradas bem conservadas, obtendo bom desempenho de velocidade e ciclos curtos. “Os caminhões rígidos são encontrados em ampla variedade de aplicações, como pedreiras, construção pesada, aplicações industriais e até mineração subterrânea”, explica Miguel Gómez, da Caterpillar. Os modelos rígidos normalmente possuem tração nas rodas traseiras.
Os caminhões possuem componentes dimensionados para trabalhar com grande pressão de carga – peças fundidas e não chapas soldadas – o que ao longo da sua vida útil resulta em menor troca de componentes e maior disponibilidade para a produçãoVladimir Machado Filho
“Os caminhões de chassi articulado são capazes de trabalhar em condições climáticas adversas, em locais onde as condições das estradas são ruins, podendo escalar encostas de até 35% de aclive”, diz Gómez. Esses modelos possuem tração em todas as rodas e são usados em locais nos quais solo é borrachudo e sem sustentação.
No Brasil, a utilização de modelos rígidos ou articulados ainda é limitada à mineração, porém existe uma tendência para utilização em pedreiras e minas de cimento de pequeno porte. “Percebemos isso porque o aumento do peso operacional das escavadeiras e pás-carregadeiras exige acompanhamento do tamanho dos caminhões. Com isso, modelos de 50 a 60 toneladas estão sendo mais requisitados”, analisa Machado Filho, da Komatsu. “No exterior, em especial na América do Norte, é comum ver esses caminhões trabalhando em obras de infraestrutura, devido à agilidade e possibilidade de diminuir o tempo de execução de uma obra”, equipara.
CAMINHÕES AUTÔNOMOS
A Komatsu e a Caterpillar já fabricam caminhões fora de estrada autônomos, com algumas unidades utilizadas em mineradoras da Austrália, em regiões onde a condição climática é adversa em boa parte do ano, com chuva intensa, umidade e neblina. “Se fosse depender do operador, o trabalho ficaria limitado e interrompido devido à falta de segurança, afinal um caminhão de 400 toneladas não pode trafegar com baixa visibilidade”, explica Sergio Roney, da Komatsu.
Os caminhões autônomos fazem todo o trabalho sem necessidade de operador. O trajeto fica registrado no sistema eletrônico do veículo, que é retroalimentado pelas informações do traçado do percurso. O caminhão possui sensores adaptativos na parte frontal, que reduz ou aumenta a velocidade ao detectar essa necessidade, podendo parar caso alguma pessoa ou veículo apareça à sua frente.
Os caminhões de chassi articulado são capazes de trabalhar em condições climáticas adversas, em locais onde as condições das estradas são ruins, podendo escalar encostas de até 35% de acliveMiguel Gómez
O veículo troca de marchas, reduz ou acelera a velocidade nos momentos certos, fatores que otimizam a produtividade e reduzem o consumo de combustível. Alguns modelos autônomos com cabine também podem ser operados manualmente. Mas há caminhões sem cabine que podem ser manobrados via controle remoto, como em situações em que o equipamento precise ir do pátio para a oficina, por exemplo.
“À medida que as reservas são retiradas de locais cada vez mais remotos, os requisitos de infraestrutura e a falta de mão de obra especializada são desafios a serem superados pelas operações de mineração tripulada. Os caminhões autônomos chegaram como solução para equalizar eficiência operacional, segurança e disponibilidade mecânica”, complementa Miguel Gómez, da Caterpillar. De acordo com a fabricante, algumas mineradoras já relataram aumento de 20% na produtividade com a operação desses veículos.
MANUTENÇÃO
Embora esses caminhões sejam robustos, Gómez recomenda um monitoramento constante da manutenção preventiva, que deve receber o mesmo cuidado de outros equipamentos. “Os óleos devem atender às características descritas no manual de manutenção e operação, para garantir a máxima durabilidade dos componentes”, assinala.
Sergio Roney, da Komatsu, esclarece que esses equipamentos de grande porte são entregues pelo fabricante adaptados com sistema de lubrificação centralizada, de modo que todos os pontos recebam automaticamente a dosagem correta de graxa, independentemente da intervenção humana.
A calibragem também deve receber atenção especial. “Se o pneu rodar baixo, o caminhão pode exceder sua temperatura de trabalho, a lona que constitui a carcaça começa a descolar e o pneu fica depreciado. O caminhão tem seis pneus, dois nas rodas dianteiras e quatro nas traseiras, cada um com custo médio de R$ 35 mil e vida útil de 5 ou 6 mil horas, dependendo das condições de trabalho e abrasividade de cada mina”, contabiliza. Quem não tiver o cuidado necessário, pode desperdiçar milhares de horas de trabalho somente com troca de pneus.
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COLABORAÇÃO TÉCNICA:
Miguel Gómez – Consultor de marketing de produtos e gerente de contas corporativas da Caterpillar
Sergio Roney – Gerente de grandes contas da Komatsu KBI
Vladimir Machado Filho – Marketing de produto da Komatsu KBI