A execução não considerou a dupla colagem, que consiste em aplicar argamassa na base e no verso de cada peça, o que causou o descolamento das cerâmicas
O desplacamento de pisos cerâmicos é um dos problemas mais graves desse tipo de revestimento. As principais causas são: a especificação incorreta do material de assentamento ou de rejuntamento, a utilização da argamassa após vencido o tempo em aberto, a exposição a altas temperaturas ou à umidade e a deficiência no preparo da base.
A patologia teve ocorrência em uma residência localizada na cidade de Coqueiro Seco, no Ceará. A aplicação ocorreu em uma área interna de 973 m². Foram utilizadas peças de cerâmica nas dimensões de 46 x 46 cm. A necessidade de reparo exigiu o acompanhamento da Votorantim Cimentos, empresa fornecedora da argamassa AC I utilizada no assentamento.
Os fatores responsáveis pelo desplacamento das cerâmicas em pisos podem ser compreendidos da seguinte maneira:
• Falhas no projeto: ausência ou insuficiência de juntas de dilatação e de dessolidarização, juntas de assentamento muito estreitas e falhas de especificação da cerâmica, argamassa ou rejunte.
• Erros de execução: emprego incorreto da desempenadeira dentada, pressão insuficiente, falta de amassamento dos cordões etc.
• Utilização incorreta: limpeza com produtos ácidos, falta de manutenção e aplicação em ambientes agressivos.
• Problemas com a base: retração, (sugestão: Falta de maturação/cura da argamassa da base), baixa resistência, impregnação com gordura ou poeira e excessiva deformação da estrutura.
• Materiais inadequados: aderência da peça cerâmica ao substrato (base) insuficiente; presença excessiva de engobe (substância em pó, geralmente na cor branca, presente no verso da peça, que inibe a reação e fixação da argamassa na cerâmica); elevada expansão por umidade; argamassa colante com deficiências de dosagem; emprego excessivo de aditivo plastificante e de incorporador de ar; tempo em aberto reduzido etc.
“Fomos acionados para averiguar a reclamação do cliente. Na visita técnica, foi constatado que algumas peças apresentaram som ‘oco’ em razão de uma aplicação irregular. Como as cerâmicas eram superiores a 30 x 30 cm, determina-se a aplicação da argamassa no contrapiso e no tardoz da peças, o que não foi feito”, relata Lucas Harb, coordenador de vendas da Votorantim Cimentos.
Harb complementa explicando que a dupla colagem é exigida pela norma técnica NBR 13.753, pois as placas de dimensões maiores ou iguais a 30 x 30 necessitam de maior quantidade de argamassa colante. Nesse caso, foi orientada uma nova execução. Em outras situações, recomenda-se criar juntas de dilatação ou reassentar apenas os trechos em que ocorreram os desplacamentos.
Para obter êxito no projeto é necessário utilizar um produto cerâmico que tenha baixa absorção de água e resistência ao desgaste por abrasão, atrito, manchas e produtos químicos. As argamassas de assentamento e de rejuntamento também devem apresentar desempenho adequado a essas situações.
Na aplicação, é fundamental observar as condições do contrapiso, fazer a mistura da argamassa colante de acordo com o tempo de descanso e de trabalhabilidade, utilizar as ferramentas corretas, alinhar e nivelar as peças de cerâmica. Também é importante criar juntas de dilatação (em pisos muito extensos) e aguardar 48 a 72 horas para executar o rejuntamento, de modo a penetrá-lo nas juntas de assentamento.
Indica-se o uso da AC I ou AC II para corpos cerâmicos mais porosos, ou seja, quanto menor for a absorção de água da cerâmica, mais a argamassa deve incorporar aditivos adesivos. Já em aplicações que abrangem panos muitos extensos, sujeitos a tráfego intenso de pessoas ou a cargas pesadas, pode-se utilizar a AC III.